quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Portugal | O franco-atirador e o negócio da TAP

Rafael Barbosa* | Jornal de Notícias | opinião

O líder da Ryanair é um franco-atirador. Mais do que uma questão de estilo, percebe-se que as frases cortantes de Michael Leary se transformaram numa imagem de marca que ajuda até a vender os bilhetes da companhia aérea de baixo custo.

É certo, também, que a empresa irlandesa tem telhados de vidro. O pior de todos, os cíclicos atropelos aos direitos dos seus trabalhadores.

Mas, independentemente das desconfianças que possamos ter (as já referidas ou outras), é alguém cuja opinião sobre a aviação tem peso. Que mais não fosse, porque é uma das mais importantes companhias aéreas a operar em Portugal (pela dimensão e porque, para o consumidor, o preço é quase tudo, e mais ainda num setor que já foi tão elitista).

Aliás, se Lisboa fosse retirada da equação, seria mesmo a mais importante companhia aérea do país. Basta ter atenção a alguns números que demonstram essa preponderância na economia do Porto e do Norte: opera em cinco aeroportos nacionais (incluindo dois nos Açores); vale 8533 empregos em Portugal (3399 dos quais no Porto); e tinha, em julho, 122 destinos a partir dos nossos aeroportos (55 no Porto).

Ninguém no seu perfeito juízo pode negar a importância que a Ryanair teve (e ainda tem) no desenvolvimento do Aeroporto Francisco Sá Carneiro e do turismo na cidade e na região (pelo pioneirismo e por ter mostrado o caminho a tantos outros). Como ninguém pode deixar de notar que, na outra face da moeda, está a TAP. Foi e continua a ser insuportável o desprezo da companhia pública pelos portugueses que vivem fora da capital. Há poucas grandes empresas que apliquem de forma tão evidente o lema centralista segundo o qual Portugal é Lisboa e o resto é paisagem.

Já é suficientemente mau para a TAP que a Ryanair demonstre, mesmo em tempos difícieis, que o negócio da aviação também está a Norte. Mas pode ser "perigoso" que ambicione mais. Que ambicione Lisboa. Como se vê pela denúncia de que a TAP ocupa faixas horárias (as "slots") para as quais não tem capacidade, com o único objetivo de travar a competição. É a narrativa de Leary? Será. E o modelo de negócio da TAP, qual é? O de pedir mais um subsídio de centenas de milhões ao erário público dentro de uns meses?

*Diretor-adjunto

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