A visita de Marcelo Rebelo de Sousa à Guiné-Bissau, a primeira de um chefe de Estado português em mais de 30 anos, não está a ser pacífica.
O Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), maior partido da oposição do país, entregou uma carta aberta, dirigida ao Presidente da República português, a contestar a visita oficial de Marcelo Rebelo de Sousa.
O PAIGC considera que a visita do Presidente português à Guiné serve apenas o propósito de branquear a ação do Governo de Bissau desde que chegou ao poder.
Em declarações à TSF, Odete Semedo, vice-presidente do PAIGC, questionou o motivo da visita do chefe de Estado português ao país.
"Marcelo Rebelo de Sousa deveria pensar um pouco nos países de língua portuguesa, especialmente a Guiné-Bissau, porque não vem cá há anos. Este é o segundo mandato dele. Vem agora porquê?", interrogou.
"Nós não estamos a dizer que Portugal é culpado [pela atual situaçã na Guiné-Bissau], não. Mas estamos a protestar contra um indivíduo que é um académico, que é um constitucionalista, que conhece as leis, que deve conhecer as políticas dos países africanos de língua portuguesa e que deveria, pelo menos, não branquear aquilo que está a acontecer hoje na Guiné-Bissau", contesta.
Odete Semedo afirma que a visita de Estado portuguesa só pode ser justificada pelo desconhecimento sobre o que, de facto, se passa na Guiné-Bissau.
"Nós entendemos que quem vem neste momento, em que há pessoas a serem espancadas, há pessoas a serem presas sem nenhuma culpa formada, em que homens fardados e armados violam e destroem equipamentos e instalações dos meios de comunicação social, em que se reprime as manifestações e, de repente, se esqueceu da Covid-19" é porque não conhece o que se passa, atira Odete Semedo.
A vice-presidente do PAIGC acrescenta que o partido não obteve ainda qualquer resposta da Presidência Portuguesa à carta que lhe foi dirigida.
Em forma de protesto, os deputados do PAIGC, vencedor das últimas eleições legislativas de 2019, mas atualmente relegado para oposição, não vão estar no encontro entre Marcelo Rebelo de Sousa e as bancadas parlamentares guineenses, esta terça-feira.
O chefe de Estado português reúne-se com o presidente do parlamento, Cipriano Cassamá, e com os líderes das bancadas parlamentares de alguns partidos, nomeadamente Movimento para a Alternância Democrática (Madem-G15), Partido da Renovação Social (PRS) e Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB).
No segundo e último dia da sua visita oficial à Guiné-Bissau, o chefe de Estado português estará ainda na Fortaleza Amura, também Estado-Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau, onde depositará coroas de flores nos túmulos de Amílcar Cabral e João Bernardo "Nino" Vieira, em homenagem aos heróis da luta da independência.
A seguir, desloca-se às novas instalações da RTP/África, em Bissau, seguindo depois para a Presidência guineense para um encontro com o seu homólogo, Umaro Sissoco Embaló. O encontro é seguido de declarações conjuntas à imprensa e de um almoço.
Após o encontro com o chefe de Estado guineense, o Presidente português presta homenagem aos antigos combatentes portugueses da guerra colonial sepultados no cemitério de Bissau.
Na segunda-feira, o presidente da associação de deficientes de guerra, formada por guineenses que serviram o exército português, disse à Lusa que pretende apresentar a Marcelo Rebelo de Sousa um caderno reivindicativo, que exige, entre vários pontos, a devolução da nacionalidade portuguesa aos ex-militares guineenses.
A visita termina com um encontro com o primeiro-ministro guineense, Nuno Gomes Nabiam, no Palácio do Governo, em Bissau.
Marcelo Rebelo de Sousa chegou segunda-feira a Bissau onde foi recebido por milhares de pessoas que o saudaram durante o percurso de oito quilómetros, entre o aeroporto internacional Osvaldo Vieira e o centro da capital guineense.
TSF com Lusa | Imagens: José Sena Goulão/Lusa
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