segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

MANIFESTAÇÃO DO CHEFE E SEUS MAFUKAS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Jornalismo aprende-se nas Redacções ainda que as escolas ajudem à formação. Os jornalistas mais experientes ensinam os novatos e assim vamos andando. O meu primeiro mestre foi Acácio Barradas. Em poucos minutos deu-me duas lições para toda a vida. Queres ser jornalista? Sim, quero. Então vais ser porque sabes ler e escrever. Mas nunca te esqueças que um profissional tem de saber viver, sempre, entre as fronteiras da honra e da dignidade.  

Mais tarde mostrou-me exemplos vivos de jornalistas que não sabiam o que era isso da honra e da dignidade. Estás a ver esta notícia? É um frete. Este gajo vendeu-se. Estás a ver esta página? Tudo encomendado. Os que assinam estes trabalhos venderam a honra. Ficaram irremediavelmente pobres. E quem os comprou não vai ficar mais rico. Só depois aprendi com Acácio Barradas a gerir o espaço (ninguém paginava no chumbo como ele) e outras miudezas próprias da profissão.

Um dia o Província de Angola (hoje Jornal de Angola) fez uma manchete na qual acusava os oposicionistas ao regime fascista e colonialista, de “vendilhões da pátria”. E o Acácio Barradas disse-me contristado: - Este é o nosso maior jornal. Não passa de um boletim da União Nacional e da PIDE. Por isso temos o dever de fazer um jornalismo digno, entre as fronteiras da honra e da dignidade. Devemos esse serviço aos leitores. 

Além destes obstáculos, tínhamos outro quase intransponível, a censura prévia. Acácio Barradas dizia que um jornalista digno desse nome jamais facilita a vida aos censores. Usamos os factos de uma forma honesta. Os censores que cortem. E como eles me cortaram! Fiz a cobertura do famoso “Crime da Samba” que na verdade ocorreu na Maianga e foi “descoberto” no Miradouro da Lua. Os censores cortavam factos que eu revelava. Mas não cortavam os mesmos fragmentos de informação ao Jaime Saint-Maurice, o maior repórter do nosso tempo. Nessa altura o Ernesto Lara Filho já só escrevia crónicas e poemas.

Este introito é fundamental para falar da manifestação do Presidente João Lourenço pela Liberdade de Imprensa. Ponto prévio. Aquilo foi um tremendo fiasco. O líder do MPLA e Chefe de Estado está com pouco apoio entre os Jornalistas. Uma das palavras de ordem foi esta: “Somos jornalistas não somos criminosos”. Calma aí. Querem dizer que um jornalista não pode ser criminoso mesmo que seja? Puro engano de alma. 

O senhor Rafael Marques chamou gatuno ao Presidente da República. O “activista” também se faz passar por jornalista. Cometeu um crime contra a honra de um cidadão. E os crimes contra a honra são gravíssimos para quem aprendeu a viver entre as fronteiras da honra e da dignidade. Quem não sabe o que é isso não é criminoso nem nada. E jamais será um jornalista.

Outra palavra de ordem: “O nosso partido é o jornalismo!” Isto dito por alguns manifestantes é para rir até partir o coco. Algumas e alguns manifestantes vivem à custa do MPLA desde pequeninos. Todos os tachos por onde comem lautamente, foram-lhes dados pelo MPLA. Nunca trabalharam na vida. Só recebem. Algumas e alguns alinham as palavras por alturas e por sons. Escrevem “pulícia” em vez de polícia e pensam assim. São “free-lancers” de vários serviços secretos. Comem à mão do Miala e juram-lhe fidelidade eterna, mas fazem o mesmo com os outros donos. São fiéis a muitos compradores das suas honras. Sobretudo a quem os mandou para a manifestação. É o que está a dar.

Os falantes da manifestação tiveram o cuidado de dizer à TPA que foi a primeira manifestação de jornalistas em Angola depois da Independência Nacional. Com o devido respeito, permitam-me que faça uma correcção. Foi a primeira manifestação de barriguistas, oportunistas, tachistas e bufos disfarçados de jornalistas. Mas é verdade. Foi a primeira vez que o Presidente da República convocou uma manifestação de simpatizantes de jornalistas para ele brilhar junto dos patrões de Washington. Muito bem.

O senhor Teixeira Cândido é jornalista da Empresa Edições Novembro e trabalhava no Jornal de Angola. Um dia moveu influências para ir trabalhar no Grupo Medianova que, segundo o Ministério Público, foi criado com fundos desviados dos cofres do Estado. Ele pediu muito para ser acomodado pelos marimbondos e conseguiu. Hoje é campeão da luta pela Liberdade de Imprensa. Serviu os marimbondos e agora serve os caranguejos, maringuejos, caranbondos e vampiros. Teixeira Cândido come à mesa do Miala! 

Teixeira Cândido tem um passado (recentíssimo) de servente de muita bicharada e isso não lhe dá autoridade para falar de Liberdade de Imprensa. Muito menos de Ricardo Melo, um jovem sem ofício nem oficina que se meteu em altas cavalarias até tropeçar com a morte. Ninguém sabe quem o matou. Mas toda a gente sabe que ele, na bebedeira do “quarto poder”, decidiu entrar na via da chantagem e extorsão. Tinha as costas quentes por gente da segurança interna. Não sabia o que era isso de “jornalismo livre e ao serviço do cidadão”. Como o Teixeira Cândido come à mesa do Miala, é fácil sabermos quem matou o infeliz Ricardo.

Outro manifestante foi Carlos Rosado de Carvalho. Ele afiançou à TPA que “vamos lutar por um jornalismo livre e independente em Angola”. É um cómico. Começou como criado dos donos daqueles jornais dedicados “à economia” em Portugal. Dá imenso dinheiro por baixo da mesa.

Um dia os marimbondos foram buscá-lo a Lisboa, quando os donos portugueses o puseram de castigo e lhe cortaram a ração. Queria ganhar mais do que os patrões! Veio actuar com instrumentos do BESA postos ao serviço do Estado Angolano. Um criadito de marimbondos de pequeno e médio coturno mas que se tornaram grandes. Imensos. Incomensuráveis. Quando os marimbondos foram afastados da mesa logo se tornou agente do Miala. Diz que vai lutar por um jornalismo “livre e independente”. 

Pergunta retórica: O chefe não arranjou gente mais decente para dar a cara pela sua manifestação? Os donos de Washington podem ter gostado, mas a malta cá da banda não vai na conversa.

O Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, resolveu colocar os pontos nos is e os traços nos tês. Disse em Londres que os russos são amigos dos africanos. Leiam: “Os russos são muito nossos amigos, ajudaram-nos desde 1917, quando os comunistas subiram ao poder. Naquela altura, África estava colonizada, não pelos russos ou por chineses, mas por outros países e nós sabemos quem são”. Os angolanos também sabem mas pelos vistos o Presidente João Lourenço ainda não chegou a essa parte da História Contemporânea de Angola.

*Jornalista

» Sobre Acácio Barradas (na foto) - Wikipédia

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