Pedro Ivo Carvalho* | Jornal de Notícias | opinião
Uns prometem mais, outros prometem melhor. Há quem garanta o progresso na continuidade, há quem anteveja o futuro na rutura. E há, em doses excessivas, quem não se comprometa com rigorosamente nada, fazendo gáudio de slogans pomposos na forma, mas tão vazios de conteúdo como um livro sonoro para bebés de colo.
As primeiras eleições autárquicas em contexto de pandemia parecem as mesmas eleições autárquicas de sempre. As restrições poderão limitar as arruadas e os foguetórios, mas não suspenderam os métodos tradicionais de fazer chegar a mensagem ao chamado eleitorado local. As ruas de Portugal estão novamente inundadas de rostos maquilhados e compromissos fátuos. E o caráter excecional do momento que vivemos poderá favorecer mais do que habitualmente os recandidatos ao cargo.
Num ano atípico e num verão que, por ser tão desejado por todos, tenderá a estender-se mais por setembro do que o normal, o tempo para debate público será necessariamente encurtado. E a tolerância para guerrinhas intestinas praticamente nenhuma.
Não quer isto dizer, até pela amostra conhecida até à data, que as minudências partidárias não ganhem ascendente sobre os programas e as ideias, mas é imperioso que o país real, que não se esgota em Lisboa, no Porto e nas cercanias das duas mais populosas regiões do território, se discuta até 26 de setembro com elevação e sentido de utilidade. Nunca fugimos tanto do Interior como agora. Mas nunca fugimos tanto para o Interior como agora.
Pode parecer um chavão típico de um outdoor partidário plantado num jardim bem cuidado, mas não há nada de mais democrático do que podermos influenciar o desenvolvimento do concelho de onde somos naturais ou onde vivemos. A exigência para com quem nos representa tem de começar numa base local. Ninguém vota num cartaz.
*Diretor-adjunto
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