Oposição tem oportunidade de ouro para afastar o primeiro-ministro do poder, mas isso é a única coisa que une a "coligação de mudança". Prazo termina amanhã às 23.59.
líder do Yesh Atid (centro), Yair Lapid, disse ontem que ainda há "muitos obstáculos" para a formação de uma "coligação de mudança" em Israel, depois de no domingo o líder do Yamina (direita radical), Naftali Bennett, ter dito que estava disponível para formar um "governo de união nacional" com vários partidos. Serão os obstáculos inultrapassáveis ou apenas grãos de areia na engrenagem que ditará a saída de Benjamin Netanyahu do poder em Israel? O prazo termina amanhã.
"É o nosso primeiro teste, ver se conseguimos encontrar compromissos inteligentes nos próximos dias para alcançar um objetivo maior", afirmou Lapid, após um encontro com membros do partido, falando na aproximação de uma "nova era" em Israel. "De repente as coisas ficarão mais tranquilas, os ministros vão trabalhar sem incitar, sem mentir, sem tentar instilar medo o tempo todo", indicou o líder do Yesh Atid. De acordo com o jornal Haaretz, é o mais próximo que a oposição está desde 2009 de conseguir afastar Netanyahu.
O primeiro-ministro, de 71 anos, está no poder há 12, tendo antes tido um primeiro mandato entre 1996 e 1999. É o chefe de Estado israelita que mais tempo passou no cargo, mas parece ter os dias contados à frente dos destinos de Israel, procurando a sobrevivência política numa altura em que também é julgado por corrupção. Após ser conhecido o apoio de Bennett a Lapid, Netanyahu avisou que essa aliança representa "um perigo para a segurança e o futuro de Israel" e denunciou a "fraude do século", já que o líder do Yamina tinha dito que nunca apoiaria o do Yesh Atid.
Uma questão de números
Mas para ter maioria no Parlamento (61 deputados) e conseguir formar governo, não basta os votos dos partidos de Lapid (17 deputados) e Bennett (elegeu sete, mas um deles não irá votar a favor). É preciso toda a oposição anti-Netanyahu - incluindo a Lista Árabe Unida (Ra"am), de Mansour Abbas, que elegeu quatro deputados.
Até domingo, Lapid contava com 51 apoios, incluindo o resto do centro, representado na aliança Azul e Branca de Benny Gantz (8 deputados) e a esquerda do Labor (7 deputados) e do Meretz (6 deputados). Mas também a direita, de antigos aliados de Netanyahu, como o Yisrael Beitenu de Avigdor Lieberman (7 deputados) e o Nova Esperança de Gideon Sa"ar (6 deputados). Junto com os seis de Bennett fará 57. Ontem, o Ra"am terá exigido um cargo de vice-ministro do Interior para apoiar a aliança, sendo que Ayelet Shaked, o deputado do Yamina que deverá ficar com esse ministério, é contra essa possibilidade.
Segundo os jornais israelitas, os obstáculos das últimas horas prendem-se precisamente com a distribuição das pastas ministeriais. Gantz, por exemplo, não quer abdicar da pasta da Agricultura para Lieberman, alegando que já está a abdicar de muita coisa - segundo o acordo de governo que assinou com Netanyahu em 2020, deveria assumir o poder em novembro deste ano. E não quer ficar só com um ministro no gabinete de segurança (o núcleo duro do executivo), quando os outros partidos têm dois. Também haverá disputas entre o próprio Yesh Atid e o partido de Sa"ar, sobre o cargo de líder do Knesset e o de ministro para as Comunicações.
O acordo com o Yamina implicará que o próprio Bennett assuma a chefia do governo na primeira metade do mandato, com Lapid a assumir o poder na segunda metade. Mas para o Ra"am, o partido árabe, isso poderá não ser possível, já que o Yamina defende a anexação de dois terços da Cisjordânia. O apoio do partido árabe poderá também ser complicado depois do conflito entre Israel e o Hamas, que culminou num cessar-fogo após a morte de 254 palestinianos e 12 israelitas. O conflito quase deixou por terra as negociações do acordo de governo, tendo havido quem alegasse que Netanyahu teria feito de propósito para levar à escalada de violência e conseguir frustrar as tentativas de o afastar do poder.
Todos contra Netanyahu
Na prática, o desejo de afastar o primeiro-ministro parece ser mesmo a única coisa que une os partidos por detrás da aliança. "É minha intenção fazer o máximo para formar um governo de união nacional junto com o meu amigo Yair Lapid, para que, se Deus quiser, juntos possamos salvar o país de uma queda livre e voltar a pôr Israel no seu caminho", tinha dito Bennett no domingo, após reunir com os outros deputados do Yamina.
Numa tentativa de conseguir manter o poder, Netanyahu apelou aos membros do próprio Yamina e também aos do Nova Esperança de Sa"ar para não apoiarem a aliança - qualquer voto pode contar. "Não formem um governo de esquerda, isso seria um perigo para a segurança e o futuro de Israel", disse o primeiro-ministro no domingo, alertando para um gabinete de segurança enfraquecido. "Que impacto isso terá na capacidade de dissuasão de Israel? Como é que vamos parecer aos nossos inimigos? O que é que eles dirão no Irão e em Gaza?", referiu.
Ainda no domingo, antes de Bennett confirmar o seu apoio a Lapid, Netanyahu propôs-lhe e a Sa"ar um acordo a três, que os veria assumir a chefia do governo primeiro, antes do próprio líder do Likud. Tal pacto, junto com outros aliados tradicionais de Netanyahu, permitiria um acordo de governo, mas Sa"ar está convencido na ideia de afastar o primeiro-ministro.
Susana Salvador | Diário de Notícias
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