segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Angola | SAVIMBI RESSUSCITADO ADALBERTO ENXOTADO

Artur Queiroz*, Luanda

A TPA, canal público de televisão, hoje prejudicou gravemente a UNITA ao apresentar uma “acção de massas” que ocorreu no domingo, no Cuando Cubango. As imagens não mentem. Dezenas de activistas tinham vestidas camisolas com a foto de Jonas Savimbi. E para ninguém ter dúvidas, por baixo da foto a legenda: Dr. Savimbi. Nada mudou desde a sua morte, há 20 anos (faltam poucos dias), no Lucusse. Todas e todos os que estiverem na direcção do Galo Negro vão imitar o criminoso de guerra.

Bispo Viti. Guardava na catedral de Menongue as bombas para os atentados terroristas da UNITA. Usumba ungwete l’okuluma, asangu andjitayla! Temor e tremor se apoderaram de mim, quando soube deste crime hediondo. A minha filha Anabela esteve com ele, quando a baptizou no Huambo! O perigo que correu a minha amada Bebé.

Padre António Oliveira, conhecido como o “Padre de Savimbi”, escreveu isto sobre o líder da seita do Galo Negro: “A Jamba era uma base militar. Savimbi começou por, simplesmente, não respeitar ninguém. Tanto é que matou o embaixador Wilson Santos e os filhos, como matou depois várias pessoas. Nzau Puna e Costa Fernandes tiveram que fugir senão os liquidaria. Também começou a matar generais, quando as derrotas se acumularam. Foi a partir daí que tudo se desmoronou à sua volta”. Está enganado, senhor padre Oliveira. Savimbi continua a sero líder e está vivo no espírito dos criminosos de guerra que lhe sobreviveram. Veja as imagens do comício de ontem em Menongue.

Mas o padre Oliveira tem razão quando escreve que Angola “não ganharia nada com ele”. O sacerdote que em 1992 encontrei como responsável do Instituto Pio XII em Lisboa escreve isto sobre o chefe da seita de criminosos de guerra: “Naquele dia 22 de Fevereiro de 2002, o homem que Fred Brigland considerava ‘uma chave para a África’, numa biografia que tinha projectado a sua imagem de carismático político e militar, cai a combater, sem honra nem glória”.

Os sicários da UNITA não sabem o que é honra e pensam que a glória há-de chegar às cavalitas dos bispos e padres do Galo Negro, eles também promotores do banditismo político, a partir dos púlpitos e altares das igrejas.

Padre António Vakulukuta era um intelectual angolano de dimensão invulgar. No exílio, em França, aderiu à UNITA, para desgosto dos seus amigos do MPLA. Savimbi assassinou-o à paulada, em 1985. Exactamente porque era um intelectual e antes do seu doutoramento em Grenoble, tinha estudado num seminário da Igreja. Não foi capaz de esconder que sabia mais do que o chefe da seita.

Já circulam nas redes sociais listas dos “traidores da UNITA”. Rezem para que os sucessores de Jonas Savimbi nunca cheguem ao poder. Os activistas que ontem envergavam camisolas com o retrato do criminoso de guerra são um aviso muito sério. Manuvakola, traidor. Abel Chivukuvuku traidor. Generais Gato, Numa e Dachala traidores, receberam dinheiro do Presidente José Eduardo dos Santos para trair. O general Gato é acusado de ter facilitado a vitória de Adalberto da Costa Júnior para tramar Isaías Samakuva.

Grande traição! Colocaram o general Manuvakola na máquina eleitoral da UNITA. A Frente Patriótica Unida é “uma aliança de todos os traidores do pai e mestre Jonas Savimbi”. Liberty está feito com Chivukuvuku. Traidores. A loucura atingiu gravemente os sicários do Galo Negro. Já afirmam abertamente que “todos os tios do Huambo são traidores”. Mas não dizem quais não são. Assim, uma vez no poder, dá para matar tudo à paulada, a tiro, nas fogueiras ou enterradas e enterrados vivos. Usumba ungwete l’okuluma, asangu andjitayla! Temor e tremor se apoderam de mim.

Eis a lista dos traidores a abater quando os padres e bispos da UNITA garantirem o poder ao Galo Negro: “General Gato, engenheiro Adalberto que não é engenheiro, general Apolo, general Numa, brigadeiro Chivukuvuku, general Manuvakola, brigadeiro Dachala, João Bapista Vires, Doutor Álvaro Chicumuanga, Américo Chivukuvuku, Helena Bonguerra, Liberty Chiaca e Arlete Chimbinga”. O que têm em comum? São da província do Huambo. Usumba ungwete l’okuluma, asangu andjitayla! Temor e tremor se apoderaram de mim. O que vou fazer aos meus filhos do Huambo? Onde escondê-los dos sicários do Galo Negro? Já sei. Debaixo das saias dos bispos e padres da UNITA.

E a maka da kamanga? Bonito. Anselmo Agostinho publicou no portal Tribuna de Angola um texto que explica o ressentimento dos bispos e padres da UNITA com o Executivo do Presidente João Lourenço: 

“A resposta para o desgosto da Igreja com o governo foi fácil de encontrar e tem um nome: Canonici Investimentos SA, uma empresa de comercialização de diamantes brutos. Em 2014 começou por alcançar nove milhões de dólares com as suas actividades, mas já em 2015 obtinha um resultado espectacular de 145 milhões de dólares (...) começando a decrescer em 2017 (ano da chegada ao poder de João Lourenço) para 3,7 milhões de dólares. Quer isto dizer que esta empresa obteve uma receita superior a 170 milhões de dólares. Essa receita terminou com o mandato do Presidente João Lourenço, quando se empenhou em combater a imigração ilegal e o tráfico ilícito de diamantes, naquela que foi chamada Operação Transparência”.

E quem é a principal beneficiária da Canonici Investimentos? 

Resposta do portal Tribuna de Angola na pessoa de Anselmo Agostinho: “ A Igreja Católica era a beneficiária efectiva, a dona, da Canonici Investimentos, obtendo avultadas receitas em virtude do comércio de diamantes. Mais de 150 milhões de dólares em três anos. Tudo isto acabou com João Lourenço. Não admira que os bispos se virem contra o Presidente, pois foi a sua Operação Transparência que acabou com os lucros infiéis da Igreja Católica”.

Sabem que mais? Espero sinceramente que o portal e o autor estejam a delirar. Mas como estes factos me chegaram por outras fontes, é evidente que o alarido dos bispos e padres da UNITA tem a ver com a kamanga. Fala, Imbamba! Fala, Chissengueti! Falem, almas do Diabo!

*Jornalista

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