sábado, 15 de maio de 2021

Em vez de jornalistas, porque não procurarem escribas?

Engano? Engano de um jornalista da Lusa, causa celeuma e destapa o que o “Livro de Estilo da Lusa” pode ter que ver com a auto-censura que os jornalistas são obrigados a engolir elefantes para ali trabalharem e garantirem o mau ordenado ao final do mês. E como na Lusa, assim poderá ser noutros órgãos de comunicação social. Ou é isso ou é o quê?

A notícia sobre o acontecimento corre fecunda mais em baixo. Os lamentos e justificações daquela agência de notícias também. Nada que não se saiba mas que desta vez podemos testemunhar. Claro que a Lusa, em países da lusofonia, aparenta ter todo o respeito e contenção por uma via diplomática, haja ou não haja incidentes de barbaridades e outras irregularidades. Jornalistas que pisem o “risco” podem ser admoestados, mas: isso não é apelo (obrigatoriedade) ao exercício de auto-censura?

À vista ficou o choque e pavor a reportar prováveis verdades do conhecimento jornalístico mas “abafado” pelo “estilo” da Lusa e de outros da mesma atividade corporativa. Foi isso? A Lusa diz que foi uma “nota pessoal” que erradamente foi publicada. Terá sido… Mas o que é que aos que devem ser informados escondem na generalidade da atividade. Não só na Lusa mas em toda a comunicação social. Afinal, ao que parece, a nossa comunicação social precisa de escribas e não de jornalistas. Ponderem. Ainda há poucos dias a comemoração da Liberdade de Imprensa / Expressão foi assinalada. Falta saber com que legitimidade ou faz-de-conta…

A notícia corre em baixo - contenção à vista.

MM | PG

Jornalista da Lusa diz que erro em notícia era "nota pessoal"

O Conselho de Redação (CR) da Lusa condenou hoje os "termos usados" numa notícia de quinta-feira, em que a deputada Romualda Fernandes (PS) é identificada com uma referência racista, considerando "inaceitável" que a mesma tenha sido publicada.

"O Conselho de Redação condena os termos usados na notícia e considera inaceitável que a mesma tenha sido escrita e publicada assim", pode ler-se no comunicado hoje divulgado, considerando que a mesma, "como saiu, pode colocar em causa a imagem e o prestígio da Lusa".

O CR "entende que a notícia em causa -- um caso mais do que isolado -- não pode em qualquer circunstância colocar em causa a imparcialidade e isenção da Lusa, rigor e credibilidade da informação produzida pela agência e os seus jornalistas".

"O Conselho de Redação lamenta e condena o sucedido e junta-se à DI [Direção de Informação] nos pedidos de desculpas já tornados públicos", pode ler-se no texto.

O órgão lembra ainda que "o Livro de Estilo da Lusa é bem claro quanto ao não uso de palavras com carga política ou ideológica, de termos pejorativos ou elogiosos que marquem posições de repudio ou de preferência, assim como de expressões grosseiras, insultos, expressões preconceituosas, xenófobas ou racistas".

Na reunião de hoje do CR, que contou com a presença da Direção de Informação da Lusa, o jornalista que redigiu a notícia assumiu o erro, dizendo que a referência à deputada do PS "não foi a mais feliz" e "era uma nota pessoal, que não tinha que ter saído" na linha da Lusa, de acordo com o comunicado do órgão.

"Segundo relatou ao CR, na cerimónia [de tomada de posse da comissão de revisão constitucional que originou a notícia], quando o Presidente da Assembleia da República chamou os deputados, o jornalista tomou nota dos nomes. Em relação ao nome da deputada em causa percebeu apenas 'R. Fernandes'. Quando ouviu a gravação conseguiu perceber que se tratava de Romualda Fernandes", pode ler-se no comunicado hoje divulgado.

De acordo com o comunicado do CR, o jornalista negou ser racista e disse ainda ter enviado de imediato uma mensagem à líder parlamentar do PS, Ana Catarina Mendes, com um pedido de desculpas, mal percebeu o sucedido.

O redator disse também já ter falado com a deputada visada, Romualda Fernandes, "a quem quer também pedir desculpas", segundo o comunicado do CR.

A Direção de Informação da Lusa divulgou uma nota aos clientes ao início da madrugada de hoje afirmando que "lamenta profundamente" a difusão desta notícia, na quinta-feira, em que a deputada do PS Romualda Fernandes foi identificada "de modo inaceitável, contra todas as regras éticas e profissionais constantes do Código Deontológico dos Jornalistas e do Livro de Estilo da Lusa".

Nessa nota, acrescentava-se que a Direção de Informação iria "proceder a uma investigação sobre o que aconteceu" e apresentava "as suas desculpas à deputada, ao Partido Socialista" e a "todos os clientes e leitores" da agência.

Hoje, a Direção de Informação informou que aceitou o pedido de demissão do editor de Política e que, "tendo em vista o dano moral e reputacional provocado na imagem da agência, instaurou um processo de averiguações" ao jornalista que redigiu a notícia, para "averiguar as circunstâncias" em que foi elaborada.

A Comissão de Trabalhadores da Lusa divulgou também um comunicado em que "condena profundamente o ato de discriminação e a sucessão de erros que culminou numa identificação indigna e inaceitável da deputada Romualda Fernandes, numa notícia da Lusa, que atenta contra todos os valores defendidos pela agência e seus trabalhadores".

Notícias ao Minuto | Lusa | Imagem: © Getty Images

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"A Lusa não é isto". Jornalistas repudiam "insulto" à deputada Romualda

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