domingo, 10 de outubro de 2021

UMA SOCIEDADE DE EXCLUÍDOS

Octávio Serrano* | opinião

A teoria da luta de classes foi desenvolvida no século XIX, em que se estratificava as sociedades em função das actividades económicas exercidas, e a sua dependência laboral, dentro do sistema capitalista! Pressupunha-se a imobilidade profissional, ao longo das vidas e gerações das famílias; de facto, nessas sociedades existia dificuldade em as pessoas transitarem, entre “classes”; por exemplo um filho de um operário, dificilmente se transformava em professor; quanto mais em empresário; existiam barreiras económicas e sociais, que dificultavam essas transições.

No entanto, no século XX, no dito mundo ocidental democrático, e no mundo oriental socialista, a difusão da educação universal patrocinada pelos Estados, fez com que a cultura e o conhecimento se tornassem acessíveis para todas as classes sociais; e a partir dessa altura, as transições entre “classes”, passaram a ser normais; e passaram a depender das capacidades e desejos de cada um, independentemente do sexo ou do estrato social original.

Outros factores, que se vieram a revelar decisivos foi a chamada revolução informática; a progressiva automação dos processos na industria, e as chamada revolução agrícola; que reduziram por um lado, a sujeição e dependência da produção, em relação ao trabalho manual, assim como as concentrações massivas de trabalhadores, nos locais de trabalho; claro que há excepções, como o trabalho agrícola em estufas, de alta concentração de mão-de-obra..mas isso não invalida a regra geral.

E as sociedades altamente estruturadas, imobilizadas e exclusivas, evoluíram para sociedades plurais, dinâmicas e mais inclusivas; não porque algum politico impusesse, que assim fosse, mas porque as exigências produtivas mais especializadas e diversificadas, aliadas a extraordinárias evoluções dos equipamentos produtivos, assim o impuseram; os filhos dos operários e dos camponeses, tiveram de ser outra coisa qualquer; comerciantes; advogados; informáticos; um ror de oportunidades á escolha, do que quisessem ser...

E quanto às classes identificadas por Marx, o que lhes aconteceu? No processo dinâmico evolutivo, destas sociedades, essas classes quase que desapareceram, como tal; pois estas sociedades atomizaram-se; segmentaram-se; embora nalguns sectores ainda existisse alguma concentração operária, a suas necessárias, especialização e qualificação, por exemplo, na industria automóvel, proporcionou-lhes níveis de rendimentos melhorados!

Mas também existirão outros motivos; o principal foi a terceirização, de muita industria assente em mão de obra barata; de muita tarefa industrial, que foi deslocalizada para países do terceiro mundo; num novo capitalismo, baseado na teoria neoliberal da globalização; que promoveu a transferência da actividade produtiva, para onde o factor trabalho fosse mais barato. Nos chamados países desenvolvidos só ficariam, as actividades ditas de criticas; as que pelo seu elevado valor tecnológico ou com processo de fabrico, que não necessitasse de mão-de-obra barata! Digamos, que a chamada luta de classes foi transferida! Até essa...

E o que sucede a partidos, que tinham o seu fundamento ideológico na luta de classes? Sem remédio, apesar de explicitamente não o reconhecerem, tiveram de se tornar inter-classistas; tiveram de se adaptar, às novas condições, alterando os seus focos; pois os seus potenciais apoiantes alteraram-se.

A nova sociedade que nasceu deste processo, continuou a ser altamente diferenciada, fracturada e injusta; deixaram de existir classes, mas existem excluídos; pessoas, que por falta de habilitações, ou capacidades ou oportunidades, não almejaram sair do âmbito de certos “guetos” sociais; sectores profissionais, que não são devidamente remunerados numa sociedade muito competitiva; uma massa de pessoas com vidas precarizadas, que se arrastam de emprego para emprego; pessoas fragilizadas socialmente pelos mais diversos motivos.

Portanto, o principal problema da nova sociedade é o da inclusão económica e social; pensar que a dinâmica capitalista conseguirá resolver este problema é demagógico; o capitalismo é intrinsecamente individualista e cínico; logo diga-se o que se disser, é papel do Estado amenizar as diferenças, e promover a inclusão! E a sociedade em geral deve exigi-lo...

*Octavio Serrano-Pagina de Analise Politica | Facebook 

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