quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Moçambique defende na UA apetrechamento das tropas para enfrentar terrorismo

O posicionamento foi deixado, hoje, por Verónica Macamo, durante a sessão de abertura da reunião virtual do Conselho de Paz e Segurança da União Africana. A ministra dos Negócios Estrangeiros defendeu ainda maior colaboração entre os países africanos e aposta em tecnologias para fazer frente ao fenómeno.

Combate à ideologia do extremismo e radicalização em África é o tema escolhido pela presidência do mês de Novembro, do Conselho de Paz e Segurança da União Africana, liderada pelo Egipto para a sessão de hoje. No encontro, Moçambique defendeu que o assunto em análise é deveras pertinente num contexto em que o fenómeno tende a alastrar-se pelo continente.

“Trata-se de um programa que apresenta um tema de relevância particular para cada um dos nossos países sob o ponto de vista regional, continental e global. Efectivamente, o combate à ideologia do extremismo e radicalização em África, como tema de debate nesta sessão, ganha maior relevância neste momento em que África enfrenta a ameaça colocada pelo alastramento do terrorismo no continente”, introduziu Verónica Macamo para depois seguir afirmando que “confrontar o extremismo e radicalização em África no seu substracto ideológico, embora complexa, constitui uma acção fundamental no contexto da etapas que integram a luta pela erradicação do terrorismo no nosso continente. Como é de conhecimento geral, a radicalização assenta, essencialmente, no processo de endoutrimento, recorrendo, muitas vezes, ao desvirtuamento dos princípios e ensinamentos religiosos. Com base na disseminação de falsidades e manipulação, procuram lograr os seus intentos, atraindo seguidores no seio da população e comunidades. Neste âmbito, recrutam de preferência jovens e crianças que são usados como instrumentos de disseminação da dor e sofrimento, que se traduzem em assassinatos e destruição de infra-estruturas socioeconómicas. O impacto destes actos hediondos tem gerado graves crises humanitárias e tem sido um entrave aos esforços de desenvolvimento económico e social”, referiu.

Noutro desenvolvimento, a governante defendeu a fortificação das instituições africanas nas zonas mais afastadas para que possam saber lidar com o fenómeno. “Com raras excepções, os grupos terroristas actuam preferencialmente em locais, onde se regista a abundância de recursos e onde as instituições do Estado, por alguma razão, ainda não são suficientemente fortes. É nestes locais onde terroristas e redes de crime organizado concentram as suas acções de recrutamento, aliciando, sobretudo, jovens e crianças e explorando a vulnerabilidade das comunidades”, precisou.

Para enfrentar a radicalização e o extremismo violento que está a provocar uma crise humanitária em Moçambique, Verónica Macamo defende inovação e união de sinergias para desencorajar o recrutamento e instrumentalização e crianças e jovens.

“Acreditamos que o combate efectivo, sustentável e bem-sucedido contra o terrorismo é um processo que encerra várias etapas. Algumas destas etapas devem ocorrer simultaneamente, como por exemplo, a acção militar contra as forças mais activas do terrorismo no teatro de operações, o corte de todas as fontes de financiamento que nutrem este fenómeno, bem como prestar maior atenção aos programas de desenvolvimento inclusivo. Estas acções, aliadas a programas de educação das comunidades, concorrem para o objectivo de contrapor quaisquer tentativas ou aproveitamento por parte de terroristas para aliciar a população e recrutar jovens para as suas fileiras. A erradicação da ideologia extremista e radicalização no nosso continente exige o reforço de iniciativas e acções concertadas e inovadoras, evolvendo também o sector privado e a sociedade civil, sobretudo nesta altura em que os terroristas recorrem a meios tecnológicos cada vez mais sofisticados nas suas operações”, detalhou a governante.

Verónica Macamo referiu, igualmente, que o combate ao fenómeno depende de acções conjuntas e coordenadas a diversos níveis.

“Para lograrmos sucesso no combate ao terrorismo, devemos reforçar a conjugação dos nossos esforços colectivos à escala nacional, regional, continental e global. A vitória contra o terrorismo pressupõe o reforço da nossa colaboração e cooperação. O desafio do combate ao terrorismo, como prioridade da nossa agenda continental, deverá decorrer em paralelo com o desafio da mobilização de recursos para o financiamento ao desenvolvimento socioeconómico. O desenvolvimento socioeconómico constitui um factor importante para a consolidação da paz, segurança e estabilidade nos nossos países.”

Face ao cenário de ataques e destruições que Moçambique já regista, Macamo sugeriu acções mais arrojadas para fazer frente a esse fenómeno.

“Fortalecimento das nossas Forças de Defesa e Segurança e instituições administrativas do Estado, evitando o vácuo de poder, que pode ser aproveitado pelos terroristas; reforço do diálogo entre instituições do Governo e líderes comunitários e religiosos e a sociedade civil em geral na luta contra a radicalização e o extremismo violento; envolvimento das comunidades locais na concepção e materialização dos seus projectos de desenvolvimento; incorporação no ordenamento jurídico interno dos Estados das diferentes medidas e instrumentos jurídicos sobre o terrorismo”, terminou.

Além do presidente do Conselho de Paz e Segurança da União Africana para o mês de Novembro, participaram do encontro virtual ministros membros do órgão e o Comissário para os Assuntos Políticos, Paz e Segurança da União Africana.

Raúl Massingue | O País (mz) | Imagem: O País (mz)

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