Pedro Ivo Carvalho* | Jornal de Notícias | opinião
A pobreza tem muitas faces. Demasiadas demonstrações. A pobreza pode ser um pormenor, um regresso constante a uma fatalidade que passa de avós para pais, destes para os filhos. A pobreza pode ser económica, social, cultural. A pobreza pode ser energética.
O frio voltou a fazer vítimas
A pobreza energética deixou há muito de ser um traço distintivo de uma certa etnografia dos lugares esquecidos. É um mal que se instalou de forma profunda e com força crescente nas latitudes mais povoadas e desenvolvidas, onde floresce o consumo. Mas onde germinam bolsas de atraso que em muitos domínios são civilizacionais. Típicas de um Portugal que não evoluiu, que se cristalizou no preto e branco.
Todos os invernos somos sacudidos por esta inquietude: a somar à pobreza estrutural (que atinge cerca de 20% da população), há esta pobreza mascarada. A do país que não consegue dar-se ao luxo (o qualificativo é quase insultuoso, mas apropriado) de manter a casa quente nos dias mais agrestes. No Portugal da Web Summit e dos unicórnios, no Portugal líder das energias renováveis, continua a perpetuar-se esta penumbra maldita. As tarifas sociais ajudam, mas não resolvem tudo.
As mortes de José Correia e Nuno Correia deviam interpelar os agentes políticos, fazendo deste um tema obrigatório da campanha eleitoral. Um país que não garante condições económicas básicas aos seus cidadãos para manterem a habitação aquecida é o quê, senão um país do Terceiro Mundo?
*Diretor-adjunto
Imagem: Pedro Correia/global Imagens
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