Artur Queiroz*, Luanda
O livro “Vigarices & Sacanices” foi publicado na extinta e saudosa editora Centelha, colecção Coisas do Carvalho, em 1985, já lá vão 37 anos. Infelizmente, não teve leitores mas esse é o destino da mercadoria que não cumpre as regras do difícil comércio das palavras. Nessa altura, de Angola, só incluí dois escroques que roubaram milhões a alguns colonos ricaços, vendendo-lhes cheques visados em escudos da “metrópole” ao preço da batata de Vila Flor (Ekunha).
Indirectamente, também entrou na obra de tese, dedicada a Mário Soares por tudo o que deu à causa, o soberbo vigarista Alves dos Reis, proprietário do Banco Angola Metrópole e que fez dinheiro verdadeiro, sem autorização dos ladrões de Lisboa, para salvar a colónia da bancarrota. Notas de mil ao preço da chuva!
O Príncipe Potemkine também teve a honra de figurar no livro. Se algumas e alguns analistas, professoras e professores de ralações internacionais, coronéis recrutas e generais faxineiros portugueses lessem esse capítulo, não diziam tantos disparates sobre a Ucrânia e saberiam que a “Crimeia” foi criada por ele, desde Odessa a Sebastopol, passando pela região do Dombass com suas cidades e cearas de trigo. Tudo aquilo era um deserto que o espantoso governante e amoroso vigarista transformou no paraíso, para agradar à sua amada Catarina, a Grande, a Imensa, a Inigualável.
Já me passou pela cabeça fazer uma segunda edição do fracassado produto incluindo apenas vigaristas e sacanas de Angola, actuando entre Setembro de 1992 e 2022. Mas já não tenho tempo de vida para escrever umas cinco mil páginas, para mais nunca para menos. Assim, para alertar os incautos e dedicando cada prosa ao Adalberto Costa Júnior, Abel Chivvukuvuku e Filomeno Vieira Lopes, vou revelando o “retrato paga já” de algumas e alguns. Já vos contemplei com a Mihaela Webba, empenada filha da Josefa Neto e do José Webba, acérrimos defensores do regime de Ceausescu, o ditador romeno.
Hoje, os vigaristas de que vos falo estão metidos numa coisa tenebrosa, que pinga diamantes de sangue por todos os bolsos, chamada Movimento Cívico Mudei com uma secção pomposamente baptizada Projeto de Monitoria Eleitoral Jiku. Os vigaristas entram logo a matar e dizem que aquilo serve para “ alargar a oferta de informação aos cidadãos, com qualidade e rigor, oferecendo alternativa para informação tantas vezes destinada a manipular a opinião pública. Para alcançar esse propósito, decidimos investir na condução de estudos independentes, desenhados e conduzidos com rigor, e tornar públicos os seus resultados. Assim sendo, ficou convencionada a realização inquéritos mensais sobre a intenção de voto a nível nacional”.
Um dos vigários que dá a cara, como não podia deixar de ser, é “um académico”. Professor doutor! Chama-se Paulo Faria. A Universidade Agostinho Neto não lhe renovou o contrato porque privilegiou professores dos quadros. O artista e virou logo criado às ordens da UNITA. Um à parte. Aquela senhora da recuperação de activos, apanhou tantos milhões e não consegue apanhar nada dos diamantes de sangue roubados pela UNITA? Cá para mim há conivência. Adiante.
O Paulo Faria tem isto no
currículo: Licenciado em Filosofia e Humanidades, pela Faculdade de Filosofia
de Braga, Universidade Católica Portuguesa e realizou o Mestrado
Outro mentor do Movimento Cívico Mudei, que faz “inquéritos” eleitorais, é Jeiel de Freitas, mentor do Jango Cultural, Huambo, e “comentador residente” na Rádio Eclésia. Este é sócio da Albertina Navemba Ngolo Felisberto “Navita”, deputada da UNITA . Apresenta-se como independente porque não quer que lhe revistem os bolsos onde guarda o dinheiro dos diamantes de sangue.
Na Rádio Eclésia, o azougado rapaz diz coisas destas: “Basta de dirigentes que não se importam com o povo. Se o governo não muda, nós mudamos o governo. Então apelo a toda a juventude e não só, a abraçarmos a partir de hoje esse movimento: “Sem asfalto não há voto”. O galito negro às riscas já vai no Projeto de Monitoria Eleitoral Jiku que até 24 de Agosto pretende manipular consciências e dar à UNITA vitórias eleitorais esmagadoras. Como a realidade será bem diferente, depois abrem as goelas gritando: fraude! Fraude! Fraude! E avançam os gangsters e assassinos do Abílio Camalata Numa.
O Movimento Cívico Mudei é disfarce das seguintes organizações: Mosaiko (fundada por missionários dominicanos Igreja Católica), Handeka (presidente Alexandra Simeão, extinta por falta de votos, mais Luaty Beirão e o Hitler Samussuku Surukuku), Ambuila, Friends of Angola (instrumento da CIA), Jango Cultural (Huambo), Rede de Activistas de Benguela (CIA) e o portal Club-K (UNITA, serviços secretos da África do Sul e de algumas potências ocidentais).
A vigarice tem como parceiros: Laboratório de Ciências Sociais e Humanidades da Universidade Católica de Angola (LAB), Mbakita (Cuando Cubango), Associação Ame Naame Omunu (Cunene), Mentes Brilhantes (Bié), Soka Yola (Huíla) ou o portal ISTO É NOTÍCIA.
O Movimento Cívico Mudei exige estar presente “em todas as assembleias e mesas de voto, sendo os seus membros dotados dos mesmos direitos e deveres inerentes aos observadores, a fim de assegurar a transparência do processo eleitoral”. Exige o reconhecimento de um “Observatório de Imprensa com a missão de monitorizar a imprensa na generalidade e verificar que é dada a todos os partidos igualdade e imparcialidade de tratamento pelos medias”. Esta parte faz-me lembrar um tal OPSA, instigado pelo Fernando Pacheco, o grande sábio e conselheiro de partidos que são extintos por falta de votos.
Leiam bem o que esta gente pensa da Liberdade de Imprensa: “Que sejam advertidos e subsequentemente punidos os órgãos de comunicação social que forem alvo de denúncias provadas de favoritismo a qualquer um dos partidos, no período pré-eleitoral e eleitoral (…). Comportamentos desta índole que não sejam corrigidos e punidos com efeito imediato serão interpretados pelo Movimento Cívico Mudei como conivência com fraude eleitoral”. Nem nos velhos tempos da censura colonial e da PIDE os colonialistas iam tão longe. Isto é a UNITA com o rabo das fogueiras de fora.
Mais esta: “Qualquer votação antecipada terá impreterivelmente de ser acompanhada pelos delegados de lista dos partidos concorrentes, pelos observadores eleitorais e membros do Movimento Cívico Mudei, considerando-se inválido qualquer resultado produzido sem que esses pressupostos estejam cumpridos.” Portanto, já sabem. Sem este apêndice do Galo Newgro, não há eleições, não há votos, não há resultados eleitorais. Se não obedecerem às ordens dos sicários da UNITA disfarçados de “sociedade civil” avançam os revus e os gangues do Abílio Camalata Numa. Estou a avisar!
Agora vamos à vigarice da “sondagem” de Junho. O Movimento Cívico Mudei recorre à aldrabice que é o Projeto de Monitoria Eleitoral Jiku para dizer que a UNITA/FPU tem 48,5 por cento das intenções de voto e o MPLA 29,8 por cento. Isto vale alguma coisa? Nada. Habilidosamente, os vigaristas não chamam a esta manipulação grosseira uma sondagem. Não podem. Quanto mais não seja porque não apresentam uma ficha técnica. Nem cumprem a lei. Mas a trafulhice é ainda mais grave. Apresentam a UNITA/FPU que não existe. Não há nenhum concorrente às eleições de 24 de Agosto com esta designação. Logo, é tudo falso.
Os vigaristas do Movimento Cívico Mudei/Projeto de Monitoria Eleitoral Jiku não incluem partidos que concorrem às eleições e podem alterar tudo. Para provarem que existem e trabalharam em todo o país, publicaram umas fotos de pessoas com camisolas da organização, sozinhas, em pose, no Bungo (Uíje), Catabola (Bié), Cameia (Moxico), Chicala Choloanga a das Boas Águas (Huambo) e Caimbambo (Benguela). Logo, são credíveis. Vigaristas primários, desavergonhados e provocadores.
Mais um pormenor que mostra a UNITA com o rabo das fogueiras da Jamba de fora. O Movimento Cívico Mudei/Projeto de Monitoria Eleitoral Jiku divulgou um texto onde explica como fez as “sondagens”. Aquilo não foi escrito por angolanos, porque em Angola não está em vigor o acordo ortográfico que os portugueses seguem acefalamente. Também não tem a marca dos brasileiros porque o texto não foi redigido em português do Brasil. Pois é. Aquela vigarice foi cozinhada em Portugal, pelo lobi da UNITA. Espero que o departamento de sondagens da Universidade Católica Portuguesa não esteja metido neste logro.
Um país não resiste a tantas falsificações, tantas vigarices, tantas manipulações. Admitir estes golpes baixos é o mesmo que encomendar o caixão para o regime democrático. Isso pode interessar a muita gente, a muitos povos, a muitos países. Mas não interessa ao Povo Angolano. Quem tem autoridade e legitimidade para acabar com estes crimes graves, que o faça, antes que seja demasiado tarde. O banditismo político nem excepção pode ser, quanto mais regra geral!
*Jornalista
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