terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Angola | ASSALTOS CENSURÁVEIS E CENSURA CRIMINOSA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Jornalismo Angolano, nascido no último quartel do Século XIX, foi uma ferramenta poderosíssima na construção da angolanidade. Uma marca indelével do que somos hoje. É pena que poucos saibam disso e respeitem esse passado glorioso. Tudo porque os poderes públicos estão a deixar morrer a História Contemporânea de Angola. Deixaram apodrecer os mananciais, dando todo o espaço aos pescadores de águas turvas, aos oportunistas e à mais abjecta mediocridade.

Neste quadro dantesco nasceram os assaltos à sede do Sindicato dos Jornalistas e a “residências” de alguns profissionais, rapidamente atribuídos ao governo do MPLA. Os falsários tiveram o cuidado de deixar fora da trama o Presidente João Lourenço e este, numa entrevista à Voz da América, solidarizou-se com a manifestação convocada para protestar contra os “assaltantes”.

Entre os profissionais visitados pelos bandidos está um senhor que é parente de Adalberto da Costa Júnior. Sua esposa terá sido torturada pelos supostos salteadores e ele decidiu abandonar Angola porque considera que foi vítima do poder, mesmo sem se saberem duas coisas básicas. Primeira. Houve mesmo assalto? Segunda? Houve mesmo tortura? 

A senhora tem cicatrizes de uns cortes no braço mas isso significa zero. Conheço centenas de angolanas e angolanos que têm cicatrizes de cortes até no rosto e não passa pela cabeça de ninguém que foram torturados. Nalguns casos as cicatrizes são adornos de beleza e noutros resultam de um milongo para certas doenças. Só as autoridades que têm a missão de investigar os crimes, podem dizer o que aconteceu, se aconteceu. Mas o jornalista Cláudio In já sabe tudo e publicou um texto onde afirma que foi perseguido pelo poder. 

A tortura, os assaltos, os assassinatos são práticas da UNITA. O senhor Cláudio In, próximo do líder do Galo Negro, não está livre de ser incluído na lista negra do Abílio Camalata Numa, do Wambu ou do Paulo Lukamba Gato. Ele lá sabe em que altas cavalarias se meteu prejudicando os sicários do partido do criminoso de guerra Jonas Savimbi. Enquanto as autoridades não se pronunciarem, todas as suspeitas são legítimas. O que se pode dizer sobre os “assaltos” e as torturas é simples. O Sindicato dos Jornalistas é uma correia de transmissão da UNITA desde a sua fundação, em 1992. Nunca a sede tinha sido assaltada. Porquê agora? 

O secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas, senhor Teixeira Cândido, fez abertamente campanha pela UNITA e a “frente patriótica”, colocando a estrutura sindical ao serviço da oposição. Ninguém assaltou a sua casa nem torturou a sua esposa. Dezenas ou mesmo centenas de jornalistas mostram diariamente que são contra o MPLA e o seu governo. É assim desde que existem eleições multipartidárias. Que se saiba, ninguém ao longo destes anos andou a assaltar as suas casas e a torturar maridos ou esposas. Porquê agora? O que prometeram à UNITA que não cumpriram? Quanto receberam para fazer o que não fizeram?

Alguns jornalistas angolanos são rostos de uma oposição feroz ao governo e nunca as suas residências foram assaltadas e torturados os familiares. Porque escolheram o senhor Cáudio In e não outras dezenas com mais visibilidade, mais credibilidade e mais capacidade profissional?  

Inundar os órgãos de Informação de escriturários também é uma forma grave de censura. A usurpação da condição de jornalista, igualmente. Ser juiz em causa própria ou escamotear informação essencial sobre a actividade e os interesses dos autores de comentários ou críticas nos Media, não só é censura, como é uma desonestidade intelectual sem nome. Ninguém quer fazer manifestações contra esta realidade que está a destruir o Jornalismo Angolano? 

As e os jornalistas do Audiovisual aprendem logo no primeiro dia em que entram numa Redacção que se o som de uma notícia é mau, vai para o lixo, Porque em vez de informar, faz um ruído ensurdecedor. Se as imagens têm má ou péssima qualidade vão para o lixo. Porque não informam, apenas criam um ruído ensurdecedor.

O governador de Benguela, Luís Nunes, inaugurou uma obra importante na cidade e a TPA cobriu o acontecimento. Acontece que o seu discurso estava inaudível. Ruído puro. E não foi emitido em poucos segundos. O crime foi cometido durante longos minutos, o que também é um erro. No audiovisual trabalhamos com a atenção gerada pela expectativa e ninguém se prende a uma mensagem informativa mais do que 45 segundos, na Rádio ou um minuto e 30 segundos na Televisão. 

O melhor é as autoridades investigarem por que motivo o som do discurso de Luís Nunes estava avariado. Não é de excluir que sua excelência abandone Angola e parta para o exílio como fez o senhor Cláudio In. Os sicários da UNITA são capazes de tudo, até tirar olhos. 

Vutsiki vwa mbunga, munguli wavusaukila. A noite é para todos, mas o lobo abusa dela. Assim falam os ganguelas.

Uma má notícia para quem se colocou de cócoras ante os colonialistas, escravocratas e genocidas. O Ruanda acaba de expulsar os embaixadores da República Democrática do Congo, dos EUA, França, Bélgica, Grã-Bretanha e Alemanha. Faço sinceros votos de que Angola não vá na enxurrada e o Presidente João Lourenço não perca o honroso título der campeão da paz. 

O ano está a caminhar para o fim mas as surpresas são cada vez mais fortes. Os propagandistas às ordens de Washington, Londres e Bruxelas gastaram horas de emissão nas televisões com esta grande notícia: O Presidente Putin falou em guerra na Ucrânia! A manipulação é uma forma insidiosa de censura. 

As autoridades de Moscovo continuam a falar em “operação militar especial” para desarmar e desnazificar a Ucrânia. Mas desde os primeiros dias de Março que denunciam uma guerra dos EUA, seu pseudónimo OTAN (ou NATO) e União Europeia contra a Federação Russa por procuração passada à Ucrânia. Putin sempre falou desta guerra e não agora, quando o senhor Biden e seus sequazes decidiram que ela vai continuar até tombar o último ucraniano. Isto se o conflito não alastrar à Europa Ocidental e todos sejam carne para canhão dos genocidas norte-americanos.

*Jornalista

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