Paulo Rego* | Plataforma | opinião
A Administração Biden assume a estratégia de bipolarização das relações internacionais: de um lado santifica o bloco “democrático”, que Washington pretende conduzir; do outro demoniza o bloco “autocrático”, cuja liderança atribui à China.
A conduta de Biden, quando
chefiou as relações externas de Obama, anunciava esta
postura; a sua recente visita à Europa clarificou
o desejo de uma aliança que isole a Rússia e a
China… e as recentes declarações da diplomacia norte-americana
A tese de desinvestimento mostra que o Ocidente prepara o fim de um longo ciclo de deslocalização da produção, durante o qual explorou o baixo custo laboral e a fragilidade dos direitos sociais e políticos nos mercados emergentes.
A demonização da China encerra uma contradição estratégica: dá a Pequim dimensão de um inimigo temível, ao mesmo tempo convidando Pequim a liderar o contra-bloco, incluindo potências como a Rússia ou o Irão.Cai por terra o multiculturalismo, bandeira tradicional do Partido Democrata, que durante décadas acusou os republicanos de serem divisionistas e belicistas, beneficiando os grandes oligopólios da industria militar.
Washington arrisca ainda erguer “um muro” a meio da Europa. A Alemanha, há muito virada a Leste, torce o nariz a um conflito aberto com a China. Até porque percebe que isso atira os novos nacionalismos de Leste para os braços de Moscovo.
Seria ingénuo pensar que Biden simplesmente está a cometer um erro; que não percebe os perigos que lança; ou que não tem estratégia… Contudo, para além do ego da superpotência e do domínio económico, não se percebe bem qual seja. Para a história da carochinha, que é preciso salvar o mundo dos “maus”, já não temos idade.
*Diretor-Geral do Plataforma
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