terça-feira, 13 de setembro de 2022

Angola | O NECESSÁRIO É POSSÍVEL E URGENTE – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Presidente José Eduardo dos Santos, quando anunciou a sua investidura como Presidente da República Popular de Angola, em substituição de Agostinho Nerto, afirmou que “não é uma substituição fácil. Nem tão-pouco me parece uma substituição possível, é apenas uma substituição necessária”. Tudo em Angola era assim. O problema é que poucos davam por isso e pensavam que ocupavam os cargos por serem melhores que todos os outros. E assim se convenceram de que era fácil. Ninguém lhes explicou que eram o necessário. 

Entre os comandantes que assinaram a Proclamação das FAPLA, alguns desempenharam funções governativas: Henrique Teles Carreira (Iko), Pedro Maria Tonha (Pedalé), César Augusto (Kiluanje), Pedro Castro Van-Dúnem (Loy), Henrique Carvalho Santos (Onambwe), Alexandre Rodrigues (Kito), , André Pitra (Petrof), Jorge Morais (Monty), Alberto Bento Ribeiro (Cabulo), Mário Afonso de Almeida (Kasesa), Saidy Mingas (Lutuima).

 Salviano de Jesus Sequeira (Kianda) foi ministro do Executivo que agora terminou. Tal como Ernesto Kayobo (Liberdade). Outros comandantes foram diplomatas. Não foi fácil. Fizeram o possível. Foi necessário. Estes militares são a face visível de uma realidade indesmentível. Dadas as circunstâncias, entre 11 de Novembro de 1975 e 2002, Angola teve necessidade de dar formação excepcional aos seus militares, para ganhar a guerra. 

A sociedade castrense tem quadros em quantidade e qualidade muito acima da média na sociedade civil. Quem tiver dúvidas que entre numa unidade militar. É outro mundo. Tudo organizado, funcional, estruturado. E ainda prevalece o velho espírito do MPLA desde que iniciou a Luta Armada de Libertação Nacional: Somos todos civis, obrigados a pegar em armas para sermos angolanos! Governar um país onde existe uma falta gritante de massa crítica, onde a investigação para o desenvolvimento tem ínfima expressão, não é fácil. Faz-se o possível. O necessário. 

Mas pode facilitar, se a sociedade castrense for chamada a colaborar na construção de uma Angola mais justa, mais próspera e mais igualitária. Tal como os civis tiveram de pegar em armas para ajudar os militares a ganharem a guerra, hoje os militares têm de sair das casernas e ajudar na governação, facilitando a missão, tornando-a possível. Não é fácil, é uma necessidade.

Toda a gente já sabe tudo, mas na verdade há muita falta de sabedoria até nas coisas mais simples do quotidiano. Em 1975, ficámos sem operários especializados, sem técnicos médios e superiores, sem saber fazer a todos os níveis. Substituir os que partiram nas pontes aéreas, voluntariamente os empurrados pela guerra, não foi nada fácil. Dadas as circunstâncias, nem sequer era possível. Foi uma necessidade premente. Alguém tinha que estar nos postos de trabalho, nem que fosse para sinalizar uma presença humana.

No dia da Independência Nacional, a Redacção do jornal Diário de Luanda tinha quatro jornalistas profissionais e dois repórteres fotográficos. Mais dois estagiários. E um cartunista, o Bambi (Cabral Duarte). Depois do triunfo do golpe de estado de 25 de Novembro de 1975, em Portugal, recebemos mais um profissional, Adelino Tavares da Silva. Fazíamos a edição diária como no tempo em que éramos 30! Não foi nada fácil. Fazíamos o possível porque era necessário. Uma necessidade vital! Sem informação não há vida.

Em 1976, fui para o Jornal de Angola. O director, Fernando Costa Andrade (Ndunduma), foi emprestado ao Jornalismo. Exercer as suas funções não foi nada fácil. Fez o possível porque necessário. Na chefia de Redacção estava um fiscal da Inspecção dos Espectáculos, Júlio Guerra. Também emprestado. O jornalista possível. Era necessário. Apenas dois profissionais lá trabalhavam: Antero Gonçalves (Poderoso) e Moutinho Pereira. Fazer o jornal diariamente não era fácil. Fazíamos o possível porque necessário. 

E Hoje? Melhor, muito melhor. Mas insuficiente. No Jornalismo, é público e notório. Na Educação, notoriamente gritante. Na Saúde, espantosamente visível. Nos serviços públicos, aiué. Na economia fazem-se fortunas a comprar e quem produz para vender tem uma vida difícil. Faz o possível porque é necessário viver. Na área financeira, uma quimera. Só a sociedade castrense está bem. Nestas circunstâncias não é fácil governar nos próximos cinco anos. O Executivo vai ser o possível, porque necessário. Mas ajuda se todos os recursos humanos forem mobilizados para a causa pública e o bem comum. 

A missão não é fácil. Por isso há que mobilizar toda a competência disponível, esteja onde estiver. Não é nada fácil. Mas é obrigatório fazer todos os possíveis, porque inadiavelmente necessário. A hora é de incluir. Mas como? Marcolino Moco chefiou um governo à prova de guerra, entre 1992 e 1996. Porque a UNITA rejeitou os resultados eleitorais, invocando a existência de fraude. Passados tantos anos, o mesmo político diz que em 24 de Agosto houve fraude eleitoral, porque o MPLA, partido do qual foi secretário-geral, fez fraude. E disse mais: A Comissão Nacional Eleitoral e o Tribunal Constitucional são do MPLA. 

Um jurista, académico, atira para o caixote do lixo duas instituições que devia respeitar, mais do que ninguém. O seu mau perder (alinhou com a UNITA) vai ao ponto de afirmar que o Presidente da República vai partir paras a violência! O que é isto? Este Chefe de Estado foi o homem que deu tudo pela vitória do partido MPLA na campanha eleitoral de 1992, quando tu eras o secretário-geral. Por isso, foste indicado para Primeiro-Ministro. Assim não é fácil governar. Apenas se pode fazer o possível, porque necessário.

O MPLA não pode desistir. A sua direcção tem a competência possível. Mas a necessária e suficiente capaz de mobilizar a sociedade para, na unidade nacional, governar Angola. Tendo em conta que em primeiro lugar, temos de resolver os problemas do Povo. 

Um amigo do peito, Manuel da Fonseca, escreveu um livro, Seara de Vento, onde a personagem principal diz isto: Um homem sozinho não vale nada! Já todos sabemos isso. Mas hoje, mais do que nunca, é preciso acreditar que se não é fácil governar um país onde existe um défice gritante de recursos humanos qualificados, todos juntos podemos fazer o possível e o necessário, para resolver os problemas do Povo. A sociedade castrense tem os recursos humanos mais bem preparados. Não pode ficar a ver passar os fracassos.

*Jornalista

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