segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Portugal | Requiem por uma máscara

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Requiem por uma máscara

Pedro Candeias | Expresso

Por vezes, a esperança chega numa segunda-feira tempestuosa, de relâmpagos, trovões e ventos e chuvadas fortes como esta: hoje, 13 de setembro de 2021, é o dia em que o uso de máscara deixa de ser obrigatório na via pública, mesmo nas circunstâncias em que a distância de segurança não está garantida.

Não é o grande salto em frente rumo à “libertação total da sociedade” anunciado por António Costa em junho, mas antes um passinho semântico, simbólico e cuidadoso; as memórias dolorosas provocadas pela reabertura no natal passado continuam presentes e em boa verdade o vírus também continua por aí.

O pulo definitivo só será dado após outra reunião com os especialistas do Infarmed - e apenas depois de termos atingido o número mágico dos 85% de portugueses com a vacinação completa. Ora, estes dois momentos cruzam-se com as eleições autárquicas e estão os três marcados para o final de setembro, o mês que médicos e peritos consideram decisivo para a terceira fase de desconfinamento.

As razões são óbvias: as aulas recomeçam amanhã e setembro também marca o regresso ao trabalho, o que implica maior mobilidade e proximidade entre pessoas em edifícios, transportes públicos e ambientes fechados onde a ventilação é escassa, aumentando assim a probabilidade de transmissão do coronavírus.

[Se tem um filho em idade escolar, isto é para si: a máscara é fortemente recomendada a partir dos 10 anos; os pais ficam à porta da escola, o lanche é para vir de casa e quem tiver 38º fica em casa; dez dias de isolamento para sintomas ligeiros e vinte para sintomas graves.]

A DGS, cuja comunicação por vezes confusa e ambígua a obriga a esclarecer os seus próprios esclarecimentos, lançou esta segunda-feira um novo comunicado a reforçar a ideia de que a máscara ainda não é para enterrar, mas para ficar no bolso, especificando os cenários onde esta é obrigatória, recomendada ou dispensável.

O futuro pode decidir-se em 15 dias e ninguém quer ser acusado de o ter comprometido se as coisas eventualmente correrem mal. Outra vez.

Há vacinas mas a situação em Portugal é pior que há um ano

Novos mortos por dia, novos infetados por dia, internamentos gerais e internamentos nos cuidados intensivos. Os números desmentem a tese de que hoje a situação pandémica é melhor do que há um ano. Falso: a situação é pior.

O avanço da vacinação - com os números a aproximarem dos 85 por cento, fasquia para o desconfinamento total - tem criado a perceção de que atualmente a situação pandémica é melhor do que a de há um ano. A verdade crua dos números mostra, porém, o contrário: nos quatro mais importantes indicadores (ver infografia em baixo), Portugal está hoje pior do que setembro de 2020.

O DN comparou os números específicos relativos a 9 de setembro: nesse dia, em 2020, morriam três pessoas; agora morreram dez. O número de novos infetados por dia era de 646; agora é mais do dobro (1408). O número de pessoas internadas era de 392 e agora 569; e as pessoas internadas em unidades de cuidados intensivos são mais do dobro; 52 contra 118.

Estes dados objetivamente desmentem a tese que o avanço da vacinação fez melhorar a situação pandémica: morre-se mais, há mais novos infetados por dia, maior pressão sobre o SNS. O que o avanço da vacinação então poderá eventualmente determinar é que, quando o inverno chegar, a pandemia não terá a progressão absolutamente alucinante que aconteceu no início deste ano, muito por culta do desconfinamento especial determinado pelo Governo no Natal. Os dias 28 e 31 de janeiro foram os piores da pandemia em Portugal: 303 mortos em cada um desses dias. Este é um cenário que nenhum perito em Portugal prevê que se repita.

EUA: o declínio económico de um império

# Publicado em português do Brasil

Em vez de investir no próprio país, Washington joga dinheiro fora em guerras fracassadas. Seu PIB em relação ao do mundo caiu de 30% em 1980 a 15% em 2021. Derrota no Afeganistão sinaliza sua decadência – e mundo em transformação

José Eustáquio Diniz Alves, no Eco Debate | em Outras Palavras

O declínio relativo do poderio da economia dos Estados Unidos da América (EUA) é um fato incontestável. Segundo dados do FMI, a percentagem do Produto Interno Bruto (PIB) americano no PIB mundial caiu de 23% em 1980, para cerca de 15% em 2021, devendo atingir um valor ainda mais abaixo em 2026, conforme mostra o gráfico abaixo.

A cada ano o peso da influência da economia americana fica menor. Os pessimistas dizem que a continuidade deste processo é irreversível e inevitável e significa o declínio contínuo do império americano. Os otimistas dizem que este processo é natural e até positivo, pois outros países passam a ter responsabilidades com a economia internacional e passam a dividir as responsabilidades globais.

O fato é que a economia dos EUA tem tido um desempenho abaixo da média mundial e esta tendência vem se agravando nas últimas décadas, devendo ser a marca dominante no século XXI. Há vários economistas de renome, como Robert Gordon e Larry Summers que falam em estagnação secular. Ou seja, a prevalência de baixas taxas de crescimento econômico no século XXI será o novo normal e o baixo crescimento da renda per capita deverá inviabilizar o processo de mobilidade social ascendente que prevaleceu no passado. E o pior, o crescimento da desigualdade faz com que a parcela do 1% mais rico do país aumente sua parcela de riqueza, enquanto diminui a parcela dos 99% da população. Assim, os EUA podem ser caracterizados como uma potência mundial em declínio e com desequilíbrios sociais crescentes.

Tornar a China oportunidade para privatizações selvagens [1]

# Publicada em português do Brasil

O sonho de George Soros

Michael Hudson [*]

Num artigo no Financial Times, "Investidores na China de XI enfrentam um rude despertar" (30/Agosto/2021), George Soros escreve que a "repressão de Xi à empresa privada mostra que ele não entende a economia de mercado. ...Xi Jinping, o líder da China, chocou-se com a realidade económica. A sua repressão da empresa privada tem sido um entrave à economia". Traduzido desta dupla linguagem orwelliana , "repressão à empresa privada" significa reduzir aquilo que os economistas clássicos chamavam de busca de renda e rendimento não merecido. Quanto ao seu suposto "entrave à economia", o Sr. Soros quer dizer a polarização da economia concentrando a riqueza e o rendimento nas mãos dos Um Porcento mais ricos .

Soros apresenta o seu plano para o modo como uma retaliação dos EUA pode punir a China pela retenção do financiamento estado-unidense das suas empresas (como se a China não pudesse criar o seu próprio crédito) até que a China capitule e imponha a espécie de desregulamentação e destributação que a Rússia fez depois de 1991. Ele adverte que a China sofrerá uma depressão ao salvar a sua economia seguindo linhas socialistas e resistindo à privatização ao estilo americano e à deflação da dívida sua associada.

O Sr. Soros reconhece que o "sector mais vulnerável da China é o imobiliário, particularmente a habitação". A China tem desfrutado de um boom imobiliário prolongado nas últimas duas décadas, mas isso está agora a chegar ao fim. Evergrande, a maior empresa imobiliária, está sobre-endividada e em perigo de incumprimento. Isto pode causar um crash". Com isso, ele significa uma redução dos preços da habitação. É exactamente isso que é necessário a fim de impedir que os terrenos se tornem um veículo especulativo. Eu e outros exortamos a uma política de tributação da terra a fim de arrecadar o valor crescente da terra, de modo a que esta não seja comprometida junto aos bancos para crédito hipotecário para inflacionar ainda mais os preços da habitação da China.

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