terça-feira, 27 de dezembro de 2022

OS PRIMEIROS PASSOS EM DIRECÇÃO À GUERRA -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A agência de notação financeira Standard & Poor’s retirou aos EUA a nota máxima, seguindo os passos da agência chinesa que algum tempo antes tomou medida idêntica. Isto aconteceu muitos antes da guerra na Ucrânia mas o conflito rebentou por causa desse acontecimento extraordinário mas que foi ignorado pelos Media mundiais.  

O principal credor dos EUA é a China. E em Pequim a decisão da Standard & Poor’s suscitou um recado curioso: As autoridades financeiras norte-americanas têm de pôr as contas em ordem e a dívida externa americana não pode continuar a subir indefinidamente. 

A desclassificação da economia dos EUA foi como gasolina atirada para a fogueira das dívidas soberanas. A Europa entrou em sobressalto. O Banco Central Europeu avisou que pairam graves problemas sobre a economia mundial. Na altura, Sílvio Berlusconi, já com as barbas a arder, avisou que o problema das dívidas soberanas não é dos EUA, da Itália ou de Espanha “mas de todo o mundo” e por isso precisa de uma resposta global urgente.

Já ninguém se lembra mas nos EUA caíram fragorosamente políticas emblemáticas que marcam o Estado Social, para aumentarem o tecto da dívida dos EUA. A Comissão Europeia disse que não há dinheiro para manter o Estado Social tal como está, oficializando a política neoliberal imposta pelo Partido Popular Europeu, largamente maioritário no parlamento de Estrasburgo e que tem uma raiz nazi. 

De Moscovo, na época, foi mandada muita lenha para aumentar a fogueira da crise económica. O Presidente Vladimir Putin, com a decisão da Standard & Poor’s à sua frente, disse que os EUA andam a parasitar as economias dos outros países e é altura de mudarem de vida. 

As crises económicas nos EUA e nas restantes grandes potências ocidentais, até agora, têm sido resolvidas com guerras sangrentas que se sabe como começam mas nunca se sabe como e quando acabam.

A decisão inesperada da Standard & Poor’s criou o clima social, político e económico para que os países ocidentais recorram mais uma vez à violência da guerra para resolverem os problemas que não conseguem resolver desde que Wall Street entrou em falência. 

O dique rebentou pelo lado da maior economia do mundo, o que não é de todo inesperado, porque os EUA também têm a maior dívida do mundo e neste momento já há fundadas dúvidas sobre a sua capacidade de pagá-la. 

Os ministros das Finanças do G7 (países mais ricos do mundo) tentaram encontrar uma saída que, está confirmado, não existe. E foi assim que a União Europeia, os EUA e o seu pseudónimo NATO (ou OTAN) lançaram a guerra contra a Federação Russa por procuração passada aos nazis da Ucrânia, apresentados pelos Media como os grandes defensores dos valores ocidentais, da liberdade e da democracia.

África não está fora dos problemas surgidos nas economias dos países ocidentais. Mas desta vez as grandes potências já não podem arrastar as suas colónias para a guerra, simplesmente porque não existem, ainda que continue o espírito colonialista entre as grandes potências coloniais do passado. 

Os países africanos estão a sofrer graves problemas sociais e económicos como reflexo da crise que afecta os países ocidentais. Mas pelo menos desta vez não ouvimos os habituais argumentos que enxameiam os órgãos de comunicação social ocidentais e que atribuem aos políticos africanos a responsabilidade de todos os males que afectam a Humanidade.

Angola inesperadamente juntou-se ao coro dos falidos. E o Presidente João Lourenço não hesitou em declarar o seu alinhamento na Voz da América, órgão de propaganda da CIA, tão desacreditado que a própria Casa Branca proíbe que emita para os EUA! Uma decisão tão inesperada como aquela que foi tomada há alguns anos pela Standard & Poor’s, retirando a nota máxima à economia dos EUA. Daí para cá a situação piorou e muito. 

Os EUA apostaram tudo na indústria da guerra e da morte. Escolheram vários alvos ao mesmo tempo. Síria, Irão, Iraque, Iémen, Venezuela, Coreia do Norte. E começaram a disparar furiosamente com ao apoio dos seus Juan Guaidó. Foram disparando até chegarem ao absurdo de apontarem as suas armas de destruição maciça à Federação Russa e à República Popular da China. África não pode entrar nesta espiral de violência e morte. Os colonialistas genocidas de ontem que se entendam. 

O Presidente João Lourenço abandonou a política de não alinhamento e votou a favor deles. Pode ser que este gesto de autêntica traição a quem esteve sempre do lado anti-colonialista não seja valorizado. Pode ser que quem apoiou as lutas armadas de libertação em África desde a primeira hora dê um desconto a quem decidiu ignorar esse passado, que foi base da Independência Nacional. 

Os angolanos de todas as origens, de todos os partidos, de todos os credos não podem ignorar o alinhamento. E todos juntos devem responsabilizar o Presidente da República pelo seu gesto unipessoal, ao arrepio da doutrina do seu partido, o MPLA. Quanto mais não seja porque ninguém o mandatou para se aliar aos colonialistas e genocidas de sempre.

África está em condições de enfrentar a crise mundial com sucesso. Mas para que esta parte do mundo seja um oásis, os políticos africanos não podem dar crédito às políticas da Casa Branca e do Pentágono. Muito menos podem acatar as suas ordens desesperadas, quase tresloucadas. Para os africanos enfrentarem a crise do sistema, têm de impedir a contaminação que chega do Ocidente à boleia de todos os seus instrumentos de agressão, como o FMI, o Banco Mundial ou mesmo o Banco Central Europeu. 

O que é bom para os colonialistas, escravocratas e genocidas só pode ser péssimo para África. Se alguém tiver dúvidas, contacte-me que eu explico porquê. Hoje mando-vos uma “charge” interessante e que confirma a minha posição.

*Jornalista

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