Artur Queiroz*, Luanda
O alicerce do pilar da liberdade dos povos é a Bíblia Sagrada, disse um líder religioso no culto ecuménico em homenagem ao primeiro centenário do nascimento de Agostinho Neto. A verdade é tudo em que acreditamos mesmo que seja mentira ou apenas uma quimera vestida de fogo-fátuo, que não aquece nem arrefece.
A minha verdade é diferente. O alicerce da liberdade do Povo Angolano é Agostinho Neto. E esse pilar gigantesco, que vai do deserto do Namibe à estratosfera, foi erguido com uma argamassa preciosa, feita com a carne e o sangue dos nossos Heróis que fizeram a luta armada de libertação nacional. Que se bateram pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial. Esta é a minha verdade e gosto muito dela. Estou pronto a sacrificar tudo por ela.
“Num quadro mais vasto da Cultura e da actividade cultural, é necessário desenvolver a Arte em todos os seus aspectos, escolher os elementos possíveis da nossa Literatura Oral e Escrita. É necessário recontar a História de Angola, de modo a fazer conhecer o longo caminho percorrido entre o passado e o presente”. Estas palavras são de Agostinho Neto. Foram proferidas na União dos Escritores Angolanos, em 1976. Tantos anos passaram e pouco aconteceu. Alguns recontaram a nossa História Contemporânea, mentindo, deturpando, falsificando, sem respeito pela Ciência e pela Humanidade.
Na arte fizemos tão pouco desde que Neto deu a táctica! Na Literatura Oral e Escrita ainda menos. Apareceram uns subprodutos coloniais que fizeram de simulacros da Literatura Abngolana uma espécie de abre-te sésamo do dinheiro fácil e da fama circense.
Não temos, nunca mais tivemos, cientistas como os padres Carlos Estermann , António da Silva Maia, Albino Alves. Ou Óscar Ribas, cada qual no seu espaço do fabuloso Mosaico Cultural Angolano. António Fonseca nos nossos dias chegou tão longe como os mestres do passado, na literatura oral Bakongo. Pouco mais.
Aquele discurso de Agostinho
Nerto na União dos Escritores Angolanos estimulou-me a vontade de trabalhar
alguns materiais que fui recolhendo
O poeta Sungwangongo Malaquias escreveu esta trova que vos ofereço neste dia especial:
O GRITO E A MORTE
Fala meu txinguvo
Bateria infinitiva de Sun Ra
Marca o compasso da dança:
Handjica nguvo iámi!
O mukiche remexe as ancas de palha
Os pés de Weza trepidam no chão
mas seus seios estão hirtos
à espera de amamentar o nosso filho.
Fala bem alto meu txinguvo
Adoço o teu som com ulezo
Guardado na txipanga
Que se cola aos panos das bailarinas.
Filho quando morre
Nunca mais volta ao colo da mãe
Não fica colado ao seu peito
Que ninguém me paralise o sangue
Nem com feitiço nem com medo
Handjica nguvo iámi!
Fala bem alto meu txinguvo
Contra o chicote e os fardados
Sou apaixonado pelo tambor
Não me paralisem as mãos
A minha aldeia é longe
Só a voz do txinguvo
Chega para além do rio:
Quem matou o nosso filho?
Handjica nguvo iámi!
Chora por mim meu txinguvo
Todos te ouvem até no paraíso.
*Jornalista
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