sexta-feira, 12 de agosto de 2022

FORMOSA E NÃO SEGURA

Joana Amaral Dias* | Diário de Notícias | opinião

Bem-vindos à Terceira Grande Guerra Mundial. Já começou, não sabia? Resta saber como e quando acaba.

O volante do velho continente parece ter sido capturado por um animal febril de insanidade. Talvez uma galinha sem cabeça. Desde o início da guerra na Ucrânia, que a Europa se liquefaz. De fevereiro para cá, assistimos à queda dos governos italiano, estónio, búlgaro. No Reino Unido, Boris Johnson também passou à história, na Irlanda do Norte o Sinn Féin chegou ao poder, em França Macron perdeu a maioria e na Alemanha o Governo esbarra em dificuldades. Os protestos na Holanda e na Hungria, a inflação a galope na besta negra, o povo em pânico e faminto, as sanções boomerang, o imposto fim do carvão russo, os lucros pornográficos do sector energético (e não só) enfim, Bruxelas está a arder. Como se não bastasse, Von der Leyen lança gasolina noutras fogueiras do globo. Por exemplo, o conflito entre a Arménia e o Azerbaijão voltou a estalar pouco depois da cônjuge do diretor clínico da biotecnológica Orgenesis ter assinado um acordo de fornecimento de gás com Ilham Aliyev, o presidente desse último país. Baku logo cobrou o favor, violando o cessar-fogo e o seu exército está agora a engolir cidades arménias como Berdzor e Aghavno, ameaçando mesmo uma limpeza étnica dos cristãos. Pelo meio, a Sérvia e o Kosovo abespinham-se, os turcos já vislumbram a sua oportunidade para deglutir curdos, Irão e Israel estão cada vez mais amofinados.

Estas mãos europeias manchadas de sangue com o alto patrocínio dos EUA (numa suposta coligação sempre assimétrica) não são alheias ao estertor deste império que, qual cadáver adiado, ainda procria, parindo miséria e terror. Correndo já depois de decapitado, como a tal ave doméstica, Biden e os interesses que representa disparam para todo o lado, como num tiroteio em massa, na vã esperança de preservar o seu poderio. De tal forma, que metade da sua população considera que haverá uma guerra civil nos próximos anos. De tal maneira, que até o precário equilíbrio China/ Taiwan conseguiram destabilizar. O resultado é que o eixo Moscovo- Pequim está agora mais sólido e oleado que nunca, desafiando a ordem mundial estabelecida há 70 anos por Washington e seus aliados. Com os abastecimentos garantidos do lado de Putin, Xi sente-se menos vulnerável a embargos, está mais forte e preparado para um conflito no Pacífico.

Certo é que, entretanto, a guerra continua, a UE falhou em ajudar o agonizante povo ucraniano. Só conseguiu arruinar os restantes europeus em particular e povos do mundo em geral, esboçando-se então o panorama de três frentes bélicas - a europeia (com a Rússia); a do Pacífico (com a China) e a do Golfo (com o Irão).

Perante este horizonte, não será melhor seguir a regra de ouro do salva-vidas? É que, se a Europa não nadar por si mesma e tentar ajudar os EUA a não se afogarem, serão eles mesmos, esbracejando desordenamente e em hiper-ventilação, que acabarão por afundar ambos.

Pois é. Ainda acreditam que a democracia, os direitos humanos e a democracia sairão ilesos quando tudo isto passar? Não vai ficar tudo bem, não. Bem vindos à terceira grande guerra mundial. Cerrem os dentes, apertem os cintos e preparem a despensa. Já é irreversível.

*Psicóloga clínica.
Escreve de acordo com a antiga ortografia

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