Jornalista denuncia que foi torturado e preso por agentes da polícia municipal de Tete, no centro de Moçambique. Daniel Quingue diz que tentava captar imagens de alegado impedimento policial a membros do partido RENAMO.
Daniel Quingue, jornalista da Televisão Muniga, diz ter ficado detido cerca de duas horas na quarta esquadra da Polícia da República de Moçambique (PRM), na província de Tete.
O caso deu-se no último domingo. O profissional diz ter sido torturado e detido quando tentava captar imagens de alguns agentes da polícia municipal, que estariam a impedir que membros do maior partido da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), participassem numa missa no bairro Chingodze.
Segundo Daniel Quingue, os agentes terão alegado "ordens superiores" para o impedimento: "Não havia motivos, porque ninguém resistiu. Estavam a ir assistir um culto, mas a polícia municipal pensou que estivessem a ir fazer campanha".
Pouco depois, os agentes interpelaram Daniel Quingue, continua o jornalista. A polícia municipal "acionou a polícia da quarta esquadra da PRM e começaram a empurrar-me, a torturar-me e a dizer que devia entrar no carro. Entrei no carro à força e queriam até algemar-me."
Contactado pela DW África, o porta-voz da PRM recusou a falar sobre o caso. A polícia municipal e a edilidade também não se pronunciaram.
MISA repudia detenção de jornalista
O sentimento da classe jornalística, em particular da organização de defesa da liberdade de imprensa MISA, é de repúdio.
"Isto é uma tentativa de ameaça à liberdade de imprensa", afirma Egnácio Gamay, presidente do MISA em Tete. "Nós temos uma lei, a lei de imprensa, que protege e estabelece os princípios que norteiam o trabalho do próprio jornalista. Não havia matéria que pudesse ser considerada de crime."
O responsável diz que este é o primeiro caso na cidade reportado à organização de forma oficial. Mas há outros casos de ameaças e intimidação de jornalistas, refere Egnácio Gamay.
"Há situações isoladas de ameaça", denuncia.
"O repórter é um cidadão que precisa de ter uma mente limpa e sã para exercer a sua função e quando fazemos uma pressão psicológica, isto afeta naquilo que é a produção da matéria", adverte.
Cenários de agressão, intimidação e ameaças a jornalistas ocorrem com frequência em Moçambique.
No início deste mês, Arlindo Chissale, jornalista do portal online "Pinnacle News", foi detido na província de Cabo Delgado, acusado de exercício ilegal de funções, alegadamente por não apresentar credenciais. Pouco depois, foi restituído à liberdade; o tribunal considerou que não estavam "preenchidos os requisitos para a manutenção da prisão preventiva".
Jovenaldo Ngovene (Tete) | Deutsche Welle
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