quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Angola | RICOS NACIONAIS E OS LADRÕES ESTRANGEIROS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O ilustre advogado que defende o major Pedro Lussaty, Francisco Muteka, disse nas suas alegações finais que o arguido tem um património superior a cem milhões de dólares. Por isso, não necessitava de fazer esquemas para sacar dinheiro da Casa Militar do Presidente da República. 

Um ilustre general, Manuel Hélder Vieira Dias (Kopelipa) disse durante a audiência de julgamento que o dinheiro guardado em malas, apreendido no apartamento do senhor major, não saiu da Casa Militar, no tempo em que ele era ministro de Estado e chefe instituição. Até porque na instituição não existiam divisas, só kwanzas. E sua excelência aconselhou as autoridades competentes a investigarem a origem do dinheiro.

Eis um desafio interessante. Donde vem o dinheiro dos milionários? Qual é a cor desse dinheiro? As notas (cédulas) têm apenas o retrato de Agostinho Neto ou também de José Eduardo dos Santos? Se têm dos dois, é antigo. Se só têm do Fundador da Nação é novíssimo, as notas foram impressas depois de 2017. 

A comunicação social alinhada com o chefe Miala chamava arguidos aos generais que foram depor como testemunhas ou declarantes. Uma manobra claríssima para denegrir a imagem das Forças Armadas e sobretudo dos que ganharam a guerra contra os karkamanos, pela Soberania Nacional e Integridade Territorial. Desde o primeiro instante de emissão na TPA ficou claro que à conta do major Pedro Lussaty, quem de facto estava a ser atingida, era a sociedade castrense. Ainda que apreça um absurdo, a operação está justificada.

Entre a Independência Nacional e hoje, Angola formou excelentes militares. Ali não havia lugar para a mediocridade porque isso significava a morte ou a derrota fatal. O “Caso Lussaty” tresanda a inveja, vingança e ajuste de contas. À luz de um velho equívoco, nascido em 1992, só podem ser ricos os escolhidos. Só podem mexer nos cofres do Estado, as mãos autorizadas. Só podem arrotar milhões, os clientes fiéis. Tenho amigas e amigos muito, muito ricos. Multimilionários.

Antes elas e eles do que o Grupo Rio Tinto, que rouba minérios angolanos (preciosos e dos outros) por conta do Reino Unido e do Canadá. Antes elas e eles do que os bandidos internacionais da De Beers, quadrilha fundada por Cecil Rhodes. Antes elas e eles do que a ladroagem da Anglo American iniciada pelo quadrilheiro Ernest Oppenheimer e nas mãos da J P Morgan. Antes eles e elas do que os abutres com quem a ministra Vera Daves conviveu e negiciou, durante uma semana em Washington. 

Estes ricos estrangeiros estão cada vez mais ricos à custa da pobreza dos angolanos. E neste aspecto, eu xenófobo me confesso. Ladrões estrangeiros, fora! Mesmo que tenham o beneplácito do Executivo. Como têm! Claro que só estou contra os ricos de outras paragens. Os nossos são todos bons e recomendam-se. O major Pedro Lussatuy, digo sinceramente, se só tem um património de 100 milhões de dólares, não consegue o estatuto de rico. Ainda tem muito que comer, para chegar ao olimpo dos milionários.

O Paulo Lukamba Gato, de piolhoso a cair de podre passou a dirigente político e daí saltou para milionário que foi um instante. Quando o Savimbi foi babado, alvitrou-se a hipótese de ser ele o dono das contas numeradas da UNITA na Suíça e outros paraísos fiscais, inclusive Lisboa. Algum tempo depois foi exonerado dessas riquezas todas e o suspeito passou a ser o Abílio Camalata Numa, mancomunado com o Adalberto da Costa Júnior, que teve artes de esconder os milhões nos “países amigos”. Hoje não se sabe ao certo quem ficou com os fundos milionários dos diamantes de sangue. Mas o maninho Gato continua assanhado.

Acaba de zurzir uma tareia à moda do Galo negro no Chico Viana. Porque o sócio do Chivukuvuku e do Adalberto levou a mal que os deputados da UNITA não tivessem participado na foto de família com o Presidente João Lourenço, no dia da abertura do ano parlamentar. 

O Chico Viana criticou os seus colegas deputados por não comparecerem ao acto. O Gato partiu logo para a ameaça. Se o sócio do Adalberto aparecer morto numa esquina, não culpem o MPLA nem as forças da ordem. O primeiro suspeito é o Paulo Lukamba Gato, que já tem imensas saudades dos tempos em que matava às ordens do chefe Savimbi. Até matou familiares! Atenção. Este sicário do Galo Negro também é milionário. Mas tem um património muito acima do major Pedro Lussaty. Como é ada UNITA, continua intocável.

A comissão parlamentar do Poder Local, por convite especial do Grupo Parlamentar do MPLA, é presidida pela UNITA. Essa decisão é hoje oficializada no plenário da Assembleia Nacional.  É agra que os parlamentares da UNITA vão provar se Adalberto d a Costa Júnior sabe o que diz, quando afirma que é fácil organizar eleições autárquicas em 2023. E acaba de ser criada, pelo Presidente da República, uma comissão para a institucionalização das autarquias. Muito bem!

O Reino Unido está em desagregação. A nova primeira-mnistra está a ser cozinhada no formo e vai ser servida como perua trinchada na noite de Natal. A inflação oficial é superior a dez por cento. Isto quer dizer que já passa do dobro. Os preços dos produtos básicos subiram mais de 40 por cento. Em França o panorama é muito igual. Em Portugal já há mais pobres do que na Ucrânia. 

Nos EUA o Pentágono já fala da guerra da Ucrânia como a guerra deles, comandada e executada por eles. Agora meteram um porta-aviões nuclear no teatro das operações. O bicho leva 90 aviões de guerra e helicópteros. Pode navegar 20 anos sem ser abastecido. Já morreram todos, a Ucrânia acabou e aquilo continua vivo.

A TPA está a comemorar 47 anos. Já desisti de lhes explicar qual foi a data do nascimento. Mas estou muito preocupado com o símbolo do aniversário. Aquilo é uma cruz suástica ainda que mal feita. Mas o que conta é a intenção. Ontem uma menina dava a notícia de um grave acidente de viação com um sorriso nos lábios. Estava feliz, contente, esfuziantemente alegre com a tragédia. Nem foi capaz de fingir consternação. É isso, não sabem que a informação no audiovisual é também um espectáculo. Tem uma dimensão estética e plástica. Quem está à frente das câmaras tem de saber o que diz e como diz. 

*Jornalista 

Na imagem: Lussaty

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