sábado, 28 de maio de 2022

Guiné-Bissau | PAIGC disposto a "ceder" para integrar Governo de Sissoco

Crítico do Presidente da República, o PAIGC diz que espera uma "presença razoável" no Governo e que, se for preciso, fará "cedências".

O 'bureau' político do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) autorizou a comissão permanente a avaliar a participação do partido num futuro Governo de iniciativa presidencial proposto pelo chefe de Estado, Umaro Sissoco Embaló.

Em entrevista à DW, o dirigente do PAIGC, Manuel dos Santos, que deverá encabeçar a delegação negocial, não entra em detalhes quanto às condições do partido para a sua participação no Governo, mas deixa claro que quererá uma "presença razoável" na nova formação.

DW África: O PAIGC vai integrar um Governo de iniciativa presidencial?

Manuel dos Santos (MS): É evidente que, com o fim da 10ª legislatura, temos que preparar a 11ª. Isso envolve recenseamentos eleitorais, eleições e uma Comissão Nacional Eleitoral, que hoje não existe... Portanto, achamos que o PAIGC não pode estar ausente desta preparação das próximas eleições. Essas são as razões que motivam o partido a entrar neste Executivo, para além do facto de o PAIGC poder dar uma contribuição positiva no melhoramento da situação geral das populações aqui na Guiné.

Agora, vamos negociar a entrada. Em princípio, serei o chefe da delegação negocial que se vai sentar com os representantes do Governo para vermos qual será a distribuição dos pelouros do Estado, que vão ou não caber ao PAIGC.

DW África: O que irá pesar nessa negociação? Ou seja, o que faria o partido recuar na intenção de fazer parte desse Governo?

MS: O que está em causa é que nós, para participarmos num Governo desses, temos que ter uma presença razoável no Governo ,que vai tomar decisões importantes sobre os problemas que houve recentemente - sobre a CNE, sobre o recenseamento eleitoral, sobre as eleições e todo o processo.

DW África: E já têm condições claras a apresentar nessa negociação?...

MS: Nós, PAIGC, temos ideias claras, sim.

DW África: O que é para o PAIGC uma "presença razoável" no Governo a que se refere? Tem alguma exigência concreta?

MS: Temos, sim, mas não vamos divulgar, como é óbvio. Isso far-se-á durante as negociações.

DW África: O PAIGC tem-se pautado por uma posição bastante crítica relativamente ao Presidente guineense e está em permanente rota de colisão com Sissoco Embaló. Ao integrar agora um Governo de iniciativa presidencial, não temem que possa suscitar críticas, nomeadamente de alguma incoerência por parte do partido?

MS: Isso não nos incomoda muito, porque a finalidade do PAIGC é trabalhar para o povo da Guiné, e se nós temos que fazer algumas cedências nesse aspeto, fá-lo-emos. Aqui não se trata de posições de orgulho ferido ou de incoerência. O camarada presidente do partido [Domingos Simões Pereira], quando saiu do encontro com o Presidente, disse claramente que os interesses do país estão acima da necessidade que ele tem de preservar a sua imagem e da eventual [falta de] coerência de que nos podem acusar.

DW África: Esta semana participou num encontro com o Presidente. Com que impressões saíram desse encontro?

MS: Saímos com a impressão que há, de facto, uma mudança por parte do Presidente e há uma certa distensão no clima. Penso que isso é bom para podermos chegar a um entendimento que viabilize a próxima legislatura e que ponha o país em melhores circunstâncias.

DW África: Caso as negociações avancem e o PAIGC integre este novo Governo, quais serão as prioridades do partido?

MS: Por um lado, nós queremos dar uma contribuição para melhorar a situação geral do país, devido à experiência que nós temos e, por outro lado, temos que preparar a próxima legislatura - atualizar o recenseamento de eleitores, mudar a Comissão Nacional de Eleições e todo o seu staff e realizar as próprias eleições. Essas são as nossas prioridades.

Cláudia Marques | Deutsche Welle

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