Militares da Guiné-Bissau estão de prevenção depois do golpe de Estado no país vizinho, no domingo. Analistas temem que instabilidade em Conacri sirva para reforçar o controlo e criar um "clima de medo" na Guiné-Bissau.
O alerta foi lançado no domingo (05.09), quando se consumou o golpe de Estado na Guiné-Conacri. Teme-se que a instabilidade possa atravessar as fronteiras para a Guiné-Bissau. Os militares guineenses foram postos em prevenção por tempo indeterminado. Todos devem permanecer nos quartéis e qualquer saída tem de ser autorizada.
"Isso mostra o nível de insegurança e de apreensão com que as autoridades nacionais estão a encarar esta situação de golpe de Estado na vizinha República da Guiné-Conacri", diz o analista político Rui Jorge Semedo.
Não há ainda qualquer reação das autoridades guineenses sobre o golpe de Estado. Mas o jornalista Sabino Santos considera que há razões para preocupação porque, segundo ele, nos países africanos, quando um país recorre a um modelo, "quase que os outros vêm por arrastamento".
"O mais preocupante para mim são essas cópias que os países africanos acabam por fazer, quando uma estratégia, um modelo ou uma solução é escolhida para os problemas", explica Santos.
Segurança reforçada
A presença das forças de defesa e segurança da Guiné-Bissau foi reforçada nas ruas da capital no período da noite. Na segunda-feira (06.09), quatro militares que tinham sido detidos em agosto por alegada tentativa de golpe de Estado foram postos em liberdade.
O analista Rui Landim diz, no entanto, que estas movimentações em Bissau são "teatro".
"Ninguém sabe o que está por detrás disto", comenta.
Aproveitar a oportunidade
Na Guiné-Bissau, o ambiente
político voltou a aquecer desde que o Governo assumiu, na semana passada,
que vetou o nome do líder do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo
Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira, para chefiar a missão de
observação eleitoral da União Africana à segunda volta das presidenciais
Face ao silêncio do Executivo sobre a situação em Conacri, o PAIGC, que já condenou o golpe de Estado, lembrou: "Vocês, jornalistas, são vítimas de censura, espancamento e sequestro. Há espancamentos de deputados e vandalizações de rádios... E essas pessoas aparecem aí para dar lição de moral a quem?", questionou o secretário para a comunicação do partido, Muniro Conté.
O analista Rui Jorge Semedo teme que o golpe no país vizinho seja usado como desculpa para reforçar o controlo e criar um "clima de medo" na Guiné-Bissau: "Nós também temos os nossos problemas, então aproveitamos aquilo que está a acontecer na Guiné-Conacri", calcula.
Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche Welle
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