segunda-feira, 18 de julho de 2022

Angola | AS ELEIÇÕES E AS AMEAÇAS DOS ESPIÕES – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A política só tem nobreza se assentar em princípios éticos e estiver ao serviço das pessoas. Os angolanos neste aspecto estão bem servidos. A esmagadora maioria dos políticos está empenhada na construção da democracia e cumpre escrupulosamente as promessas feitas aos eleitores. 

Na legislatura que termina em 24 de Agosto, o programa de governo do MPLA foi sufragado pela maioria absolutíssima dos angolanos. Apesar da pandemia COVID19, o Executivo teve artes de cumpri-lo e em alguns pontos, até foi ultrapassado. Nesta legislatura, ninguém tem dúvidas, os eleitos cumpriram com rigor e responsabilidade.

A Constituição da República define as balizas da acção política, garante liberdades e direitos. Todos os angolanos devem orgulhar-se da Lei Fundamental. Mas a memória diz-nos que a UNITA abandonou a Assembleia Nacional na hora da votação. Desonrou o compromisso que assumiu com o seu eleitorado e pôs em causa um dos fundamentos da democracia. 

O líder do Galo Negro não está arrependido de tanto atropelo. Pelo contrário. Quando anunciou a sua “frente” esquinada prometeu que, se for eleito em 24 de Agosto, vai mudar a Constituição de 2010. Ninguém reagiu ao anúncio de um golpe constitucional feito pela UNITA, apesar da gravidade de tal pronunciamento. 

Os mais letrados conhecem aquele poema de Brecht sobre os nazis. Primeiro vieram prender os sindicalistas mas eu não me importei, não sou sindicalista. Depois vieram buscar os comunistas mas eu não tenho nada a ver com isso, não sou comunista. Prenderam os judeus mas eu não me preocupei, não sou judeu. Hoje vieram buscar-me…

Os menos letrados conhecem o filme de terror muito melhor. Quando os sicários da UNITA chegaram das matas começaram a prender, matar e torturar quem não veio dos quartéis e acampamentos montados pelos nazis sul-africanos para os sicários do Galo Negro. Perguntem aos sobreviventes do Huambo, do Bailundo, do Andulo, do Cuito, do Luena. As angolanas e os angolanos do Sumbe tiveram razão quando proibiram Jonas Savimbi de aparecer na cidade. Os mártires do Cuito e do Luena sofreram autênticos crimes contra a Humanidade.

A maioria política da legislatura que agora termina tem de ser renovada para bem do Povo Angolano. O eleitorado premiou em 2017 políticos honestos, responsáveis e trabalhadores. Penalizou os que apostaram tudo no caos político e na instabilidade social. Os angolanos querem ir para a frente. Sabem que a guerra, a violência, o caos, além de terríveis destruições e das perdas maciças de vidas humanos, pôs Angola a andar para trás pelo menos um século. A UNITA é responsável por esse descalabro.

As perdas, em alguns sectores, são irreparáveis. Vamos precisar de muitas décadas para afinar a Educação, melhorar o sistema de Saúde, desenvolver a Economia. Angola está entre dois mundos antagónicos: os que querem andar para a frente e dão tudo para resolver os problemas que temos, o MPLA. E os que só sabem andar para trás, a UNITA/ADI Timor. 

Quem fugiu do Parlamento para inviabilizar a aprovação da Constituição da República ainda está com a cabeça na “capital” de Savimbi, o acampamento da Jamba que tinha como programa social maior, um sinaleiro e uma escola de condução. Por trás do folclore estavam os traficantes d droga, diamantes e marfim. Tudo o resto era próprio de um quartel abandalhado. 

Os que querem andar para trás lembraram, numa “conferência internacional”, esse extraordinário ganho para a democracia no mundo, que foi o quartel da Jamba, montado pelos chefes militares do apartheid, na lógica dos bantustões. Quem quer recuperar o tempo perdido e tem pressa em andar para a frente, só pode sentir uma inquietante perplexidade. 

O líder da UNITA, muitas e muitos deputados ainda se sentem ajudantes do regime de apartheid. Quando nos dizem que lutaram pela democracia, só nos resta uma profunda preocupação: O regime democrático não se compagina com o assassinato de companheiros de luta só porque ousaram questionar o chefe, como aconteceu com vários membros da família Tchingunji, Jorge Sangumbe, Vakulukta, Wilson dos Santos, Ana Isabel Paulino e tantos outros. Nenhum democrata alguma vez aceitaria combater ao lado dos nazis de Pretória. Na boca dos que só sabem andar para trás, a palavra democracia perde o sentido.

A UNITA, nas primeiras eleições multipartidárias, prometia “calças novas” aos angolanos. Quando perdeu, matou os alfaiates. Depois demoliu à lei da bala o Acordo de Bicesse, generosamente oferecido a Savimbi e os seus cabos de guerra. Agora quer impedir a reconstrução nacional e aprisionar o Povo Angolano aos escombros que criou. Mas é bom que o líder da oposição diga sem ambiguidades o que quer dizer com “alterar a Constituição e mudar a forma de eleição do Presidente da República”. 

Mas seja o que for a essência da proposta, uma coisa já não vai ser possível, por muito que consiga pôr o tempo a andar para trás. Savimbi, nunca mais! E o apartheid também não. Vamos seguir em frente porque renovar a maioria absoluta do MPLA é a única via para o futuro. O Presidente João Lourenço sabe que Angola tem que avançar e no mundo globalizado é necessária a ajuda de todos para que esse avanço seja sólido e irreversível. 

Nos anos 80, O Governo da República Popular de Angola pôs em prática uma política externa que consistiu na construção de pontes com todos os países que de alguma forma estavam de costas voltadas para Angola ou eram hostis. Aos poucos foi possível transformar em amigos, aqueles que tinham práticas políticas e diplomáticas pouco ou nada amistosas. Entre esses equivocados convertidos, está Israel. Mas pelos vistos começou o caminho de regresso ao passado da Jamba e do regime de apartheid.

O acordo de Nova Iorque significou o coroar dessa política inteligente. Desde então, Angola acumula apoios e amizades, apesar de ter que enfrentar, com infinita paciência, os que querem o tempo a andar para trás. As eleições de 24 de Agosto vão renovar a maioria do MPLA e a UNITA pode ter o pior resultado de sempre. Angola vai andar para a frente ainda com mais velocidade. 

Os que querem obstinadamente pôr o tempo andar para trás, estão às portas do caixote do lixo da História de Angola. Fazem tudo para se excluírem das suas páginas. E nessa exclusão, estão a amputar o regime democrático. A ligação da UNITA à empresa israelita ADITimor é um sinal inquietante. O jornalista israelita Yonah Jeremy Bob publicou em Janeiro, no jornal Jerusalem Post, pormenores sobre a forma como agentes da Mossad (serviços secretos israelitas) interferem nos processos democráticos africanos. Nessa peça ocupava especial relevo a consultora israelita da UNITA e de Adalberto Costa Júnior, ADITimor.

Em Agosto de 2020, 14 israelitas da ADI Timor chegaram num jacto privado a Acra, capital do Gana. Foram apresentados como “especialistas em tecnologias da informação”, que iam apoiar a indústria ganense. Mais tarde descobriu-se que foram ao Gana para influenciar as eleições de Dezembro 2020. Dois foram identificados como Amit Waisal e Adi Danino, oficiais da Mossad. Nana Akufo-Addo foi eleito presidente com uma margem mínima. O seu oponente, John Mahama, denunciou graves irregularidades, que foram confirmadas. O “trabalho” foi creditado aos agentes secretos israelitas.

Oficiais da Mossad estão cada vez mais envolvidos em eleições e actividades governamentais em toda a África. Agora chegou a vez de Angola, pela mão da UNITA e Adalberto da Costa Júnior. Estes agentes secretos (apresentam-se como “ex”) usam técnicas ilegais que aprenderam noa Mossad ou na Unidade 8200 (unidade de espionagem cibernética de Israel) em campanhas eleitorais africanas.

A ADI Timor está neste “pacote” de agentes secretos peritos em escutas ilegais e pirataria informática. Adalberto da Costa Júnior e a UNITA acabam de anunciar que é a sua “consultora” para as eleições de 24 de Agosto.  

A ADI Timor está preparada para repetir em Angola os métodos usados nas eleições do Malawi. A técnica é criar uma “voz de barragem digital” com uma intensidade que nunca antes foi vista no mundo. Se não “der certo”, partem para a “contestação judicial” com centenas de queixas! Assim entopem o sistema e avançam os golpistas de rua.

*Jornalista

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