Kulembe era duro e Cimbiambiulu dura era. Não podiam dormir na mesma cama. Os que são avisados e conhecem os sentimentos sabem de fonte limpa que dois teimosos não podem viver juntos. O velho Nangombe, sábio que atravessou todas as montanhas e respirou a brisa do mar, deu aos dois jovens uma lição: Nem todos os caminhos são para trilhar nem todas as opiniões são para desprezar.
Assim falou o sábio a seu neto Kulembe:
- U watimba, u watimba, kavalala ula umosi!
Não foi ouvido. Os jovens só gostam de ouvir palavras que enalteçam os seus feitos e elogiem os seus defeitos. Quando a verdade sai da boca dos velhos e fere sua vaidade, eles ficam olhando para nada e tapam os ouvidos com uma cortina de silêncio.
Kulembe desposou a bela Cimbiambiulu e ainda não tinham entrado em casa, já estavam a discutir. Ele disse que estava cansado, porque a festa do casamento começou cedo e o dia estava a terminar. Ela contrariava:
- Não, a noite está a começar e com ela a nossa festa vai continuar!
Desde então as discussões eram constantes. Um dia, Kulembe estava tão desesperado com as discussões que saiu de casa e foi procurar o seu avô Nangombe. Contou-lhe que em casa havia mais discussões do que silêncio, mais teimosia do que acordo. O velho olhou para o neto e disse:
- As tuas dores são como faca que trespassou o teu coração. Olongembia vyove vyasoka nd’omoko yatombola utima wove.
E prosseguiu pausadamente:
- Quando descobrimos os defeitos da nossa amada, o amor afunda-se no sofrimento.
Namgombe explicou ao neto que a teimosia muitas vezes é filha da imaturidade. E lembrou uma advinha que lhe tinha ensinado na infância:
- Saltando e saltando no rochedo, o que é?
Kulembe recordou os doces anos da infância quando sentado nas pernas do avô que o criou, ele perguntava com a sua voz pausada:
- Tonga! Tonga! p’ohanda?
O menino não sabia responder. O avô guiava-o pacientemente para a resposta. E quando ele quase rebentava de curiosidade, o velho dava a resposta:
- Omol’ombambi olilongisa okutongela! É o filho da gazela aprendendo a saltar!
Antes de percorrer os imensos capinzais, procurar o pasto e a água, cuidar das crias, é preciso aprender a saltar. Ninguém chega ao fim sem primeiro partir e aprender a percorrer o caminho.
Kulembe regressou a casa e chamou afectuosamente a bela Cimbiambiulu. Disse-lhe que dois teimosos não podem viver juntos. Mas se houver compreensão a teimosia dá lugar ao acordo. A mulher respondeu:
- A teimosia só é defeito quando não somos capazes de aceitar a opinião dos outros. A compreensão, muitas vezes, esconde a submissão.
Aquela bela mulher era mesmo teimosa. Mas Kulembe pensou nas suas palavras e viu nelas um fundo de verdade. Ele gostava de submetê-la e sentia-se bem quando ela lhe obedecia. Prometeu a ele próprio que havia de ter mais cuidado para que a bela Cimbiambiulu não sentisse que estava a ser submetida à sua vontade.
A mulher também reflectiu nas
palavras do marido. E reconheceu que se fosse mais compreensiva não existiam
tantas discussões
A tia de Cimbiambiulu disse-lhe um dia, que se confiarmos a uma criança a tarefa de rapar o porco da festa, arriscamo-nos que fiquem ainda muitos pêlos. A carne fica feia e as patas se não forem bem rapadas, ninguém as pode tragar.
Depois desta lembrança decidiu que ia ser mais compreensiva. Passaram-se os dias e as discussões foram rareando. A concórdia tinha entrado em casa de Kulembe e da bela Cimbiambiulu.
Um dia entrou a desgraça. Kulembe partiu para outra aldeia e constituiu uma nova família, com uma mulher submissa.
Cimbiambiulu ficou triste mas lembrou-se das palavras da tia, quando saiu da casa de seus pais para casar:
Tjikola kokatjyetji k’olombwa, pamwe kokambili olomota vyene vyapanga k’olongulu, sanga vivikosa l’akondjo avyo, ha vipongoloka okûtoñolavo.
Ninguém dê aos cães um manjar. Nem dê pérolas a porcos, porque as pisarão e voltam-se contra vós para vos despedaçar também.
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