quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Angola | Memória de um Génio do Banditismo Mediático – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Em 2018, enviei esta carta à Direcção do Jornal de Angola, invocando o direito de resposta. Não foi publicada. Mando-a agora para todas e todos perceberem quem é, de facto, Rafael Marques:

Agradeço a publicação deste texto de opinião na próxima edição. Sendo o director e o director adjunto do Jornal de Angola estrénuos defensores da Liberdade de Imprensa, certamente que vão satisfazer este meu pedido sem necessidade de invocar o instituto do Direito de Resposta. E vão certamente aceder, sobretudo porque invoco a defesa da minha honra profissional, já que sou um jornalista angolano, há 53 anos. Apresento a V. Exas. os meus melhores cumprimentos:

No editorial da edição de 8 de Novembro de 2018 está escrito que “Rafael Marques é daquelas pessoas que em Angola foi vítima de maus tratos, por exercer a liberdade de imprensa”. Discordo absolutamente.   Depois é afirmado que “nós, jornalistas angolanos, devemo-nos sentir orgulhosos de ter um colega da dimensão de Rafael Marques”. Aqui sou obrigado a defender a minha honra profissional. 

Ao longo dos anos que servi o Jornal de Angola como formador, nas sessões de Ética e Deontologia dizia aos jovens profissionais, mas também aos editores e membros da Direcção, que o abuso de liberdade de imprensa é, acima de tudo, um crime gravíssimo contra o jornalismo e os jornalistas. Somos mais prejudicados do que as próprias vítimas, porque essa prática nefasta afecta de forma irreversível a nossa credibilidade. 

E dava vários exemplos, entre os quais Rafael Marques. Porque ele não cumpria o dever de cuidado. Não respeitava o critério da imparcialidade. Não chancelava os factos com fontes consultáveis. Tudo era anónimo, menos ele. Para escapar incólume a estes crimes contra o jornalismo refugiava-se nas vestes de activista. Dizia eu aos meus colegas que ele exercia o jornalismo segundo a lógica das associações de malfeitores. Não posso orgulhar-me deste violador dos princípios básicos do jornalismo. Não posso aceitar que alguém use o jornalismo para mentir, fazer intriga, insultar, caluniar e difamar.

Podia escrever 100 páginas sobre as violações grosseiras das regras do jornalismo praticadas por Rafael Marques. Mas vou apenas apresentar o que ele disse ao semanário português “Expresso”.

Pergunta o jornalista: 

Então, João Lourenço está a prazo?

Responde Rafael Marques: 

Sim, não durará muito. 

O jornalista insiste: 

Não lhe dá o benefício da dúvida? 

Responde Rafael Marques:  

Ele já provou que tem um ódio especial — e agora indisfarçável — a José Eduardo. O José Eduardo escolheu o João Lourenço porque, a determinada altura, percebeu que está isolado dentro do partido e que alguns tipos do MPLA passavam a vida a conspirar contra ele.

Um pouco adiante afirma: 

O João Lourenço não foi cuidadoso nos discursos que fez até agora. Prometeu o mundo. Procurou esvaziar o discurso da oposição assumindo, de forma radical, o discurso anticorrupção. E se se prova que está envolvido nos negócios da Odebrecht — sob investigação no Brasil — como é que fica? 

A isto eu chamo insinuações maldosas e baixa intriga. Liberdade de imprensa é outra coisa.

Sobre o Presidente da República afirmou Rafael Marques: 

O João Lourenço é um homem bruto. Não é um tipo refinado nas decisões, no linguajar. No momento em que decida transformar isso numa luta... Alguém disse que o discurso dele na tomada de posse parecia o Rafael Marques a falar. É o mais anti-MPLA. 

Afirmar que o Chefe de Estado é bruto não me parece que seja próprio de um angolano, herói da liberdade de imprensa. Nem estou a ver os jornalistas angolanos a corroborar a sua opinião.

Querem mais? Aí vai. Diz Rafael Marques ao “Expresso”: 

Há dois grandes intriguistas dentro do MPLA. O chefe deles todos, o José Eduardo, e o Bornito de Sousa. E, como é mais bem preparado, vê que num mês de Governo a figura do vice-presidente desapareceu. Está à espera. Há um dado certo, não haverá reeleição para o João Lourenço. Nas próximas eleições o candidato será outro. 

Cada qual come do que gosta. Intriga e ataques pessoais são indignos de um jornalista mesmo que seja condecorado. E como se provou em 24 de Agosto, o génio do jornalismo deles falhou rotundamente.

Sobre o Executivo liderado pelo Presidente João Lourenço, Rafael Marques afirmou ao “Expresso” pouco mais de um ano depois da tomada de posse do Chefe de Estado:  

O Governo é francamente mau. Mau, mau, mau. Este ministro da Defesa, que ele colocou agora, o general Kianda, é o que chamamos mais velho sem juízo. 

Salviano de Jesus Sequeira “Kianda” é um Herói Nacional. Bateu-se como comandante da guerrilha na II Região Político-Militar do MPLA (Cabinda). Pertenceu ao comando da IX Brigada que travou os invasores estrangeiros em Kifangondo. É tratado pelo condecorado jornalista como “mais velho sem juízo”.  E afirma que o Presidente da República escolheu um governo mau, mau, mau. Logo, é incompetente. 

Rafael Marques disse sobre o Executivo do Presidente João Lourenço: 

Os maiores bandidos estão no Governo. O governador do Banco Nacional, não percebe nada de Finanças. 

A Primeira-Dama também não escapou: 

A Ana Lourenço fez uma grande travessia do deserto, como tinha o estigma do 27 de Maio as pessoas afastavam-se dela. Nessa altura, conheceu o João Lourenço, que era governador de Benguela, e precisava de uma mulher mais refinada. Praticamente conheceu-a e, em dois dias, marcou o casamento. 

Até um profissional medíocre sabe que a vida privada seja de quem for não está disponível para os jornalistas. E não venham com a desculpa que neste caso se trata de figuras públicas. Ninguém é o miradouro da Lua ou o calçadão da Marginal. Ana Dias e João Lourenço não são logradouros públicos. 

O jornalista condecorado disse mais isto do casal: 

O Ministério do Planeamento nunca teve um papel relevante na gestão do que quer que fosse. De vez em quando, emitia um parecer, mas nunca ninguém percebeu o que fazia. O João Lourenço era o comissionista da Ana Dias [nome de solteira], como não tinha uma função de relevo no Governo, estava apenas na Assembleia Nacional. Quando a Odebrecht quisesse pagar pelos pareceres favoráveis ia pagar-lhe a ele. 

Vou traduzir. João Lourenço recebia da Odebrecht as comissões ilícitas pagas à ministra Ana Dias Lourenço. Intrigas, calúnias, mentiras são o combustível que alimenta um jornalista condecorado pela sua vítima.

Rafael Marques diz também que as eleições que ditaram a eleição do Presidente João Lourenço foram fraudulentas, logo, o Chefe de Estado é um usurpador. Ao Expresso, o herói do jornalismo angolano dá um exemplo: 

A CASA-CE [coligação formada em 2013] não era conhecida em Cabinda e ganhou dois deputados. Não era possível ao MPLA, sequer, mentir que era possível ganhar em Cabinda. Mas para não dar os deputados à UNITA deu-os à CASA-CE.

Por fim, tenho que denunciar Rafael Marques como um violador de um princípio sagrado do jornalismo. Eu dizia aos meus colegas do Jornal de Angola nas sessões de formação, que um jornalista digno, jamais revela as suas fontes, nem em Tribunal. Sabem o que ele disse ao “Expresso”? Aí vai:  

Fui à PGR (Procuradoria Geral da República) e disse, aqui estão as minhas fontes e se alguma coisa lhes acontecer a responsabilidade é vossa. 

Quem faz isto não é jornalista e exerce a profissão na lógica das associações de malfeitores. 

*Jornalista

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