Patrões querem manter Estado a suportar salários
O presidente da CIP argumenta que a «solução» para manter pessoal está «saturada» e pede o regresso do lay-off. Diz que, «ao fim e ao cabo, o País também beneficia», e que as empresas «não são vacas
Depois de dois anos de pandemia, em que foram os grandes grupos económicos quem mais beneficiou das medidas públicas para alegadamente proteger o emprego, a CIP – Confederação Empresarial de Portugal volta à carga na defesa de medidas que mais não fazem do que transferir dinheiro público para cofres privados.
Mais do que uma reivindicação, a questão do lay-off é apresentada numa espécie de ultimato. «A opção [do Governo] é entre colocar o trabalhador no desemprego ou mantê-lo activo na empresa, a melhorar as suas competências, e com verbas que apoiem essa necessidade», admitiu António Saraiva numa entrevista ao Jornal de Negócios, publicada esta quinta-feira. «Ao fim e ao cabo», argumentou, «o País também beneficia».
Escamoteando o facto de os custos com pessoal representarem, em média, apenas 16% do total de encargos, Saraiva dramatizou ao dizer que a «possibilidade de as empresas suportarem os custos do volume da massa salarial que têm a cargo está a atingir limites, nalguns casos, insustentáveis».
O presidente da CIP, que conta entre os seus membros com o BPI, que obteve 201 milhões de lucro no primeiro semestre do ano, ou a Navigator, que registou um aumento de 151% dos seus lucros em igual período, insiste na retórica de que o aumento dos salários deve depender da «produtividade, inflação e crescimento», reforçando que é preciso «dar condições» às empresas.
«Se os indicadores permitirem, óptimo. Mas, se não, temos de perceber que o mundo hoje é muito perigoso e imprevisível», ameaçou Saraiva, iludindo sobre a indisfarçável concentração da riqueza no nosso país.
Confrontado com a perda de poder de compra dos trabalhadores, o representante dos patrões respondeu com o aumento (especulativo) dos gastos de energia e dos combustíveis, admitindo que os trabalhadores «terão de ser minimamente compensados da perda do seu poder de compra, mas dentro de um quadro razoável».
«Se o Governo nos der melhorias desses mesmos custos, não teremos problemas nenhuns em, se os indicadores derem 10%, podermos conceder 12%, porque obtivemos margem para isso», disse. «Não pensem que as empresas são vacas leiteiras».
A CIP pretende celebrar o designado acordo de competitividade e rendimentos antes do Orçamento do Estado, pedindo como contrapartida, para começar, a eliminação gradual da derrama estadual a partir de 2023.
Imagem: António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de PortugaL -- Miguel A. Lopes / Lusa
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