O dirigente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), António Oscar Barbosa (Cancan), alertou os militantes, dirigentes e simpatizantes daquela formação política que a “obstinação presidencial doentia do líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, é uma das causas da fragilidade política em que se encontra o partido”.
Cancan, como é carinhosamente chamado pelos seus próximos, membro do
Bureau Político e antigo Secretário para a Informação, Comunicação e
Documentação do partido, fez esta chamada de atenção em carta de nove páginas
datada de 01 de Abril de 2021, que terá dirigido ao presidente do Conselho
Nacional da Jurisdição e Fiscalização (CNJF) do PAIGC, Francisco Benante, a que
a redação do Jornal O Democrata teve acesso.
Na carta, António Oscar Barbosa fez várias críticas à atual liderança do
Domingos Simões Pereira, afirmando que a agenda e ambição presidencial do
líder do PAIGC é incompatível e contrária aos interesses do partido. Acrescenta
que depois das eleições presidenciais, o partido devia voltar a focar-se no seu
objetivo estatutário e programático, a governação.
“Em primeiro lugar quero testemunhar ao CNJF todo o meu desagrado e profunda
tristeza pelo facto de registar com bastante mágoa, o total silêncio e desprezo
de que fui alvo, sendo membro do Bureau Político reeleito pelo IX Congresso do
PAIGC e do seu Secretariado Nacional, enquanto Secretário para a Comunicação,
Informação e Documentação, reeleito pelo Comité Central do Partido e alvo de
uma campanha insidiosa (calúnias, insultos e ameaças) vindas de quase todos os
quadrantes de gente ligada, de uma maneira ou outra, à vida do Partido e alguns
até usufruindo de amizades pessoais no seio das mais altas figuras do PAIGC”,
lê-se na carta.
Cancan diz que os estatutos recomendam que o presidente do partido é candidato
ao cargo do Primeiro-ministro, pelo que ao candidatar-se à Presidência da
República [sem renunciar ao cargo do presidente do partido] e depois recusar
aceitar o veredicto das urnas, arrastou o partido para um conflito que lhes
custou a governação, confirmando assim, que “o interesse e a agenda do
presidente é contrária aos interesses do partido. Se não fosse esse conflito de
interesses, hoje o PAIGC seria governo”.
O dirigente dos libertadores lamentou, na sua missiva, que passou de “bom militante a traidor” por ser “amigo” do atual Presidente da República e por ter servido de intermediário a pedido deste, na sua tentativa de convidar o PAIGC a integrar o atual elenco governativo.Contudo, frisou que é condenado pelo dirigente do seu partido por ter viajado com o Chefe de Estado guineense, Úmaro Sissoco Embaló, para o exterior do país.
Recordou na sua carta que nunca escondeu ou nem sequer chegou a escamotear a verdade sobre o seu contacto com o Presidente da República, ou seja, não faz uma relação as escondidas com o Chefe de Estado, já que entra e sai do Palácio da República em pleno dia e perante os olhares de todos, porque “esses encontros serviriam para ajudar a criar um clima de entendimento e a possibilidade do partido encontrar as melhores vias e estratégias para poder contornar os imensos obstáculos que tem pela frente e que só na base de um diálogo sério e não egoísta ou prepotente seria possível, nas circunstâncias atuais encontrar uma solução realista e digna”.
O antigo secretário para a Informação e Comunicação do PAIGC disse que Domingos Simões Pereira não reuniu as condições para estabelecer um diálogo com os partidos políticos com representação parlamentar que lhe permita encontrar uma solução governativa e recusou-se demitir-se para permitir que o partido buscasse uma alternativa, porque segundo a sua explanação, Simões Pereira, “quer continuar a instrumentalizar o partido para o seu projeto presidencial, fato que se evidencia pelas suas últimas declarações, quando defende de forma inconsequente e desgastante que o atual Presidente da República ainda não foi legalmente empossado, remando assim de forma desnecessária contra a corrente, na medida em que este já exerce de facto e de jure seu mandato e tem o reconhecimento da CEDEAO, da CPLP, da União Africana, da União Europeia e das Nações Unidas”.
Acusou também o líder do partido
libertador de nomear “novo” responsável de comunicação do partido à margem dos
estatutos e de fazer uma gestão danosa do partido e dos seus interesses.
Cancan considera a gestão financeira do partido um tabu porque nenhum dirigente
tem conhecimento do paradeiro dos avultados apoios (financeiros e materiais que
o partido recebeu ou tem recebido dos seus amigos e parceiros) e diz haver
provas que indiciam muito claramente perigosas violações aos artigos 140⁰ e
141⁰ dos Estatutos do PAIGC.
“Sou militante e dirigente do PAIGC que sempre deu a cara pelo partido e
pela defesa dos superiores interesses do PAIGC e por isso mesmo, reafirmo
perante os dirigentes, militantes e simpatizantes que o meu compromisso é com o
PAIGC, o meu partido de sempre. Este compromisso de décadas de fiel militância
só vai terminar se expulso pela atual direção” referiu, para de seguida
assegurar que a expulsão é uma prática e estratégica corrente da atual
equipa dirigente como “condição sine qua non para se manter no poder e tentar
assim, ilusoriamente, tapar o céu com as mãos”.
Oscar Barbosa, advertiu o CNJF na sua carta que o PAIGC vive hoje um período de
grande desmotivação, consequência direta dos diferentes insucessos que tem
sofrido [nos tribunais, nas eleições, como causas principais] de Cacheu a esta
parte. Criticou ainda que o partido passou de 67 para menos de 40 deputados
nestes últimos anos, como também denunciou a falta do pagamento regular dos
salários e muito menos meios para permitir o normal funcionamento das
estruturas com a agravante de haver dividas por pagar a terceiros.
“No meu modesto entender e pela experiência que acumulei nestas largas décadas dedicadas ao PAIGC posso afirmar sem receio que em relação à situação interna que se vive hoje no seu seio do partido, a rutura interna deste grande partido está por fio. Aqui não se coloca um problema de ordem pessoal, mas sim institucional”, notou.
Afirmou que a referida situação interna levou um grupo de quadros, altos dirigentes do PAIGC e com destaque para figuras do Bureau Político e do Comité Central, a fazer circular uma petição para reclamar a urgente necessidade dos órgãos estatutários se reunirem para, de forma conjunta e responsável, encontrar as mais viáveis e sãs soluções que permitam ao PAIGC sair do seu atual atoleiro.
O político e dirigente dos libertadores assumiu que é um dos principais assinantes desta petição estatutária.
“Existe já no seio dos órgãos
estatutários do PAIGC um elevado número de militantes e dirigentes que
discordam com a forma como o Eng. Domingos Simões Pereira está a comandar o
partido, somando derrotas e derrotas nas batalhas eleitorais e temem pelo colapso
do nosso grande partido nas próximas eleições”, contou.
Óscar Barbosa, chamou a atenção do Conselho Nacional de Jurisdição e
Fiscalização para solicitar ao Secretariado Nacional e serviços de
administração e finanças do partido, os extratos bancários das contas do PAIGC
nos bancos comerciais, onde se podem constatar as entradas e as saídas dos
recursos financeiros do Partido. Acrescentou ainda que seja igualmente
solicitado a lista dos bens materiais entrados no PAIGC.
“De igual modo e para facilitar o trabalho do CNJF solicitar informações ao
Presidente do PAIGC sobe os recursos financeiros provindos dos apoios do
Angola/MPLA, do Togo, Benin, Mali, Costa do Marfim (chegaram ao país em voos
especiais), de uma organização marroquina (recebida e entregue em mãos
diretamente ao Presidente do PAIGC) e dos que recebeu via seu primo canalizados
pelo ex-PM para o Presidente do PAIGC. Solicitar às Direcções-Gerais das
Alfândegas e o da Viação e Transportes a lista de todos os materiais do PAIGC
(viaturas, principalmente) que entraram no país entre
Assana Sambú | O Democrata (gb)
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