Sobreviventes clamam por mais ajuda para os populares das zonas rurais, que continuam a morrer devido à falta de alimentos e água. Grito de socorro foi lançado na Conferência sobre a Seca e a Insegurança Alimentar.
A seca e fome continuam a matar angolanos na região sul de Angola e muitos continuam a refugiar-se na vizinha República da Namíbia. Elvira Cohala, uma das representantes das comunidades afetadas pela seca no município do Curoca, província do Cunene, diz que a fome mata porque os apoios publicitados pelo Governo não chegam a todos.
"As pessoas sofrem, comem raízes e frutos silvestres. A maior parte das crianças, jovens e adultos refugia-se na Namíbia e está a abandonar os quimbos [aldeias]. Sempre que vamos ao município pedir apoios, não há respostas", conta. Perante a situação, decidiu ir a Luanda "assim que foi convidada" para a Conferência sobre a Seca e a Insegurança Alimentar no sul de Angola, a decorrer na capital angolana desde segunda-feira (23.08).
A seca afetou toda a província do Namibe, afirmou um líder comunitário que se identificou apenas por Manuel e que pediu à imprensa que apresente a realidade das zonas rurais afetadas pela crise alimentar. "O Namibe pede que pressionem mais com imagens das zonas rurais para confirmar a realidade, porque nem todos sabem como vivem as comunidades. Lá tem problemas graves", sublinhou, no encontro.
Sem poder local "é impossível" implementar soluções
As soluções apresentadas pelo Governo angolano para a minimizar os efeitos da seca são mais "políticas e técnicas" segundo o padre Pio Wacussanga, um dos participantes da conferência. "Falta vontade política. A cultura de diálogo, de articulação comunitária, de participação é essencial. Enquanto não tivermos poder local, é impossível as decisões serem cozinhadas em Luanda e serem implementadas no local. Isto é impossível. E o país tem dinheiro. O país está construir centralidades em Cabinda e outras cidades", considera.
O coordenador da organização não-governamental Omunga, João Malavindele, defende que o Executivo angolano deve apostar nas iniciativas comunitárias, em vez de "grandes projetos".
"A nível das próprias comunidades existem iniciativas em que se devia apostar. Em vez de pensarmos em projetos de longo prazo, pensar em iniciativas a curto prazo. Estamos a falar da fome hoje. As pessoas precisam de comer hoje. Se precisam de comer hoje, é preciso que se crie condições políticas a curto prazo no sentido que as pessoas possam produzir e, em simultâneo, beneficiarem-se daquilo que produzem", explica.
As preocupações das populações que convivem com a seca no sul do país foram apresentadas esta terça-feira aos grupos parlamentares dos partidos políticos.
Borralho Ndomba (Luanda) | Deutsche Welle
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