domingo, 22 de agosto de 2021

General Indjai "não é um foragido" e vive na Guiné-Bissau

O analista político guineense Rui Jorge Semedo afirmou hoje que o general António Indjai "não é um foragido" e considerou exagerado o anúncio dos Estados Unidos de dar cinco milhões de dólares pela sua captura.

"Estamos perante um ato que mais uma vez coloca em causa a imagem da Guiné-Bissau, mas, sobretudo, um exagero por parte dos Estados Unidos da América, porque a Guiné-Bissau independentemente de ser um país frágil, tem um Governo que os próprios Estados Unidos reconhecem e com quem tem estabelecido contactos", afirmou, aos jornalistas, o analista político.

Para Rui Jorge Semedo, os Estado Unidos devem colaborar com o Governo da Guiné-Bissau, salientando que "num primeiro momento" o assunto deveria ter sido tratado ao nível dos Estados ou dos governos e só se houvesse falta de colaboração se justificaria este tipo de posicionamento.

O Departamento de Estados dos EUA anunciou quinta-feira uma recompensa de cinco milhões de dólares por informações que levem à detenção ou condenação de António Indjai, antigo chefe das Forças Armadas da Guiné-Bissau.

O general António Indjai está desde maio de 2012, na sequência de um golpe de Estado ocorrido em abril do mesmo ano na Guiné-Bissau, sujeito a sanções impostas pelas Nações Unidas, que o impedem de viajar.

"O general António Indjai não é um foragido, vive na Guiné-Bissau, tem a sua vida na Guiné-Bissau e não vejo motivo para dramatizar a situação ao ponto de dar uma recompensa de cinco milhões de dólares pela sua cabeça", afirmou o analista político.

A Guiné-Bissau, prosseguiu, é "um país frágil" e os Estados Unidos, "ao lançarem esta isca, podem aprofundar as ruturas, incluindo nas estruturas militares".

Rui Jorge Semedo defendeu também que deve ser exigida mais informação aos EUA, porque António Indjai já está sob sanções da ONU que o impedem de sair do país e a sua eventual "captura vai exigir colaboração interna".

"Embora António Indjai seja um militar na reserva, ainda tem muita influência na estrutura militar e não é por acaso que esteve na tomada de posse dos atuais Presidente e primeiro-ministro", salientou.

Para Rui Jorge Semedo, este posicionamento das autoridades norte-americanas "visa contribuir para criar situações anormais de desconfiança e perseguições, não só dentro da estrutura militar, como no próprio Estado".

O analista político defendeu também um "posicionamento" do chefe de Estado da Guiné-Bissau e que seja divulgada mais informação sobre o assunto, nomeadamente se foi feito algum pedido de extradição.

"Pelo documento entende-se que eles estão a capturar um criminoso. Neste momento, ninguém está a confirmar ou negar o que os Estados Unidos estão a dizer", disse.

Segundo o comunicado divulgado na quinta-feira pelo porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, António Indjai "liderou uma organização criminosa que participou ativamente no tráfico de droga na Guiné-Bissau e na região durante muitos anos, mesmo enquanto chefiava as Forças Armadas guineenses".

"António Indjai era visto como uma das mais poderosas figuras desestabilizadoras da Guiné-Bissau, operando livremente em toda a África Ocidental, usando as receitas ilegais para corromper e desestabilizar outros governos estrangeiros e minar o Estado de Direito em toda a região", refere o comunicado.

RTP | Lusa

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