Só um centro de vacinação foi entregue a um privado. Cortesia de Rui Moreira, com a anuência (pelo menos passiva) do governo. A multinacional suíça é dirigida em Portugal por Luís Menezes, ex-deputado pelo PSD.
Bruno Maia* | opinião
O Serviço Nacional de Saúde está
a completar a maior e mais exigente campanha de vacinação que alguma vez
aconteceu
Mas há uma pedra na engrenagem. Uma ilha isolada que ainda ninguém percebeu por que existe: um único centro de vacinação, em todo o país, que foi entregue a um privado. Cortesia de Rui Moreira, com a anuência (pelo menos passiva) do governo, claro.
No queimódromo do Porto, a Unilabs tem o seu centro de vacinação instalado. No mesmo local, onde há um ano, instalou um centro de testagem, também cortesia de Rui Moreira. Talvez não se lembrem, mas quando tudo começou a Unilabs fazia testes em massa naquele local e rapidamente se descobriu que dava preferência na fila a quem pagasse a centena de euros que cobravam por cada teste. Violava o princípio da equidade no acesso à saúde, a comunicação social descobriu, fim da história. Volta agora a ser notícia porque teve uma falha no sistema de refrigeração e terá injetado um milhar de pessoas com vacinas “estragadas”.
Volto a recordar: todo o país está coberto pelo SNS, à exceção deste local. E o mais grave caso de falha na qualidade técnica da campanha, regista-se precisamente aqui. Só um tolo pode achar que é coincidência! Mas afinal, quem é a Unilabs?
A Unilabs é uma multinacional
Suíça que lidera o mercado europeu de exames complementares de diagnóstico. Em
2006 adquiriu 85% do Centro de Medicina Laboratorial Dr. Carlos Torres. A
partir daí foi só crescer: comprou dezenas de pequenos laboratórios portugueses
e construiu um monopólio. É dirigida por Luís Menezes, deputado pelo PSD entre
2009 e 2014, filho de Luís Filipe Menezes, antigo líder do partido. Em 2019,
realizou 10,1 milhões de análises pagas pelo SNS. É hoje o maior laboratório de
análises em Portugal e aquele que cresce mais rapidamente. Já em
Porque existe esta exceção na campanha de vacinação? Porque teima Rui Moreira em a manter? Quem vai assumir a responsabilidade das mil vacinas “estragadas”? É caso para dizer: valha-nos o SNS, senão não eram mil, eram milhões!
*Bruno Maia - Médico neurologista, ativista pela legalização da cannabis e da morte assistida
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