quarta-feira, 30 de junho de 2021

OTAN exige obediência aos tratados internacionais, mas atropelam o direito internacional

# Publicado em português do Brasil

MatthewEhret* | Strategic Culture Foundation

A aliança unipolar é, na verdade, nada menos do que feudalismo neotecnocrático, escreve Matt Ehret.

O direito internacional moderno está consagrado em certos princípios jurídicos delineados na Carta das Nações Unidas, que por sua vez tem como premissa o direito de todas as nações à soberania plena e à não ingerência.

Esses princípios receberam ainda mais peso com a adição dos códigos de Nuremberg, que descreviam qualquer guerra de agressão de um estado sobre outro como formalmente ilegal. Embora se possa pensar que esse é um fato bastante óbvio, ninguém jamais se preocupou em torná-lo uma lei antes de 1947.

No entanto, como vemos hoje, as fogueiras estão sendo acesas por forças anglo-americanas que hipocritamente usam a autoridade desses tratados, embora não respeitem realmente os próprios princípios dos quais abusam para seus próprios fins. Em uma chamada de popa para defender estes princípios antes de passar o ponto de não retorno em nossa slides coletiva no inferno, o Presidente Putin abordaram a 9 ª Conferência de Moscou Anual sobre Segurança Internacional afirmando :

“Infelizmente, os processos geopolíticos estão se tornando cada vez mais turbulentos, apesar de sinais positivos isolados. A erosão do direito internacional também continua. As tentativas de usar a força para defender seus próprios interesses e fortalecer sua própria segurança às custas da segurança de outros continuam inabaláveis ​​... Quaisquer novas regras devem ser formuladas sob os auspícios da ONU. Todos os outros caminhos levarão ao caos e à imprevisibilidade, ”

Sullivando

Jorge Cadima* | opinião

No plano internacional, já não se pode dizer apenas que a presidência Biden dá continuidade às péssimas políticas dos seus antecessores. Na verdade, começa a ser ainda mais ameaçadora e irresponsável, e a confirmar-se como gente que mente e engana de cada vez que abre a boca. Depois do encontro com Putin, falaram em “desanuviamento”. Dias depois, avançam com novas “sanções” contra a Rússia, na base das habituais aldrabices belicistas. No essencial, a razão que os move é a miragem de preservar uma hegemonia mundial que a actual realidade económica e política deixou para trás. Todavia, o mesmo não sucede no plano militar, e essa permanece a grande questão.

Dias após a cimeira entre Biden e Putin, o Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, anuncia novas sanções contra a Rússia. Os pretextos são as já estafadas mentiras anti-russas: alegados ciberataques, alegadas interferências em eleições, o alegado envenenamento de Navalny. Salivando, Sullivan anuncia já novas aldrabices belicistas: «quando tivermos imposto [estas sanções], vamos impôr novas sanções em relação a armas químicas» (CNN, 20.6.21). O único país que usou armas nucleares, com um longo historial de uso de armas químicas e biológicas, guerras de agressão, subversões, golpes de Estado (na mira está agora o Peru), ingerências e actos de terrorismo; o país que mente todos os dias e impõe a prisão de Assange e Manning, o exílio de Snowden, «culpados» de revelar ao mundo essas mentiras – esse país só conhece uma «regra»: os EUA mandam e os outros obedecem.

ANGOLA, RUPTURA, LIBERTAÇÃO E VIDA – II


TRINCHEIRA DE LIBERTAÇÃO

Martinho Júnior, Luanda

UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA DAS RAZÕES PORQUE “A LUTA CONTINUA” DESDE A SAGA ANTICOLONIAL, AO ANTIIMPERIALISMO INTERNACIONALISTA DE NOSSOS DIAS.

Aproveitar o rótulo de “história” a fim de produzir e sistematizar propaganda contra Angola, contrariando frontalmente os propósitos angolanos sintetizados na mensagem do hino que clama às presentes e futuras gerações a “honrar o passado e a nossa história, construindo no trabalho um homem novo”, tem sido em Portugal uma pródiga conduta, que se alimenta do saudosismo colonial-fascista inerente às correntes dominantes de pensamento e acção emitidas pelo “hegemon” e “iluminando” os sucessivos governos do “arco de governação” representativos da avassalada oligarquia portuguesa, assim como de apêndices como o esquerdismo de feição e a ultradireita que alargou ainda mais o assento parlamentar.

Todas as narrativas produzidas nessa perversa esteira, aproveitam os processos estruturalistas das abordagens correntes com sentido histórico mas sem o completarem na devida dimensão, a fim de empolar as tonalidades da propaganda pinceladas de emoções subvertendo a busca da coerência, da fiabilidade, da fidedignidade e da verdade, com um refinado “cocktail” filtrado por traumas, ressentimentos e ódios sobre o alvo a abater que foi a República Popular de Angola e é Angola até aos nossos dias.

Os propósitos neoliberais dessas correntes com essas narrativas alinhadas, são evidentes, influindo nos impactos da “terapia” que em Angola dá sequência ao “choque” de Savimbi por via da “guerra dos diamantes de sangue”, induzida com escala em Portugal e outros componentes da União Europeia e da NATO, integrando os dispositivos de inteligência da UNITA (a Operação Madeira não parou no tempo e tem sido reaproveitada porque os vínculos do passado são cultivados de geração em geração).

O fraccionismo do 27 de Maio de 1977 prolonga-se até hoje inscrito no vigor dessas campanhas, que a todo o transe procuram inviabilizar não só as capacidades dialéticas de se entender a história desde a necessidade de ruptura contra o colonialismo e o “apartheid”, mas também impossibilitar perceber as razões causais e as dinâmicas dos fenómenos por vezes tão contraditórios por dento do movimento de libertação em África, o que só favorece os etno-nacionalismos.

Além da República Popular de Angola, um dos alvos principais dos propagandistas do fraccionismo é a figura do Presidente António Agostinho Neto, que assumiu a condução da luta armada de libertação nacional numa vanguarda em ruptura contra o colonialismo, o neocolonialismo e o “apartheid”, numa trilha de Não Alinhamento activo e resoluto que teve necessariamente que impedir o acesso ao poder do estado angolano, de qualquer uma das tendências etno-nacionalistas filiadas na esteira neocolonial do próprio “hegemon”.

Com tudo isso as propagandas correntes contra Angola procuram subverter a busca de liberdade na direcção da autodeterminação, da independência, dum exercício saudável de soberania e dum Não Alinhamento consequente capaz de, dando sequência ao próprio movimento de libertação em África, consolidar a paz a fim de melhor se garantir em termos de lógica com sentido de vida, capacidades de projectar geoestratégias para um desenvolvimento sustentável e de gestação duma imprescindível cultura de inteligência patriótica para Angola.

A Hora dos Traficantes de Armas na Política

Artur Queiroz*, Luanda 

A cimeira entre os presidentes Biden e Putin foram ver, estava morta. Mas aconteceu algo que interessa a Angola e muito. Os dois líderes falaram na possibilidade de “trocarem” prisioneiros, e um deles é o russo Viktor Bout que também assina Butt, Bont, Buttee, Boutov ou Sergitov Vitali. Um relatório da ONU denuncia, com provas evidentíssimas, que ele foi o fornecedor de armas e munições à UNITA, entre 1991 e 2002. Isto quer dizer que ainda não tinha secado a tinta nas assinaturas do Acordo de Bicesse, já Jonas Savimbi comprava armamento a um traficante, para esconder nas bases secretas do Cuando Cubango.

Viktor Boutov tinha como intermediário dos negócios na UNITA, Marcial Dachala ou N’Dachala quando quer ser mais próximo da autenticidade mobutista. Mas era amigo tu cá, tu lá, com o criminoso de guerra Jonas Savimbi. Um tribunal de Nova Iorque condenou o traficante de armas a 25 anos de prisão, por ter fornecido armas às FARC, que por sua vez mataram em combate soldados e outros “agentes” norte-americanos na Colômbia. Foi preso em 2000, ano em que Savimbi começou a ficar sem o “combustível da guerra” como refere na ONU ao armamento vendido por Bout à UNITA.

Os negócios eram feitos com Marcial Dachala, hoje porta-voz da UNITA e deputado. A base do “tráfico da morte” estava na cidade de Lomé, capital do Togo. Viktor Boutov era amigo do presidente Étienne Eyadéma e de seu irmão, chefe máximo das forças armadas togolesas, que facilitava as operações do tráfico de armas. No primeiro encontro com o chefe militar, Marcial Dachala ofereceu-lhe um saco de diamantes “das minas da UNITA”.

O traficante Viktor Boutov está preso numa penitenciária do Illinois e se não for “trocado” só sai do cárcere em 2030. Jonas Savimbi perdeu o fornecedor de armas e munições e em 22 de Fevereiro de 2002 terminou a sua aventura belicista, no Lucusse. Marcial Dachala pavoneia-se em Luanda, tem um lugar certo na Assembleia Nacional e recentemente disse isto: “Um compromisso do nosso presidente é a constituição de uma Frente Democrática e Patriótica para a alternância do poder (...) Há conversações que avançam todos os dias um pouco mais, com o Bloco Democrático, com o doutor Abel Chivukuvuku e muito mais personalidades do país estão trabalhando connosco na perspectiva da efectivação da frente.”

Marcial Dachala é um traficante de armas, parceiro de Viktor Boutov. Esteve atolado no “negócio da morte” até ao pescoço. Mas Adalberto da Costa Júnior também faz parte do gangue. Na parte final do fornecimento de armas à UNITA, Dachala teve de recuar, porque a ONU decidiu reprimir o tráfico dos “diamantes de sangue” da UNITA e ele estava referenciado pelos inspectores. Avançou o “embaixador” Adalberto da Costa Júnior que montou com o traficante russo um engenhoso esquema para continuarem os negócios a partir do Uganda e Ruanda. No Lomé, Viktor Boutov e a UNITA decidiram criar uma fábrica de lapidação de pedras preciosas, para escaparem ao rastreio internacional dos “diamantes de sangue”, que apenas é possível se as pedras estiverem em bruto.

O traficante russo criou uma companhia de aviação, a Air Cess, que na parte final da traficância com a UNITA já tinha 50 aviões de transporte com capacidade de voo intercontinental. Quando avançaram as sanções da ONU contra os dirigentes da UNITA, Adalberto da Costa Júnior abriu brechas em Portugal, que se tornou o paraíso dos traficantes e belicistas da UNITA.

Viktor Boutov reforçou a sua frota com aviões de passageiros e pelo menos duas aeronaves ficaram ao serviço da direcção da UNITA, que assim escapavam ao controlo internacional, pois voavam a partir de aeródromos secundários, onde não chegava o controlo apertado das autoridades. O pagamento era feito em diamantes roubados aos angolanos. Nesta fase, o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Peter Hein, veio a público denunciar o “negócio da morte” do traficante de armas russo. Porque ele era amigo íntimo do presidente Charles Taylor, da Libéria, que também deu grande contributo ao tráfico de armas para a UNITA. Taylor foi declarado criminoso de guerra e condenado a 50 anos de prisão.

Adalberto da Costa Júnior, parceiro de negócios destes bandidos internacionais, é deputado, líder da Oposição em Angola e está a preparar, segundo outro traficante, Marcial Dachala, uma “Frente Democrática e Patriótica para a alternância do poder”. E já tem parceiros ajuramentados: Bloco Democrático e o antigo agente da BRINDE (serviços de extermínio da UNITA) Abel Chivukuvuku. Onde Justino Pinto de Andrade e Filomeno Lopes já vão! Começaram por se declarar à esquerda do MPLA e ultrapassaram Chivukuvuku pela direita. Ainda acabam nos braços de um qualquer Bolsonaro.

Viktor Boutov ajudou a matar em Angola mais de um milhão e meio de angolanos, por isso é chamado o “mercador da morte”. Era agente do KGB soviético e nessa condição trabalhou em Angola, conhecia muitos segredos. Amigo íntimo de Jonas Savimbi, recebeu deste criminoso de guerra milhares de milhões de dólares em diamantes roubados nas minas angolanas. Foi condenado a prisão perpétua em Nova Iorque. Uma juíza federal converteu a pena em 25 anos e agora está prestes a ser libertado. Porque Washington lhe deu “carta branca” para fornecer a UNITA de armas oriundas da Europa de Leste, lavando daí as suas mãos e emendando assim o crime cometido pelo presidente Reagan ao dar a Savimbi/Pretória os mísseis FIM-92 Stinger.

No Tribunal de Nova Iorque, Viktor Boutov estava sozinho no banco dos réus. Faltaram a seu lado Marcial Dachala, Adalberto da Costa Júnior e outros dirigentes da UNITA. Vamos ver se os angolanos querem alternar o poder com assassinos, ladrões de diamantes e traficantes de armas.

*Jornalista

Fotos:

1- Viktor Bout o “traficante da morte”, traficante de armas  associado a todas as “guerras de diamantes de sangue” em África, a de Savimbi incluída – extraída do “dossier” sobre Bout do jornal “The Guardian” – https://www.theguardian.com/world/viktor-bout;  https://www.theguardian.com/film/2014/aug/17/the-notorious-mr-bout-review-transforming-merchant-of-death;

2- Marcial Dachala, deputado da UNITA na Assembleia Nacional Angolana e enlace de Savimbi nos expedientes com o “traficante da morte” Viktor Bout – extraída da página KUP – https://kwachaunitapress.com/;  https://kwachaunitapress.com/2021/03/25/unita-diz-campanha-de-difamacao-nao-vao-impedir-a-alternancia-democratica-em-2022/secretario-nacional-da-comunicacao-e-marketing-marcial-dachala/;   

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