Angola | NEM PÃO NEM CIRCO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Os romanos conseguiram acalmar os povos das suas conquistas e colónias porque usaram até à náusea a fórmula Pão e Circo. Os povos eram escravizados, morriam famintos, mas admitiam tudo porque às vezes aparecia pãozinho na mesa e todos se divertiam com o espectáculo palpitante dos leões a comerem cristãos. 

Uma fórmula infalível. Na União Europeia os povos são esmifrados até ao tutano mas andam felizes da vida porque ouvem todos os dias o Zelensky, a Zelenska, a Úrsula von der Leyen, o Biden, o Macron, o Jens Stoltenberg e outros nazis encartados. 

Em Angola o Poder é destemido, auto-suficiente e servido por super heróis. Isso do pão, cada um que se arranje. Para já a zunga está a ser expulsa das ruas e os professores vão regressar à greve porque a tutela não os respeita. Quanto ao circo, cada um que se arranje. O Girabola vai girando mas há equipas que não têm dinheiro para as viagens. O Grupo Desportivo Escolinha Isaac de Benguela acaba de desistir da competição e a equipa já não entra em campo no sábado. Cá para mim, os dirigentes e atletas são marimbondos. Castigo!

Dentro do espírito de colaboração que me caracteriza, recomendo que comecem a organizar jogos de futebol de solteiros contra casados e dos que têm cabelo que voa contra os de cabelo que não voa. Não é fácil arranjar cabeleiras a voar porque os brancos estão em extinção. Mas sempre se arranja um salão onde alguns cabelos que não voam são desfrisados e começam a voar. Se o ódio não for muito acirrado sempre podem mobilizar alguns mestiços cujos cabelos voam.

Os nossos governantes também podem começar a distribuir cartas ensanguentadas e explosivas. O povo adora essas coisas e até esquece o desemprego, a fome e a submissão.

Outro espectáculo digno de circo vai ser a “reprivatização” da UNITEL que, segundo uma das accionistas, só é possível porque o Procurador-Geral da República falsificou documentos. Um circo de falsários no topo do Estado é verdadeiramente palpitante e dá para rir mais do que com números de palhaços ricos e pobres.

As imagens da Ucrânia também dão grandes números de circo para o povo esquecer a falta de pão e outras vitualhas básicas. As declarações do FMI sobre a economia angolana dão para rir até doer a barriga vazia ou a dar horas. Estamos no melhor dos mundos e ninguém diga desta kapuka, não beberei. Porque o dia de amanhã pode ser bem pior, se não for mesmo péssimo. Boa parte do pessoal político está situado entre o péssimo e o mau, a mediocridade é a bitola máxima do desempenho dos mandantes. Pior não fica.

A reserva da Kissama sim vai de mal a péssimo. Hoje apenas recordo que o Presidente José Eduardo dos Santos até casais de elefantes, girafas e leões deslocou para aquele santuário natural. Foi possível criar estruturas de alta qualidade para os turistas. Hoje é paraíso de caçadores furtivos e aquilo está mais degradado do que a honra e a moral dos sicários da UNITA, o que parecia ser missão impossível. 

O Presidente João Lourenço recebeu nos EUA um prémio pelo seu desempenho na protecção do Ambiente. Em nome dessa façanha imploro a sua excelência para dar uma mão à fauna e flora da Kissama. Por favor. Um dia destes vou fazer revelações terríveis sobre a realidade. Não me digam que os elefantes, os leões, as girafas e outros simpáticos bichos também são marimbondos corruptos. 

Quem sabe! Desde que vi uma bicicleta andar de porco, já nada me espanta. Está visto que hoje estou de costas voltadas para o humor.

Uma das acções insidiosas dos sicários da UNITA é pôr em causa a Autoridade do Estado para levar avante o princípio quanto pior melhor. Recentemente foram postas em dúvida decisões de médicos legistas sobre causas da morte de alguns cidadãos. Houve cedências inaceitáveis por parte das autoridades que ajudaram ao cumprimento das missões dos que querem destruir Angola. Objectivo? Muto simples. Um dia destes, os patrões de Washington, Bruxelas ou Londres impõem um preço máximo ao barril de petróleo angolano e vamos todos pedir esmola. 

A Federação Russa tem armas suficientes para pôr os ladrões na ordem. Nós em Angola estamos praticamente desarmados. E dados os acontecimentos passados, várias vozes se levantaram contra o relatório da autópsia do General Kamurteiro. Não vou entrar na cena, mas por razões patrióticas sou forçado a deixar aqui um alerta. Seja quem for o próximo Chefe do Estado-Maior General das FAA, ficará sempre sob suspeita. 

As nossas forças de defesa ficam fragilizadas. Ficamos todos vulneráveis aos ataques dos sicários da UNITA, de Washington, Londres e Bruxelas. 

A sociedade castrense era até agora o melhor que Angola tinha. O falecimento do General Kamurteiro e as dúvidas levantadas às causas da sua morte abriram um rombo imenso na consistência, fiabilidade e papel aglutinador das FAA. 

Por favor, devolvam ao Povo o pão, o circo e as suas forças armadas, libertadoras e vitoriosas. Ainda há ameaças à Soberania Nacional e à Integridade Territorial. Não é o FMI nem os terroristas de Washington que nos vão defender dos inimigos de sempre. Pelo contrário, ontem como hoje, estarão ao lado dos que nos querem submeter e roubar.

Por fim, um pedido especial. Mandem calar o Procurador-Geral da República. O homem está fora de prazo e não consegue libertar-se das amarras do Miala. Já se esqueceram que foi ele o Procurador Militar que acusou o presidente sombra de Angola? Eu não esqueço. Sem passado nem memória seremos sempre escravos.  

*Jornalista