Paula Ferreira* | Jornal de Notícias | opinião
Não deveremos esquecer nunca a imagem de Joe Berardo a rir-se no Parlamento, quando ouvido no âmbito da comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos.
Quem o viu naquele dia assim, por certo, terá sentido que o comendador estava a rir de todos nós. Ontem, conhecidas as operações de buscas judiciais, pudemos pensar que afinal Berardo não teria tantas razões para gargalhar na cara dos portugueses. Foi detido por suspeita de administração danosa, burla qualificada, fraude fiscal e branqueamento.
O mesmo Berardo, no Parlamento, havido dito, sem corar: "Eu, pessoalmente, não tenho dívidas". As suas empresas, um subterfúgio usado por muitos que separam o eu do empresário, terão provocado prejuízos avultadíssimos à CGD, Novo Banco e BCP: quase mil milhões de euros.
Joe Berardo , o cidadão, com a ajuda de um advogado, agora também detido, terá feito um truque que passava por recorrer a mecanismos de renegociação e reestruturação da dívida para não a pagar. Os crimes terão ocorrido entre 2006 e 2009, e só agora chegam a tribunal: o que terá proporcionado alento a Berardo para dizer, sem hesitar, não dever nada a ninguém. Neste como noutros crimes, o tempo está a favor do infrator.
E o tempo dirá se o tempo não continuará a seu favor. Como ontem os magistrados do Ministério Público fizeram questão de assinalar, numa declaração pouco habitual, "não obstante o empenho e investimento do DCIAP e da Procuradoria-Geral da República (PGR), (...) não se logrou assumir a celeridade desejável, apenas por carência de meios técnicos".
Logo o tempo está a correr em favor do empresário e colecionador de arte e, não tenhamos ilusões, de muitos outros que durante anos tiveram a si colado o rótulo de milionários, graças a créditos bancários que nunca tencionaram amortizar. Berardo é apenas mais um. Talvez se note mais, por ter total falta de vergonha.
*Editora-executiva-adjunta
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