LEITURAS DE FÉRIAS
Artur Queiroz*, Luanda
As férias permitem tirar a poeira
aos livros. É tempo de leituras. Estou a ler “The Buffalo soldiers-The Story of
South Africa’s 32 Battalion 1975-
Quando acabou a guerra escreveu
as suas memórias. Nas páginas do livro “The Buffalo soldiers-The Story of South
Africa’s 32 Battalion 1975-
Vou fazer para as minhas amigas e meus amigos a leitura desta obra que foi lida, seguramente, por jornalistas, comunicólogos, comentadores, colunistas, políticos de todos os partidos políticos angolanos, esposas, amantes, padres e outros comerciantes. Apesar de todos terem lido a obra, ainda dizem que a Guerra pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial foi uma guerra civil! Um aviso: Não procurem o livro fora da África do Sul porque ninguém o publicou além do país da Irmandade Africâner.
A imprensa internacional, sobretudo a portuguesa, durante a guerra contra os invasores sul-africanos, dava grande destaque às vitórias da UNITA e Savimbi era apresentado como um tremendo chefe militar. A realidade é caricata: o chefe do Galo Negro desertava das frentes de batalha, quando pressentia que as tropas sul-africanas podiam não aguentar o ímpeto das FAPLA.
Um ano antes da Operação Moduler, o alto comando sul-africano já conhecia a realidade no terreno. O coronel Jan Breytenbach, no seu livro, página 254, faz esta análise:
“Desde o início estava claro para os experientes soldados sul-africanos, que a UNITA era incapaz de parar as FAPLA. Savimbi desperdiçou o dinheiro e os recursos sul-africanos em treino e desdobramento de batalhões regulares, enquanto negligenciava aumentar a capacidade e a intensidade da sua guerra de guerrilha. Este foi o motivo pelo qual a derrota estava estampada nos rostos dos seus militares. Era totalmente impossível, nessa fase da guerra de guerrilha, a UNITA organizar forças que pudessem contrapor as investidas das FAPLA. Savimbi desperdiçou o apoio da África do Sul em material de guerra, formação especializada e apoio de combate, que devia ser usado para expandir e melhorar os seus destacamentos de guerrilha.”
Mas este é apenas o prefácio da demolição dos mitos. Mais à frente, afirma o coronel comandante do Batalhão Búfalo:
“Infelizmente, os oficiais de Operações Especiais dos Serviços de Inteligência (CSI), que estavam a aconselhar e ligados a Savimbi, não tinham noção da guerra de guerrilha, especialmente nos níveis mais elevados. A maioria dos instrutores que ministrava o treino, sabia que eles estavam a abordar o problema de forma errada e desabafaram, mas os oficiais de ligação e de formação dos Serviços de Inteligência não lhes deram ouvidos.”
Os mitos começaram a ser enforcados pelo oficial das forças de Pretória que fez mais operações em Angola, depois atribuídas às tropas da UNITA. Jan Breytenbach escreve:
“O oficial de inteligência da UNITA, Caxito, forneceu estimativas incorrectas da situação geral. Ele baseou-se na opinião exagerada que Jonas Savimbi tinha de si mesmo, segundo a qual ele era o mestre da guerra de guerrilha no Continente Africano. Se qualquer um dos seus generais ousasse apontar os pontos fracos da estratégia de guerra de Savimbi, isso era considerado um insulto imperdoável. Essa audácia era geralmente recompensada com uma bala na nuca.”
Os sul-africanos detectaram que Savimbi caiu numa “armadilha” das FAPLA e enviou as suas melhores tropas para Cazombo onde se enredaram em combates infindáveis com as FAPLA, acumulando desaires. No Cuando Cubango as forças angolanas avançavam sobre Mavinga sem oposição. O chefe da UNITA tinha colocado os seus homens a centenas de quilómetros do sítio onde deviam estar. Face à situação, Breytenbach conta no seu livro, página 255:
“Eddie Viljoen voou para a Jamba para se encontrar com Savimbi e discutir a contribuição que o 32º Batalhão podia dar. Acima de tudo, Savimbi claramente embaraçado, queria artilharia e aviões de ataque. A dado momento, a UNITA alegou que tinha sitiado a força adversária e estava prestes a aniquilá-la, uma ameaça que foi produto da imaginação de Caxito. A verdade é que as brigadas das FAPLA juntaram-se sem problemas”.
Mais à frente o coronel Jan Breytenbach dá de Savimbi a imagem de um charlatão que nada sabia de guerra de guerrilha e muito menos de guerra convencional. Se os sul-africanos não invadissem Angola, com todas as suas forças, Mavinga e a Jamba em breve caíam nas mãos das FAPLA. Mas o chefe da UNITA vendia à imprensa internacional a sua condição de guerreiro invencível.