segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Assistência de Costa a Temido e um abraço ao Presidente...

Bom dia este é o seu Expresso Curto

A assistência de Costa a Temido, um abraço ao Presidente e um filme tragicamente repetido

Filipe Garcia | Expresso

Bom dia,

São poucos os estreantes que se fazem estrelas na primeira jogada. Primeiro é preciso conhecer o jogo, depois os companheiros, a seguir convém estudar os adversários e ainda se recomenda a aprendizagem de um ou dois truques, fintas capazes de tirar do caminho os mais insistentes. No currículo, a Marta Temido, ministra da saúde, não faltam jogadas capazes de fazer levantar estádios, silenciar adversários ou de convencer os mais céticos. Ainda assim, o que se viu este fim-de-semana no 23º congresso do PS foi jogada em terreno novo: no espaço de horas, Temido recebeu o cartão de militante e a benção do secretário-geral para lhe suceder. Um jogada que promete dar que falar, mais do que a liderança socialista admite querer.

No encerramento do congresso, António Costa gabou-se do partido unido, das vantagens que isso traz para a governação e do estatuto de “maior partido autárquico do país”. O primeiro-ministro ainda anunciou medidas a piscar o olho à esquerda – essencial para a aprovação do próximo Orçamento do Estado – antes de lançar a bicada aos muitos que sentem “irritação” por ver um PS unido e a funcionar. No ar ficou a dúvida até que ponto a união é real.

Na mesa mais visível do congresso, sentaram-se Fernando Medina, Ana Catarina Mendes e Mariana Vieira da Silva. E ainda Pedro Nuno Santos, o mais declarado dos candidatos ao lugar que Costa mais cedo ou mais tarde deixará vago, o único que não falou, o tal que chegou tarde deixando o primeiro-ministro na dúvida se tinha tido “um furo ou adormecido”. A essa provação, o ministro das infraestruturas e da habitação respondeu. “O secretário-geral é um brincalhão”, disse.

Não duvidando do sentido de humor do primeiro-ministro, fiquei na dúvida. A assistência para Temido - "Sim, pode ser sucessora, pode. Daqui a dois anos já tem tempo de militância suficiente para concorrer a líder do PS", disse ao Observador - pareceu assunto sério e nem a ministra vacilou na hora de receber a bola. "O futuro é uma coisa que é sempre ampla e nunca se sabe o que nos pode trazer", disse, quanto mais não fosse para lembrar que as melhores jogadas nem sempre se fazem na primeira montra.

Um abraço Presidente

Foi só sorte. Primeiro, a sorte de conhecer José Pedro Castanheira e de ter sido desafiado para ajudar na biografia de Jorge Sampaio. Depois, outra: a de ter passado largas horas a ouvir o Presidente contar a sua história, na prática, boa parte da história recente do país. Culto, educado como poucos, corajoso a assumir os próprios erros, elegante até na hora de falar dos adversários, um senhor que me conquistou sem sequer o ter tentado. Um entrevistado que já não o era, mas a quem nunca consegui chamar outra coisa que não Presidente. Internado desde sexta-feira, com um quadro clínico complicado mas estável, o Presidente trava agora uma dura batalha. Com tanta admiração como respeito, daqui segue um forte abraço.

Um filme repetido

Descubra as diferenças: “Os Estados Unidos vão caçar e castigar os responsáveis por estes atos cobardes” e “Vamos apanhar-vos e fazer-vos pagar”. Duas frases que dizem o mesmo, ambas proferidas por presidentes norte-americanos em funções, mas com vinte anos a separá-las. A primeira, de George W. Bush, logo após os ataques do 11 de Setembro, a segunda de Joe Biden, depois do ataque dos últimos dias ao aeroporto de Cabul. Em ambos os casos, pouco depois, explodiu o mesmo país, o Afeganistão. Um filme repetido? Sinal de que pouco se aprendeu ou de que agora o pior ainda está por vir? Os sinais são todos maus. As notícias trágicas. As fotos todas a dar a sensação de que já vimos tudo isto, uma e outra vez. Demasiadas vezes, mas não tantas como os desafortunados que tiveram o azar de nascer afegãos.

E os números da Pandemia

Este domingo, foram anunciados 1782 novos casos, dez mortes e mais 41 internados por covid-19 em Portugal, segundo os dados da Direção-Geral de Saúde. Mas esses são os números a que já nos habituámos. Os que ajudam a ver o fim à pandemia são outros: no sábado foram 76 mil os vacinados, no domingo outros 29 mil.

Frases

“O PS e o Governo não pecam no discurso, é sempre tudo fantástico, pecam é na acção.” -- Rui Rio, presidente do PSD

“O secretário-geral do PS puxou bem a brasa à sua sardinha, mas não teve uma palavra para o aumento dos salários.” -- Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP

“Tenho três alternativas para o meu futuro: estar preso, ser morto ou a vitória.” -- Jair Bolsonaro, Presidente do Brasil

O furacão Ida

Dezasseis anos depois do Katrina ter feito 1800 mortos no sul dos Estados Unidos, o furacão Ida chegou ontem a Nova Orleães. Numa escala de 1 a 5, a força é 4 contra o 5 a que chegou o Katrina, mas os ventos superiores a 200km/h e Joe Biden já se disse “preparado para o pior”, garantindo que assim que a tempestade passar colocará “toda a força do país no resgate e recuperação” dos afetados.

Bronze para Portugal

O mediatismo está longe do conseguido pelos outros Olímpicos, mas os feitos merecem tantos ou mais aplausos. Nos Paralímpicos de Tóquio, Miguel Monteiro ganhou a medalha de Bronze no lançamento do peso (F40), numa prova em que o recorde mundial que detinha foi batido por três vezes. Está ganha a primeira medalha para Portugal e entregue mais um título ao atleta de 20 anos, campeão europeu em título.

Registe ainda outro feito do desporto nacional. Gustavo Ribeiro, o nosso skater Olímpico, parece refeito da lesão que atrapalhou a prestação em Tóquio e acabou de vencer, pela primeira vez, uma etapa da liga mundial de skate.

Na nossa Tribuna, para o caso de lhe ter escapado um dos resultados, pode ficar a saber como o Sporting empatou, o Porto ganhou e como ontem, depois de estar a perder no Estádio da Luz, o Benfica conseguiu os três pontos que lhe valem a liderança isolada do campeonato. Além da qualificação para a Liga dos Campeões, no campeonato nacional a equipa de Jorge Jesus conta quatro vitórias em outros tantos jogos. Será por isso que da data das prometidas eleições nem se ouve falar?

O que ando a ouvir

Os últimos dias foram passados entre dois discos que dificilmente poderiam ser mais diferentes entre si. Dos King Gizzard & the Lizard Wizard, L.W, uma simpática dose de rock, tão psicadélico quanto bem tocado, de uma das bandas mais interessantes da atualidade. Dúvida? Este ano, depois do L.W., já lançaram Butterfly 3000, empatando com o número de discos editados em cada um dos dois anos anteriores, mas ainda longe dos quatro que mostraram em 2017. O desafio? Encontrar um mau ou escolher o preferido. Do outro lado, a companhia tem sido Alice Coltrane, falecida em 2007. Depois de anos a circular como bootleg, Kirtan: Turiya Sings surge agora em edição de pleno direito, uma coleção de cantos para ajudar a meditar ou, no meu caso, apenas para abrandar os batimentos cardíacos e lembrar de como foram injustos os que resistiram a ver Alice como música de pleno direito e bem mais do que apenas a 'mulher de John'.

O que vou ler

A contagem para o regresso à vida pré-covid é decrescente, mas sem data marcada para o seu fim. Avançam as vacinas, baixam os números da nossa desgraça, aligeiram-se as restrições, mas o melhor é ir aproveitando as abertas para saborear um pouco da normalidade que tantas saudades deixou. Foi o que fiz, visitando pela primeira vez desde que nos apresentaram o covid a Feira do Livro de Lisboa, o regresso de uma peregrinação anual que só no ano passado interrompi. É verdade que há máscaras, gel e sinalética digna de trânsito por todo o lado, mas a verdade é que os livros estão lá, a imperial fresca no final também e que voltei a gastar mais do que devia. Por tudo isto, desta vez, deixo-vos com a lista das compras, o que vou ler em vez do que ando a ler. No saco vieram três livros: a biografia de António Guterres, O Mundo não tem de ser assim, de Pedro Latoeiro e Filipe Domingues; as memórias de Enzo Ferrari, As minhas Alegrias Terríveis e um clássico, O Filho da Mãe de José Vilhena. Eu sei, livros com páginas e histórias suficientes para me entreter por bastante tempo. O problema? A feira dura até 12 de setembro e as saudades eram muitas.

Tenha um bom dia e não deixe de nos acompanhar em Expresso.

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