Moçambique | Abate de árvores e poluição preocupam ambientalistas em Tete
Abate indiscriminado de árvores sem o devido reflorestamento e poluição devido à exploração do carvão mineral podem colocar Moçambique em situação de vulnerabilidade extrema aos desastres naturais, alertam especialistas.
Entre 2017 e 2021, Moçambique foi assolado por cerca de seis ciclones, com maior destaque para o Idai, que teve o seu epicentro na cidade da Beira, na província de Sofala, região central do país.
Segundo cientistas, por trás das catástrofes naturais que estão a ocorrer pelo mundo estão as mudanças climáticas. Em Moçambique, ambientalistas também buscam entender por que é que o país tem sido tão castigado por estes fenómenos naturais.
Simão Sebastião, da Associação de Apoio e Assistência Jurídica as Comunidades (AAAJC), lamenta a paralisia dos órgãos de fiscalização ante aos diversos danos ambientais em Moçambique, como o abate de árvores e a destruição dos mangais.
O ativista aponta ainda a atuação das mineradoras na província de Tete, que extraem carvão em minas abertas, como sendo uma atividade que deveria merecer rigorosa fiscalização dos órgãos competentes.
"A indústria extrativa, assim como o abate indiscriminado das árvores, acaba de certa forma criando uma espécie de desertificação, estamos a esgotar a vegetação", considera Sebastião.
Segundo o ativista, "não vai ser possível nas zonas em que de facto há esses desmandos garantir a produção do oxigénio". Para Sebastião, é necessária uma reflexão profunda sobre o desmatamento porque "as mudanças climáticas são uma realidade" e é necessário agir "para que o amanhã não seja ainda pior".
Benefícios às comunidades
Além dos danos ambientais, a exploração dos recursos não está a beneficiar as comunidades, lembra o ambientalista, acrescentando que "em muitos casos só temos comunidades frustradas". Sebastião considera que haja justificação para o descontentamento das pessoas: "É chato ver os seus recursos a saírem todos dias e os benefícios [dessa exploração] não serem canalizados para as comunidades", lamenta.
O ativista denuncia igualmente que há muitos obstáculos para que as comunidades possam legalizar os comités comunitários para poderem tirar ter os benefícios da exploração dos recursos naturais ao seu redor.
A DW África procurou ouvir a Agência Nacional para o Controle da Qualidade Ambiental (AQUA), entidade competente para se pronunciar o abate indiscriminado de árvores na província de Tete, mas esta recusou-se a dar explicações.
No entanto, o Presidente da Associação Provincial dos operadores florestais e recursos minerais na província de Tete, António Da Silva, defende que o Governo deva estar mais atento à situação do meio ambiente. "Gostaria que a madeira por exemplo tivesse um preço estipulado pelo Estado como o algodão, o tabaco e assim poderíamos respeitar as regras de proteção do meio ambiente", sugere António Da Silva.
Jovenaldo Ngovene (Tete) | Deutsche Welle
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