quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Cabo Delgado: "Chega a 40 o número de pessoas desaparecidas" em nova ofensiva

Ataques a 12 e 13 de novembro fizeram dezenas de desaparecidos. Autoridades não se posicionaram, mas Abudo Gafuro, da Associação Kuendeleya, diz que 25 terroristas terão sido abatidos quando se faziam passar por civis.

Um ataque da força militar conjunta da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), que combate os terroristas no norte de Moçambique, terá matado mais de duas dezenas de jovens insurgentes, na região de Mueda, na província de Cabo Delgado, durante o fim de semana. A informação é avançada à DW pela Associação Kuendeleya, que cita fontes militares e civis. 

Segundo relatos, os confrontos na linha de fronteira entre Moçambique e a Tanzânia começaram após a denúncia de populares de que havia terroristas disfarçados de civis que queriam fugir para o país vizinho.

Neste momento, ainda sem dados oficiais, a associação relata que há soldados governamentais desaparecidos, que alguns civis terão sido mortos e que outros fugiram para as matas.

A propósito deste tema, conversámos com Abudo Gafuro, coordenador da Associação Kuendeleya, com sede no distrito de Pemba e que cobre toda a província de Cabo Delgado. 

DW África: O que se sabe sobre as denúncias de ataques na região de Mueda?

Abudo Gafuro (AG): A informação que nos chega através de fontes militares e da sociedade civil é que havia um grupo de terroristas maioritariamente jovens, entre os 12 e os 17 anos, que queriam sair [do país] por Mueda para se confundirem com civis para entrar na Tanzânia. Quando a população daquela região mais a norte, em Moçambique, na linha que limita Moçambique e Tanzânia, descobriram que não eram civis, fizeram a denúncia para que houvesse uma intervenção pronta da SADC e das forças moçambicanas. Os militares moçambicanos acionaram a força regional da SADC, sobretudo a força tanzaniana que está posicionada naquela margem. Mas houve uma fraca capacidade. Eles preferem ou preferiram que seja o Ruanda a operar porque tem eficácia nas suas operações. Neste momento, há algumas pessoas desaparecidas, mas há uma quantificação exata que são 25 terroristas abatidos e alguns terroristas em cárcere das Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas e da SADC.

DW África: Mas sabe de alguns civis raptados ou mortos durante os confrontos?

AG: Neste momento, durante os confrontos, não há relatos oficiais de que haja morte de civis. Mas há um e outro que nos relatou que houve três mortes de civis. Eram civis que estariam a correr para outra região e que apanharam balas pelo caminho. Há muitas outras pessoas dadas como desaparecidas. Chega a 40 o número de pessoas desaparecidas naquela região. 

DW África: Fala-se também no uso de drones. É verdade?

AG: Fala-se do uso de drones por parte da força conjunta de Moçambique e da SADC. Eles dizem que tinham de usar drones, mas não conseguiram usá-los. Então usaram aviões. Queriam usar os drones para a perseguição dos terroristas.

DW África: Mas as informações que chegam neste momento são de fontes oficiais ou ainda não há um posicionamento a esse nível?

AG: Até então ainda não há nenhuma informação oficial. Só tivemos informação de uma rede comunitária que também relatou sobre o incidente na região de Mueda e sobre o abandono de alguma população, bem como o seu desaparecimento nas matas naquela região mais a norte em Moçambique e a sul da Tanzânia.

DW África: Quando ocorreram os ataques?

AG: Os ataques provavelmente ocorreram no dia 12 e 13 de novembro.

Braima Darame | Deutsche Welle

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