Miguel Guedes* | Jornal de Notícias | opinião
A insolvência da Groundforce, decretada pelos Juízos de Comércio do Tribunal da Comarca de Lisboa na sequência de um pedido da TAP, é o culminar de uma luta de meses entre a companhia aérea e a Pasogal de Alfredo Casimiro e injecta - directamente na empresa - um capital de esperança e dois administradores de insolvência.
A Groundforce há muito que deixou de ser uma empresa que presta serviços de apoio em terra a aeronaves, passageiros, bagagem, carga e correio. A Groundforce dedicou-se a ser uma empresa de "handling" de pressão, intolerável, sobre os seus 2400 trabalhadores. Uma empresa perita em "bullying" que utiliza os seus trabalhadores como plataforma de pressão. Nas últimas semanas, Alfredo Casimiro serviu-nos todos os tipos de golpes de teatro, golpeamentos baixos para quem vive todos os dias com o fantasma do incumprimento salarial e a porta dos fundos aberta para a progressão das carreiras.
Nos últimos 15 dias, assistimos a salários por pagar pela Groundforce, a vencimentos, subsídios de férias e anuidades pagas directamente pelo Estado aos trabalhadores e à antecipação de pagamento de facturas por serviços prestados (mas não vencidos) para regularizar salários do mês de Julho, à recusa da empresa de "handling" de aceitar transferências da TAP, à decisão do Juízo Central Cível de Lisboa que declarou improcedente a providência cautelar interposta pela Pasogal para impedir o Montepio de alienar a sua participação na Groundforce, a propostas rejeitadas por Alfredo Casimiro que o próprio anunciou como aceites em praça pública. É evidente que é necessário alterar a estrutura acionista da Groundforce. Há uma quebra total dos laços de confiança e de lealdade entre a TAP, através do Estado português, e a Pasogal de Alfredo Casimiro. E essa ruptura é uma ferida há demasiado tempo aberta.
Não há coincidências. A 10 de Maio, a assembleia-geral de accionistas da Groundforce deliberou a destituição do presidente executivo, Paulo Neto Leite, por justa causa decorrente de actos lesivos à empresa. Alfredo Casimiro assume, então, a presidência executiva. Nesse mesmo dia, porque não há coincidências, a TAP requereu a insolvência da Groundforce na qualidade de credora, justificando que o objetivo da acção passava por salvaguardar "a viabilidade e a sustentabilidade da mesma, assegurando a sua atividade operacional nos aeroportos portugueses". Recentemente, Paulo Neto Leite integrou o grupo que fez uma oferta de compra ao Montepio das acções que ainda detém na Groundforce, entre elogios ao comportamento do Estado português e ao ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos. Justificados, já agora. Desde a inconcebível e lesiva privatização da TAP de 2015 que é tempo de identificar e isolar agiotas.
*O autor escreve segundo a antiga ortografia
*Músico e jurista
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