Presidente da França está em
Bissau para um encontro com o seu homólogo guineense. Mas a visita só fará
sentido se "resultar em acordos com vista à melhoria da qualidade de vida
dos cidadãos", afirma ativista social.
O Presidente da França, Emmanuel
Macron, chegou na noite passada à Guiné-Bissau, onde está previsto na manhã
desta quinta-feira (28.07) um encontro de trabalho com o seu homólogo
guineense, no âmbito de uma visita inédita de um chefe de Estado francês ao país.
Macron foi recebido no aeroporto
pelo Presidente Umaro Sissoco Embaló, que o acompanhou até ao hotel. Num
trajeto de cerca de oito quilómetros entre o aeroporto internacional Osvaldo
Vieira e o centro de Bissau, Macron e Sissoco, que seguiram em viaturas
separadas, foram saudados por milhares de pessoas ao som de música e
"vivas ao presidente da França".
Esta é a última etapa da deslocação
do Presidente francês ao continente africano, depois de ter estado
nos Camarões e
no Benim.
Em entrevista à DW África, o
vice-presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH), Bubacar Turé,
considera que "a visita é importante". Mas "só faz sentido se
resultar em acordos com vista à melhoria da qualidade de vida dos
cidadãos".
DW África: Que temas é que a
Liga Guineense dos Direitos Humanos gostava que fossem discutidos durante a
visita?
Bubacar Turé (BT): Nós
pensamos que é uma oportunidade única para o Presidente Macron interpelar o seu
homólogo guineense sobre os compromissos internacionais assumidos pelo Estado
da Guiné-Bissau no concernente à promoção e proteção dos direitos humanos,
sobretudo nos domínios de exercício livre das liberdades fundamentais, porque o
poder político atual tem enormes dificuldades de lidar com o exercício dessas
liberdades.
Nos últimos dois ou três anos
assistimos a retrocessos em todos os níveis no domínio dos direitos humanos,
nomeadamente detenções arbitrárias, raptos e
espancamentos dos cidadãos e intimidação de jornalistas. Além de ataques
contra estações radiofónicas, incumprimento de decisões judiciais.
DW África: E que temas é que a
Liga dos Direitos Humanos acredita que serão, de facto, discutidos?
BT: Sendo uma visita com uma
enorme carga geopolítica, na minha opinião, creio que a situação securitária e
diplomática da subregião, ou seja, ao nível da CEDEAO [Comunidade Económica dos
Estados da África Ocidental], tais como da Mali, Burkina Faso e Guiné Conacri,
serão objeto de discussões.
DW África: Pode haver uma maior
participação de França na vigilância dos direitos humanos na Guiné-Bissau?
BT: Deve haver porque os
direitos humanos são os valores fundadores da França. Nesta perspetiva, a
França tem a dupla responsabilidade de, no quadro da sua cooperação bilateral
com a Guiné-Bissau, colocar estas questões na sua agenda prioritária e
condicionar até apoios financeiros com o respeito pelos direitos humanos e os
princípios de Estado de Direito.
DW África: Na sua opinião, a que
se deve esta visita? Serve de instrumento de propaganda do atual regime?
BT: A visita em si é
importante para o país, na medida em que é a primeira de um chefe de Estado
francês à Guiné-Bissau. Esta visita e demais outras que o atual regime tem
promovido nos últimos tempos só fazem sentido se resultarem na assinatura
e implementação de acordos com vista à melhoria da qualidade de vida dos
cidadãos. Ou seja, a redução da extrema pobreza, que é muito alta no país, a
melhoria da capacidade de resposta no nosso sistema de saúde quase inexistente.
O nosso sistema de ensino, as nossas infraestruturas, etc.
DW África: A Guiné-Bissau assumiu
recentemente a presidência rotativa da CEDEAO. O que é que França pode alcançar
com esta visita?
BT: A França está numa clara
rota de colisão com vários países da subregião, que são as suas ex-colónias, e
por conseguinte está a perder influência nestes países, o que permite os seus
rivais da geopolítica, tais como a Rússia e a China, aumentarem as suas
influências nesses países. É o que está a acontecer no Mali, por exemplo. Por
isso, esta visita não deixa de ser uma oportunidade para a França tentar
procurar apoios do Presidente Sissoco Embaló, na sua qualidade do presidente em
exercício da CEDEAO.
Inês Cardoso | Deutsche Welle