quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Portugal | AGORA SIM, UMA GERINGONÇA?

Rafael Barbosa* |Jornal de Notícias | opinião

É um estranho Governo, este. Não tem ainda nove meses de gestação e somam-se os problemas, incluindo várias idas à urgência. Uma situação surpreendente, se se valorizar o facto de estar suportado na maioria absoluta de um só partido, o que, teoricamente, lhe deveria garantir maior consistência. Os ministros e secretários de Estado só teriam de dialogar uns com os outros, sem necessidade de articulação com outros partidos e menor risco de gerar cacofonia. Mas sucede exatamente o contrário.

O último episódio, o despedimento de dois secretários de Estado do Ministério da Economia, é só mais um sintoma de alguma desagregação da família socialista (talvez por ser tão alargada). António Costa parece estar a tentar encerrar a novela do IRC, em que os secretários de Estado se dedicaram a desacreditar o seu ministro (que tinha sugerido uma redução generalizada). Mas é importante lembrar que já houve "bate boca" a propósito das taxas sobre lucros extraordinários, com o mesmo ministro como protagonista. A primeira reação do primeiro-ministro António Costa, foi de rejeição. Mas, não só acabou a dar razão ao seu homónimo da Economia, como o ultrapassou pela esquerda (para além do setor petrolífero, o imposto chegará à grande distribuição, vulgo supermercados).

Já houve, por outro lado, um confronto a propósito da solução para o novo aeroporto de Lisboa, com o ministro Pedro Nuno Santos obrigado a promover uma sessão pública de autoflagelação. Como já houve uma ministra (a da Saúde) que passou de bestial a besta depois de um verão quente nas urgências de obstetrícia. E, finalmente, também houve um secretário de Estado que foi para o Governo para resolver estes problemas de comunicação familiar, mas saiu sem aquecer o lugar, devido às suas estranhas opções enquanto líder da Câmara de Caminha. Bem vistas as coisas, quase parece que é agora que o país é governado por uma geringonça.

*Diretor-adjunto

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