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Crimes são "imperdoáveis", diz presidente francês, primeiro chefe de Estado a participar de cerimônia em memória das vítimas. Há 60 anos, polícia parisiense reprimiu brutalmente protesto pela independência da Argélia.
O presidente da França, Emmanuel Macron, condenou veementemente neste sábado (16/10) o massacre policial de 1961 contra manifestantes argelinos que protestavam em Paris pela independência da Argélia, à época uma colônia francesa.
Em comunicado divulgado pela presidência logo após uma cerimônia para marcar os 60 anos do massacre, Macron "reconheceu os fatos: que os crimes cometidos naquela noite sob o comando de Maurice Papon [então chefe da polícia de Paris] são imperdoáveis para a República". Foi uma repressão "brutal, violenta, sangrenta", afirmou o governo.
Embora não configurem um pedido de desculpas formal, as palavras do líder francês foram mais longe que as de seu antecessor, o ex-presidente François Hollande, que em 2012 reconheceu apenas que os argelinos que protestavam foram "mortos em uma repressão sangrenta".
Macron compareceu à cerimônia memorial em Paris, mas não fez um discurso no local. Ele foi o primeiro chefe de Estado francês a participar das solenidades do massacre, ao lado de sobreviventes, ativistas da sociedade civil e veteranos da luta pela independência da Argélia.
O presidente observou solenemente uma coroa de flores adornada com uma fita com as cores da bandeira da França sendo colocada à beira do rio Sena, na ponte Bezons.
Flores em memória das vítimas do massacre foram jogadas no rio por pessoas reunidas ali para marcar o aniversário – vários dos manifestantes que morreram no incidente de 1961 teriam se afogado. Após a cerimônia, Macron apertou as mãos e conversou com membros da comunidade.
Um dia sombrio na história da França
Os protestos de 17 de outubro de 1961 ocorreram no último ano do violento esforço da França para manter o controle sobre sua então colônia da Argélia.
As manifestações foram em resposta a um toque de recolher rígido imposto aos argelinos para evitar que o movimento clandestino de resistência Frente de Libertação Nacional (FLN) arrecadasse fundos após uma série de ataques mortais contra policiais franceses.
Mais de 25 mil pessoas se reuniram em protesto contra as ações francesas na Argélia, apesar do toque de recolher. Mas o protesto foi duramente reprimido pelas forças de segurança. Cerca de 12 mil argelinos foram detidos e levados a vários estádios.
Não se sabe quantos foram assassinados no protesto daquela noite de 1961, mas o consenso histórico é que o número de mortos chegou a pelo menos dezenas – apesar de a contagem oficial ser de apenas três vítimas.
Alguns ativistas temem, contudo, que várias centenas de pessoas possam ter morrido, incluindo manifestantes que a polícia lançou no rio Sena e se afogaram. Outros foram espancados até a morte ou assassinados a tiros pela polícia.
O massacre de 17 de outubro deu início a uma espiral de violência que durou semanas. Por décadas, as atrocidades foram encobertas. Muitos dos restos mortais das vítimas nunca foram encontrados.
Mais tarde revelou-se que Papon, o chefe da polícia de Paris à época, foi um colaborador do regime nazista na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, o que adicionou mais um ponto de vergonha aos acontecimentos sangrentos daquela noite em Paris.
Deutsche Welle | ek (DW)
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