segunda-feira, 12 de julho de 2021

Adalberto Nanocéfalo e os Contadores de Votos

Artur Queiroz*, Luanda

Adalberto da Costa Júnior mostrou a sua verdadeira dimensão, ao proferir declarações que dizem tudo e nada ao mesmo tempo. Fala do “angolano” que agora está mais informado, mas passa a vida dizendo que os Media angolanos são controlados pelo Executivo e em vez de informarem, só fazem propaganda de quem está no poder. Político arguto que sabe mais do que todos os outros, Adalberto descobriu a pólvora ou mesmo a dificílima quadratura do círculo: Em Angola a juventude é maioritária! O chefe do Galo Negro descobriu agora que em África a população é muito jovem. E Angola está entre os países com populações mais jovens.

Adalberto fala para se ouvir, olha para o espelho e vê que está só. Vai daí, fala para quem não o quer ouvir, diz o que todos sabem, há tanto tempo, que já ninguém quer ouvir. Quando se fala em alternância democrática é preciso olhar para a situação política angolana com olhos de ver e não por desespero ou para dar nas vistas. As últimas declarações de Adalberto da Costa Júnior são de uma pobreza tal, que obrigam ao soar de todos os alarmes. Se um indigente mental corre o risco de chegar ao poder por obra e desgraça da alternância democrática, estamos perdidos.

O líder da UNITA é uma espécie de sábio do lugar comum, fascinado com a sua mediocridade e vaidoso da sua mais pobre irrelevância intelectual e política. Este furúnculo incómodo do regime democrático angolano é verdadeiramente o coveiro da UNITA. O partido conseguiu contar estes anos todos, apesar de Jonas Savimbi ter alugado as armas aos colonialistas portugueses e depois ao regime nazi e racista de Pretória. Conseguiu alguma relevância (dez por cento do eleitorado em 2008) depois da ala belicista ter recusado os resultados eleitorais e regressado à guerra, partindo tudo, matando todos os que não fugiram ou se refugiaram.

Adalberto da Costa Júnior vai para as próximas eleições com um buraco assustador no seio da UNTA, causado pela saída de Isaías Samakuva. E ele, em vez de tapar esse vazio político, tem tiradas como esta: “Louvo a iniciativa dos jovens da sociedade civil pela criação de um centro de contagem paralela dos votos”. E para meter os dois pés ainda mais na argola, o Presidente da UNITA considera que essa iniciativa revela “a maturidade política dos jovens angolanos, bem como do povo em geral”.

Distúrbios na África do Sul causam mortes e prisões

Jacob Zuma: Militares destacados para combater a agitação causada pelo ex-presidente preso

# Publicado em português do Brasil

A África do Sul está enviando militares para enfrentar os distúrbios que eclodiram em torno da prisão do ex-presidente Jacob Zuma.

Lojas foram saqueadas e edifícios incendiados na segunda-feira, enquanto Zuma desafiava sua sentença em uma audiência no tribunal superior.

Pelo menos seis pessoas foram mortas e 200 presas desde que os protestos começaram na semana passada.

Zuma foi condenado por desacato ao tribunal após não comparecer a um inquérito sobre corrupção durante sua presidência.

O homem de 79 anos, que nega corrupção, entregou-se à polícia na semana passada para iniciar sua sentença de 15 meses.

Ele espera que a sentença seja rescindida ou reduzida na audiência do Tribunal Constitucional. No entanto, especialistas jurídicos dizem que suas chances de sucesso são mínimas.

O caso gerou um drama jurídico sem precedentes na África do Sul, que nunca viu um ex-presidente preso antes.

As imagens na segunda-feira mostraram um incêndio em um shopping center na cidade de Pietermaritzburg, na província natal de Zuma, KwaZulu-Natal, e pessoas saqueando.

AGENCIAMENTO DA UNITA A PARTIR DA EUROPA

Martinho Júnior, Luanda

ADALBERTO TRAZ “O REGRESSO DAS CARAVELAS” E DOS “FANTASMAS DO APARTHEID”!

01- O agenciamento da UNITA a interesses capitalistas que estão concentrados em multinacionais historicamente apostadas em contínuas ingerências e manipulações neocoloniais em África, vem desde praticamente a forja do berço desse etno-nacionalismo angolano.

A mescla foi filtrada pelo “lobby” dos minerais que é um dos apoios do Partido Democrata nos Estados Unidos e faz parte, com o “lobby” do armamento e da energia, dos mentores do “estado profundo” protagonista da hegemonia unipolar com que se move o império desde o fim da IIª Guerra Mundial.

O colonial-fascismo português tentou sempre unir forças colectando capacidades etno-nacionalistas contra o MPLA, porque o MPLA era seu inimigo principal, uma vez que era reconhecido sustentáculo do movimento de libertação em toda a África Central e Austral na saga libertária de Argel ao Cabo da Boa Esperança.

Pobreza acompanha crescimento populacional em Moçambique

Neste 11 de julho, Dia Mundial da População, olhamos para Moçambique. Desemprego e falta de infraestruturas são dois dos principais problemas, principalmente na província de Nampula, a mais populosa do país.

Cresce o número da população, mas também aumenta a pobreza em Moçambique, principalmente na província de Nampula, a mais populosa do país. Atualmente, o país conta com perto de 30 milhões de habitantes, seis dos quais estão em Nampula.

Em 1980, a título de exemplo, no primeiro recenseamento da população realizado no país, Nampula tinha cerca de dois milhões de habitantes. Em 2017, ano do último censo populacional, a província contava já com mais de seis milhões de habitantes - registando-se um crescimento de 3.2 por cento em dez anos.

Esta informação consta de um estudo realizado, em 2019, pela Universidade Rovuma, que teve como base a realização de inquéritos a mais de três mil famílias, em nove dos 23 distritos da província.

O docente da Universidade Rovuma, Vanito Frey, que participou no estudo e o apresentou, recentemente, em Nampula, defende que o crescimento populacional, em Moçambique, principalmente na província de Nampula, deve ser acompanhado pelo acesso aos serviços básicos de qualidade e oportunidades de emprego para a juventude que constitui a maioria da população nacional.

"A estrutura etária de Moçambique é predominantemente jovem, e isso implica desafios sérios para o setor da educação, não só na província de Nampula, mas no país em geral. Há necessidades de mais escolas para esta estrutura etária de jovens, que constitui a base da província de Nampula. E se estamos a falar que é uma população jovem, isso tem implicações ao nível do emprego, por exemplo. A juventude precisa de oportunidades de emprego", disse.

O académico defende que tem de haver "um acompanhamento eficaz relativamente a este crescimento da população''. Este crescimento impõe desafios ao governo, e de um modo geral, ao Estado", assevera.

Independência: PM são-tomense diz que "falta construir democratas"

Na comemoração do 46.º aniversário da independência de São Tomé e Príncipe, o primeiro-ministro Jorge Bom Jesus diz que a democracia no arquipélago é "um dado adquirido", mas impõe-se o exercício do contraditório.

"Eu às vezes digo que a democracia é um dado adquirido, agora precisamos de construir democratas, gente que compreenda que o exercício da democracia é a contradição. E é precisamente no contraditório que nós podemos avançar", afirmou o chefe do Governo em São Tomé, após a cerimónia da "Chama da Pátria", que marca o arranque da comemoração do 46.º aniversário da independência de São Tomé e Príncipe.

Sobre a campanha eleitoral para as presidenciais do próximo domingo (17.07), Bom Jesus afirmou que o Governo acompanha o processo "com toda a expetativa necessária".

"Estamos num contexto pandémico, estado de alerta [devido à covid-19], é preciso criar condições para a vida do povo. O exercício democrático tem de continuar a funcionar", sustentou.

No próximo domingo, os são-tomenses escolhem o sucessor de Evaristo Carvalho na Presidência, cargo a que concorrem 19 candidatos.

As Cacimbas da Môngua e o Berço de Terra

Artur Queiroz*, Luanda 

Minha mãe trauteava uma velha canção enquanto limpava o chão, cozinhava, lavava a roupa na selha que era um barril de vinho do Puto cortado ao meio, ou íamos à capopa buscar água. E quando se calava, eu pedia-lhe mais e mais. Ela, pacientemente, repetia aqueles versos que me encantavam. É assim: “No teu bercinho de terra/ um sino te vai embalar/enquanto de manhãzinha/a chuva te limpa a carinha”. Mamã, por que o menino tem um bercinho de terra? Porque quando morremos a terra nossa mãe passa a ser nosso berço. Mamã, por que a chuva limpa a carinha do menino? Porque a criança ainda não foi enterrada, está estendida à chuva. De todas as coisas tristes, a mais triste é esta: Ninguém enterrar um morto.

Um dia fui ao Cunene em serviço de reportagem. A seca começava nas ruas do Lubango e acabava em Namacunde. Os pastores corriam o nundo à procura de água e pastos. Nem uma coisa nem outra encontravam nos caminhos armadilhados de espinheiras. As mulolas à beira da estrada estavam ressequidas. O capim sequioso. As mulheres punham os olhos chorosos no horizonte e nada acontecia. O tempo decorria lentamente, como quem quer recusar a última hora, a última notícia, o último suspiro. Naquele ano até a fazenda “Gata e Borges” estava seca e o gado definhava à fome e à sede.

O grande rio corria abundantemente. Lembrei-me do coronel Artur de Paiva, que um dia escreveu uma monografia na qual defendia que era um crime deixar a água do rio Cunene correr para o mar, deixando nas suas costas a seca, a fome, a miséria, o desespero.

Mais tarde caiu-me nas mãos um livro técnico intitulado “Carta de Aptidão para Regadio da Zona de Capelongo - Alto Cunene”. Comecei logo a imaginar açudes, desvios do caudal do rio para as planícies infinitas entre a Cahama e Xangongo. Os pastores felizes, as mulheres embalando as crianças nos acampamentos precários de quem tem alma nómada.

Lá em baixo esperava-me um dos choques mais brutais da minha vida. Em todas as aldeias existiam seres humanos esqueléticos, olhos encovados, cabelos hirsutos. Era o retrato da fome na sua versão mais trágica. O que escrever? Nenhum censor deixaria publicar uma só fotografia daqueles seres humanos. Nem um parágrafo do texto ficaria intacto. Estávamos ali para vermos como a fome faz de nós seres tão irrelevantes que só as moscas nos dão importância, poisando em nós. O pior estava para chegar.

Na Môngua resolvi ir à aldeia Oshana Sha Ukwangula visitar as cacimbas eternas, onde a água brota límpida como as lágrimas de mães dolorosas. Pelo caminho encontrei um pai aflito, com um menino ao colo, inerte. Parámos e o homem pediu boleia até às cacimbas, porque a criança estava a morrer com sede. O homem acomodou-se no banco de trás e eu olhei para a criança. O rosto era de fome. Os lábios gretados, muito fechados, como querendo agarrar toda a comida do mundo. Toda a água das cacimbas.

Chegámos às cacimbas e também ali a água escasseava. Conseguimos encher uma lata daquelas do óleo Mobil. O pai foi vertendo água nos lábios da criança. Nenhuma reacção. O homem começou a soluçar, enquanto espargia água sobre o rosto e os cabelos do menino. A quietude da morte tem sempre os mesmos sinais. Dei por mim trauteando a velha canção da minha mãe: “No teu bercinho de terra/ um sino te vai embalar/enquanto de manhãzinha/a chuva te limpa a carinha”.

Na época escrevi a crónica de uma reportagem falhada, mas foi para o lixo. Mesmo que fosse publicada, tinha o mesmo destino. Os jornais diários, no dia seguinte, só servem para as zungueiras embrulharem as suas mercadorias a retalho.

Muito mais tarde voltei ao Cunene. Inundações! A água espraiava-se a perder de vista. Jovens mães, com os filhos às costas, lançavam às lagoas formadas pelos aguaceiros tropicais, mosquiteiros impregnados de insecticida a fazerem de redes de pesca. Em cada lance, vinha peixinho miúdo que depois de seco, garantia pitéu para a família. Grande alarido, gargalhadas, alegria. A quem nada tem é proibido não amar migalhas. Aqueles peixes fizeram a fortuna de muitas mães.

O Presidente João Lourenço mudou a Presidência da República para a província do Cunene, onde vai trabalhar, alguns dias, na qualidade de titular do Poder Executivo. Mui grato ficaria a sua excelência se na agenda de trabalhos incluísse a aprovação de um projecto que, de uma vez por todas, permita o aproveitamento integral da água do Baixo Cunene como já se faz em alguns pontos no curso do rio mais próximo da mãe dos rios Cunene e Cuanza, que nascem a poucos metros de distância um do outro, lá na Babaera. Se é possível regadio no Alto Cunene, também deve ser em todo o seu curso até à foz.

Que nunca mais uma criança do Cunene morra à sede, sem chuva nem água de cacimba que, de manhãzinha, lhe lave a carinha. Peço deferimento, respeitosamente.

* Jornalista 

Imagem do Jornal de Angola – 9 de Julho de 2021.

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