Aly Silva está em Portugal para tratamento depois de ter sido espancado alegadamente por motivos políticos. Jornalista diz que Liga Guineense dos Direitos Humanos trabalha para identificar responsáveis pela agressão.
O jornalista Aly Silva está convencido de que a violação dos direitos humanos e a obstrução do exercício democrático são evidentes na Guiné-Bissau.
Em março, o jornalista foi raptado, espancado e abandonado numa zona industrial de Bissau. Ativistas suspeitam que o crime teria ocorrido a mando do Presidente Umaro Sissoco Embaló. O chefe de Estado, entretanto, nega qualquer envolvimento no caso.
"Não há liberdade nenhuma. A Guiné-Bissau tem um Estado completamente policial", comenta o jornalista em entrevista à DW África, em Lisboa, garantindo que a Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) está a reunir provas para avançar com uma queixa-crime.
Aly Silva está na capital portuguesa para tratamento médico depois do incidente. O jornalista explica que, antes de deixar Bissau, ao ser reconhecido, as autoridades aeroportuárias retiveram o seu passaporte. O documento foi devolvido de seguida.
"Bom, para mim é como se fosse uma peça de teatro, porque proibiram muita gente de sair [do país] sem qualquer ordem judicial. E foi o que o diretor de Fronteiras do Aeroporto disse: 'Não tenho ordens para que o Aly não saia. Portanto, entra no avião e vai à tua vida'. E vim-me embora", disse.
"Estado policial e assustador"
Para Aly Silva, tem havido um foco excessivo do Governo no apetrechamento das forças de defesa e segurança. O Estado parece servir apenas para "pôr polícias e câmaras nas ruas sem autorização do Parlamento", avalia o jornalista.
"Ninguém sabe como é que os dados [privados] são tratados, se são enviados para países terceiros. Quer dizer, vivemos um Estado completamente policial e assustador."
Enquanto isso, "não há
hospitais
Quem está por trás do rapto?
Na altura em que foi raptado, desconhecia-se as circunstâncias que motivaram o crime. Na altura, Silva apontou o dedo ao Presidente Umaro Sissoco Embaló e, hoje, reitera a acusação.
Mantenho a acusação. Nós estamos a trabalhar para tentar identificar pelo menos uma pessoa e depois, então, acionar os mecanismos para que essa pessoa seja conduzida à justiça e talvez chamar as outras", explica.
Aly Silva confessa que resolveu não fazer queixa para não ser mais humilhado. Quem avançou com um processo judicial foi a LGDH: "O mais estranho é que, no dia em que a queixa foi formulada, eles tinham lá infiltrados na audição. Fiz referência a um hotel chinês que tinha câmaras que filmaram tudo. Dois dias depois, retiraram as câmaras e desapareceram com o gravador de dados. Portanto, isso só prova que foram eles", revela.
Aparentando tranquilidade, o jornalista diz que regressa esta semana a Bissau, mas deverá voltar a Portugal para continuar com os tratamentos. Silva receia que, à luz de vários episódios do género, possam começar a "aparecer cadáveres" nas ruas de Bissau.
"Sim, é mais uma metáfora para dizer às pessoas que a situação dos direitos humanos e da falta de democracia no país é por demais evidente. Só uma pessoa é que manda; uma pessoa é que impõe. Parece que o Parlamento não existe. Parece que os guineenses são só números. E estamos assim há mais de um ano", protesta.
Sem esperanças quanto ao futuro do país, Aly Silva avisa países como Portugal - que, segundo ele, estariam "a pactuar com este regime brutal e repressivo" - para terem cuidado, porque têm cidadãos na Guiné-Bissau.
João Carlos (Lisboa) | Deutsche Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário