O Elefante Poderoso dominava terras, rios e lagos. Quando passava, pachorrento, todos os animais se curvavam respeitosamente. Até o leão caçador lhe rendia vassalagem. Mas a Lebre Inteligente desafiava o seu poder. Enquanto todos se submetiam à sua força e majestade, ela tratava-o como um igual. Um dia, a Onça Ágil falou com a lebre e ouviu dela uma confissão inesperada. Percorreu todos os cantos da floresta e informou o que soube nessa conversa: O poderoso afinal era criado da inteligência.
A Onça Ágil, sempre desconfiada, naquele dia prodigioso perguntou à Lebre Inteligente:
- Por que razão tu não te curvas ante o Elefante Poderoso?
A Lebre Inteligente respondeu com um sorriso de escárnio:
- Alguma vez uma senhora se curvou ante o seu criado?
A Onça Ágil riu-se da resposta mas a Lebre Inteligente insistiu, com ar sério:
- O Elefante Poderoso é o meu criado!
Foi então que a Onça Ágil percorreu todas aquelas paragens dando a notícia: o elefante é criado da lebre. Os poderosos são criados da inteligência!
O Elefante Poderoso um dia saiu da sua aldeia e no caminho encontrou uma grande assembleia de animais. Todos discutiam acaloradamente e reinava a confusão. Uns diziam que a Lebre Inteligente era louca e não merecia crédito. Outros diziam que o tamanho dos animais não é sinónimo de poder. No auge da discórdia, chegou, mesmo a propósito, quem podia tirar todas as dúvidas. O macaco perguntou logo ao elefante:
- É verdade, meu rei, que é criado da Lebre Inteligente? O Elefante Poderoso levantou a tromba e soltou um urro tremendo:
- Vou tratar dos meus negócios e quando regressar, respondo a essa questão. Tenho coisas mais importantes para resolver.
O Elefante Poderoso prosseguiu o seu caminho mas quando chegou à margem de uma lagoa, encontrou o veado a beber.
- Quando acabares de beber vai avisar a lebre que preciso de falar com ela, que esteja preparada porque tem de ir comigo a uma assembleia dos bichos da aldeia.
O veado mal acabou de beber, foi avisar a Lebre Inteligente. Mas ela não se perturbou com o aviso. E ficou a brincar com os outros animais, até ao momento em que ouviu ao longe os passos pesados do Elefante Poderoso. Foi para a sua toca e ficou à espera.
O elefante viu a lebre com ar muito triste e gemendo.
- O que tens, Lebre Inteligente?
- Estou muito doente! Nunca me senti tão mal.
- Lamento, mas tens que ir comigo à assembleia dos animais. Andam por aí a dizer que sou teu criado. Temos de esclarecer imediatamente isso.
A Lebre Inteligente, com ar pesaroso, respondeu:
- Eu vou à assembleia, mas como estou muito doente, preciso de viajar nas suas costas, Elefante Poderoso!
O elefante aceitou a proposta e antes de partir pediu aos tocadores de tambores que avisassem todos os animais para a assembleia magna.
A Lebre Inteligente seguia às costas do Elefante Poderoso e pelo caminho, quando surgia algum animal, ela soltava os seus sons guturais:
- Estão a ver? O elefante é mesmo o meu criado. Ele leva-me às costas para a assembleia!
Os animais corriam pela floresta e quando chegavam ao local da assembleia, contavam que viram o elefante transportando a lebre!
Quando chegaram ao destino, a Lebre Inteligente levantou-se e lá do alto das costas do elefante e exclamou:
- Vocês que não acreditavam, agora já viram com os vossos próprios olhos, o Elefante Poderoso é meu criado!
Todos os animais abandonaram o local da assembleia, muito admirados. A lebre saltou para o chão e partiu às gargalhadas. Só ficou o leão. O Elefante Poderroso perguntou-lhe:
- Tu também acreditas que sou criado da lebre?
E o leão respondeu:
- Para bom entendedor meia palavra basta. Todos viram que a lebre chegou aqui às tuas costas!
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