Jornal de Angola | opinião
Os larápios de “colarinho branco”, cada vez em maior número, por mais que os desapertem, continuam a sentir-se sufocados, porventura como jamais sonharam, mesmo nos piores pesadelos, face ao cerco que lhes é feito.
Muitas das nossas mães, quando
nos surpreendiam escondidos, com medo, por termos feito qualquer traquinice,
soltavam o adágio " muito medo, pouca vergonha”, aviso de que o que se
seguia não era, em princípio, nada de bom. Dos castigos que nos esperavam os menos
maus eram puxões de orelhas, uns tabefes, que logo passavam e permitiam, de
imediato, liberdade para nossas aventuras. Eram uma espécie de cartão amarelo.
Pior era sermos proibidos de sair de casa e ouvir risos e gritos de alegria,
com tantas causas, de nossos amigos. Por exemplo, pela marcação ou defesa de um
golo em trumuno de "vira aos cinco, termina aos
Quantos de nós, meninos daquele tempo, não nos recordamos da frase das nossas
mães, perante os crimes da gatunagem do "colarinho branco” e coração
sebento, cujos autores tentam, agora, esconder-se, deixando uns, de aparecer em
público, outros, mais afoitos, misturando-se entre a multidão, substituindo as
fatiotas por roupas mais simples, guardando parte dos produtos do roubos em
malas, sacos, contentores. Afinal, também "têm muito medo, mas pouca
vergonha”.
Alguns dos bandoleiros de "colarinho branco” andam por aí, a tentar passar entre as teias da justiça, beneficiando do princípio de que "vale mais um criminoso à solta do que um inocente preso”.O estranho é que, entre aqueles malfeitores - espalhados, pelo país inteiro, por todos os sectores da sociedade - haja quem, mesmo após saber-se que a guerra contra o crime de "colarinho branco” estava aberta, tente escapulir-se e prossiga a acção que fez milionários sem nunca terem "vergado a mola”…
As somas incontáveis de euros e dólares escondidas em malas, sacos, tudo que era sítio - cujo destino era, certamente, o estrangeiro - apreendidas pelas autoridades responsáveis por este tipo de crimes apenas não surpreendem o angolano comum, porque há muito ele deixou de se espantar com o que lhe sucede no que toca à intrujice e vigarice. O que ele se interroga, porventura, é "se agora é o que se sabe, o que terá sido antes” de ter começado esta guerra aberta contra os trapaceiros de "alta envergadura”, quando formavam elites intocáveis.
O que se pergunta agora é por quais motivos continuam a ter dinheiro, inclusive kwanzas, fora de circulação. Na esperança das coisas mudarem a favor deles e poderem voltar a servir-se, a bel-prazer, de dinheiro alheio? Ou trata-se de tentar enfraquecer, ainda mais, o erário, causar convulsões sociais, aumentar o desemprego, a fome?
De uma forma ou de outra, quem esconde fortunas - em moeda estrangeira ou nacional - fá-lo por razões escusas. São toupeiras, atentam contra a normalização do país, alguns deles, não poucos, servindo-se dos cargos que lhes foram confiados na base de hipotética competência e lealdade...Os guardadores de dinheiros escusos, os trapaceiros de "colarinho branco”, já sentem falta de ar, mas ainda respiram e movimentam-se.
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