Artur Queiroz*, Luanda
O Estádio Nacional 11 de Novembro está podre por dentro. E só soubemos da podridão porque o relvado ficou impróprio para a prática desportiva. Foi construído pelos chamados “marimbondos”. Nasceu para ser nacional, o maior palco desportivo de Angola. Um símbolo. Um monumento. Os bichos que vieram a seguir fizeram tudo para que fosse destruído. Não usaram o camartelo, não foram lá com marretas partir tudo. Fizeram o serviço com negligência criminosa e desleixo. A ministra da Juventude e Desporto, Palmira Barbosa, foi ao local do crime e no final, com ar zangado, furiosa, disse apernas isto: Não gostei do que vi.
Eu também não. Imagino como se sentiu uma das nossas pérolas do Desporto, quando viu água a escorrer das paredes, humidade por todo o lado, equipamentos dos ginásios destruídos, espaços de serviços e de apoio arrasados. O Estádio Nacional 11 de Novembro foi inaugurado há 12 anos! É uma criança. Está completamente podre. Mas pelos vistos quem tem o dever de preservar aquele monumento, o símbolo máximo dos equipamentos desportivos nacionais, só se preocupa com a relva transformada em capinzal seco e com os buracos, como se o espaço de jogo fosse uma lavra de mandioca.
Palmira Barbosa disse que não gostou do que viu. Eu esperava da nossa pérola do desporto feminino algo mais. Queria que anunciasse, logo ali, a demissão do director do estádio, a abertura de um inquérito interno para apurar responsabilidades e finalmente anunciasse a apresentação de uma queixa-crime na Procuradoria-Geral da República. Porque em dez anos deixar apodrecer o Estádio Nacional 11 de Novembro é um crime grave. E os criminosos não podem ficar impunes.
Os “marimbondos” construíram o Estádio Nacional 11 de Novembro e mais outros de grande categoria, para o Campeonato Africano das Nações em Futebol (CAN), no ano de 2010. Façam uma conta muito simples e verificam que em 2017, quando acabou o tempo dos “marimbondos”, o nosso estádio, excelente em qualquer parte do mundo, era uma criança de sete anos. Provavelmente, nesse período, os responsáveis também contribuíram com o seu desleixo e negligência para o seu apodrecimento. Mas agora sim, está fechado. Impróprio para consumo. O director até deixou morrer a relva! Isso de manutenção é truque.
A ministra Palmira Barbosa disse aos Media que não gostou do que viu e a seu lado, impávido e sereno, sua excelência o director perito em deixar apodrecer estádios nacionais de grande dimensão. E até ousou dar palpites, como se não fosse nada com ele. Impunidade, irresponsabilidade e arrogância.
Provavelmente o senhor tem menos culpas no cartório do que a anterior ministra, Ana Paula Sacramento Neto, ela também uma desportista de eleição. E esta ainda menos do que Albino da Conceição, o homem que estava à frente do ministério quando o Estádio Nacional 11 de Novembro foi inaugurado e nos anos seguintes. Mas tirando Palmira Barbosa, todas e todos têm de responder pelo apodrecimento da nossa maior infraestrutura desportiva. O nosso estádio nacional.
Outro director que me deixou preocupado está à frente do Centro de Formação de Jornalistas (CEFOJOR). Como estou dentro do assunto, quero recordar que quando abrimos a instituição foi para dar formação permanente aos jornalistas profissionais. Depois criámos a Rádio Escola para dar formação permanente aos jornalistas da Radio Nacional. Agostinho Vieira Lopes foi o grande entusiasta destes projectos e no seu mandato atingiram o máximo.
Na reabertura do CEFOJOR depois de obras profundas, o senhor director disse que ali já foram formados dois milhões de alunos! Quem fala assim não é gago mas não tem condições para se manter no cargo.
O primeiro grande equívoco na área da Comunicação Social, após a Independência Nacional, foi a criação de um curso médio de jornalismo. A autora deste dislate foi a minha querida e saudosa amiga Gabriela Antunes (Gabi).
Isto tem uma história. Ainda
no tempo do Governo de Transição, nasceu a ideia de criar em Angola um curso
superior de jornalismo. Faculdade! Mas professores, nada. Em 1976, Gabriela
Antunes, Sebastião Coelho e Francisco Simons apareceram à frente de uma
comissão instaladora da escola. Como os dois radialistas não se davam bem,
aquilo acabou
O problema é que os jornalistas de verdade são quadros superiores das empresas de Comunicação Social. E técnicos superiores não se formam em escolas médias. Após a Independência Nacional não tínhamos médicos. Mas ninguém se lembrou de fazer cursos médios de medicina. Não existiam juristas. Ninguém criou cursos médios de Direito. O facilitismo nunca é solução seja para o que for. Muito menos para o Jornalismo que é uma das traves mestras do regime democrático. Os jornalistas são os arautos da liberdade.
O senhor director do CEFOJOR diz que formou dois milhões! Como conheço bem a nossa realidade, quero dizer a sua excelência que se a instituição tivesse formado 200 jornalistas eu fazia uma festa de arromba. Mais facilitismo, mais irresponsabilidade.
As Redacções dos Media são os locais privilegiados para formar jornalistas, tenham ou não formação académica na área. Ao longo de muitos anos lidei com jovens que passaram pelos cursos superiores, o curso médio da Gabi Antunes e pelo CEFOJOR. Na Rádio Nacional e no Jornal de Angola. Espero que ninguém se zangue comigo. Mas algumas e alguns dos que se tornaram grandes profissionais, não vieram desse circuito.
Evidentemente que quem passou pela Universidade (qualquer curso…) aprendeu a fazer notícias, reportagens e entrevistas, mais rapidamente do que quem não passou. Mas o importante é que as e os candidatos tenham qualidades para o exercício da profissão. Os jornalistas não são escritores. A linguagem jornalística é muito simples, está ao alcance de quem apenas sabe ler e escrever. O mais importante é cultura, agilidade mental, responsabilidade, aprender porque quer saber fazer e não com a mira no tacho.
O director do CEFOJOR tem de
pensar melhor antes de falar. No dia
*Jornalista
1 comentário:
O que é isso de "marimbondos"?
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