Thierry Meyssan*
Enquanto os Estados Unidos se dirigem decididamente para a guerra civil, o Presidente Joe Biden apoia-se nos crentes de esquerda, originários de diferentes confissões. Ele considera os eleitores de Donald Trump como gente que foi desviada da fé e que deve reconduzir ao caminho verdadeiro. À força de manipular as religiões, o Partido Democrata está em vias de dividir o país, não entre confissões distintas, mais entre a maneira de conceber a fé. O Presidente Biden ambiciona reunir todos os concidadãos sob o seu próprio magistério a fim de prosseguir a via traçada por Barack Obama. Mas na prática, longe de apaziguar, ele radicaliza o debate político apesar das intenções.
Anteriormente, apresentei os
partidários da cultura «despertar» (« woke ») nos EUA como sendo «Puritanos sem
Deus». Trata-se de uma síntese rápida para sublinhar que muitos deles não
acreditam
Em primeiro lugar, convêm estabelecer o contexto:
-- Os Estados Unidos teriam sido fundados por uma seita puritana, os “Pais Peregrinos”, vindos no século XVII a bordo do Mayflower. Eles deixaram a Inglaterra, atravessaram o Atlântico, encontraram um continente quase vazio para onde transportaram a sua exigência de pureza e onde construiriam uma « Cidade sobre a colina » que iluminaria o mundo. De facto, hoje em dia, os Estados Unidos são os campeões da liberdade religiosa no mundo, mas não da liberdade de consciência: o testemunho de um renegado contra a sua antiga igreja ou seita não é aceite perante um tribunal.
Durante a Guerra Fria, o Presidente Eisenhower posicionou os Estados Unidos como o campeão da Fé face ao « comunismo sem Deus » dos Soviéticos [2]. Ele mandou distribuir obras de propaganda « cristã » a todos os ses soldados e instalou um grupo de oração ecuménica no Pentágono, hoje em dia conhecido sob o nome de « A Família » [3]. Ele estendeu-o para todo o mundo ocidental. Todos os presidentes do Comité de Chefes de Estado-Maior tomaram parte e nele ainda tomam parte, assim como inúmeros Chefes de Estado ou de Governo estrangeiros.
Por fim, depois da dissolução da União Soviética, os Norte-Americanos afastam-se das suas Igrejas e 17 % deles dizem-se agnósticos, ou mesmo por vezes ateus. Quanto ao número de crentes que não se afirmam filiados a uma determinada Igreja esse não para de aumentar. O discurso político já não se dirige só aos crentes de todas as denominações cristãs, ou sequer aos crentes de todas as religiões, mas, sim também aos não-crentes.
Esta evolução exprimiu-se pela primeira vez na Convenção do Partido Democrata, em 2012. Embora muitas grupos de trabalho fossem organizadas por grupos religiosos, os textos apresentados e adoptados já não mencionavam Deus. Não que o Partido já não seja composto por uma esmagadora maioria de crentes, mas porque pretendia continuar a falar para todos e porque o povo dos EUA tinha mudado.