sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Angola | COBRIDORES DE ELEIÇÕES E OS HORTELÃOS DA CUCA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Os portugueses adoravam Angola, tinham pela colónia um amor assolapado e se bebiam água do Bengo a paixão era até à eternidade. Um amor estranhíssimo porque a par da paixão, muitos colonos matavam, roubavam, e humilhavam as angolanas e os angolanos. Sou testemunha. Estava na cidade do Uíje no dia 15 de Março de 1961 e via os colonos das milícias disparar sobre crianças, mulheres e velhos nas ruas. Armados de carabinas e caçadeiras, assassinaram milhares de civis inocentes. Com muito amor.

Angola era a joia da coroa, dizem-me alguns arrotando ódio indisfarçado. Mas no princípio era apenas uma colónia penal. E a Lisboa só interessava ocupar o litoral, onde estabeleciam as quitandas para vender os escravos capturados no interior. Escravatura mas com estremecido amor.

O ditador Salazar era uma a ratazana de sacristia, vivia de cama e pucarinho com o cardeal. E um dia os dois decidiram acabar com a prostituição. Há quem não saiba, mas durante o regime fascista e colonialista português a prostituição era uma actividade legal. As prostitutas tinham de fazer exames médicos frequentes, executados pelos senhores delegados de saúde. Só com o atestado rezando que não sofriam de qualquer doença venérea, nomeadamente blenorragias e sífilis, podiam exercer a segunda profissão mais velha do mundo. A primeira é o jornalismo. Nos quartos dos bordéis, as patroas tinham de colocar bacias com permanganato. Para desinfectar a ferramenta masculina. Tudo como manda a lei. E chamam-lhe fazer amor!

Quando Salazar e o Cerejeira resolveram acabar com as putas (os filhos enxameavam o governo e o partido único, União Nacional) as autoridades colonialistas despacharam as meninas mais azougadas para Angola. Já poucos se lembram, mas as prostitutas madeirenses invadiram o Bairro Operário e as do continente foram espalhadas por todos os bairros suburbanos, entre a Casa Branca e a Terra Nova. Fiz uma reportagem sobre esta nova forma de povoamento mas foi cruelmente atirada para o lixo pela censura.

Ao mesmo tempo começaram a desembarcar em Luanda famílias camponesas. Todos assustados, tristes, mal vestidos, cheirando a alho fermentado e suor caldeado com bafo bocal, ao qual chamávamos peidos de boca. Eram atirados para a Cuca e a Funda, onde recebiam parcelas de terra para cultivarem hortas. Foi assim que foi construída a cintura verde de Luanda. Os hortelãos abasteciam os mercados de verduras, frutas, legumes, tudo o que era comestível. Fiz uma grande reportagem nas hortas da Cuca e da Funda mas a censura também cortou. 

Alguns choravam quando falavam das suas terras de origem. Tinham muitas dificuldades de contactos com a família, porque não sabiam escrever e não tinham quem lhes escrevesse as cartas. Uma tragédia que também me fez chorar. Quem teve a grande desgraça de não aprender a ler, sabe só o que se passa no lugar onde viver. Mesmo assim os censores não se comoveram.

Os portugueses mandaram para a cobertura jornalística das nossas eleições uma fauna muito parecida com esses colonos que fizeram as hortas da Cuca e da Funda, Mas os antepassados eram gente honrada, trabalhadora, saudosa da santa terrinha, apesar da fome e da miséria que sofreram do outro lado do mar. Os que nos mandaram agora são desonestos, golpistas e mais analfabetos do que os hortelãos dos anos 60. Sorte a deles, não precisam de saber escrever cartas à família ou aos donos porque as novas tecnologias fazem delas e deles “repórteres”. Sinal dos tempos. 

Um dos artistas que nos mandaram chama-se João Fernando Ramos. Um nojo de ser humano, um insulto aos repórteres de verdade. É tal qual os pobres hortelãos da Cuca e da Funda, mas um nadinha mais analfabeto do que eles. Apareceu por cá com fumos de ocupante, com o colonialismo na barriga. 

O Hotel Intercontinental Myramar parece que era dos marimbondos. Agora não sei de quem é, mas esta unidade hoteleira patrocinou as analfabetices e os insultos ao jornalismo do João Fernando Ramos e do outro atrasado mental que a TVI/CNN Portugal nos mandou. Nem de propósito, hoje o canal de notícias da TPA passou uma conversa em família da CNN Portugal. Só falta mandarem para Angola as putas que já não podem exercer a profissão em Portugal.  

O Paulo Portas, um rapazola espertalhaço, criou as “empresas”  Amostra e a Boas Festas para desnatar dinheiro que ia direitinho para os bolsos do grande político da extrema direita portuguesa. Propôs um “novo processo de transição” em Angola dado que a vitória eleitoral do MPLA foi apertada. Manifestei a minha indignação por terem convidado este nazi de falinhas mansas, para observar as nossas eleições. Disseram-me que veio na quota dos convidados da Presidência da República. Os marimbondos, comprados com este, são anjinhos com asas e tudo.

Por favor, digam-me que é mentira. Mesmo que seja verdade. O meu pobre coração não aguenta. Se queriam convidar lixo humano, viravam-se para a Ana Gomes que é sócia do Rafael Marques e não se importa de sujar as mãos com o sangue da kamanga. Esse Paulo Portas agora faz-se passar por empresário, colega do Francisco Viana. Só aceita pagamentos em lucros e mais-valias. Não aguento!

*Jornalista

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