sexta-feira, 29 de julho de 2022

AS TRANSIÇÕES OPOSTAS DO SÉCULO 21 – Boaventura Sousa Santos

Ambas ocorrem simultaneamente. A democracia cede a “novas” ditaduras. Mas em vez da ideia positivista de “progresso” surge a de justiça social e ambiental. Só uma destas transformações perdurará. Quem quer a segunda precisa frear a primeira

Boaventura de Sousa Santos* | Outras Palavras

Ao longo dos últimos cem anos falou-se muito de transições entre tipos de sociedade e entre civilizações, e construíram-se muitas teorias da transição. Segundo o antropólogo francês Maurice Godelier, a transição é a fase particular de uma sociedade que encontra cada vez mais dificuldades em reproduzir o sistema econômico e social sobre o qual se funda e começa a reorganizar-se sobre a base de outro sistema que se transforma na forma geral das novas condições de existência. As transições mais estudadas nas ciências sociais foram as seguintes: da idade medieval para a idade moderna, do feudalismo para o capitalismo, do capitalismo para o socialismo, da ditadura para a democracia. Nas últimas décadas, com o colapso da União Soviética, têm sido muito estudadas as transições do socialismo de tipo soviético para o capitalismo.

Os sinais dos tempos obrigam-nos a pensar em dois tipos de transição ainda pouco estudados: a transição da democracia para ditaduras de tipo novo; e a transição epocal do paradigma moderno da exploração sem limites dos recursos naturais (a natureza nos pertence) para um paradigma que promova a justiça social e ecológica, tanto entre os humanos como entre os humanos e a natureza (pertencemos à natureza). A primeira transição aponta para uma profunda crise da democracia, enquanto a segunda aponta para a crise profunda dos modelos de desenvolvimento econômico-social que têm dominado nos últimos cinco séculos. São transições de sinal contrário porque, se a primeira transição se consumar, é difícil imaginar que a segunda possa ocorrer. É bom ter isto presente, uma vez que, quem quiser que a segunda transição ocorra, tem de lutar para que a primeira não ocorra. Explicarei por quê.

Portugal | Bancos livraram-se de mais de 3000 trabalhadores entre 2020 e 2021

O Banco de Portugal informou esta quinta-feira que as instituições bancárias que operam em Portugal «reduziram» mais de 3000 trabalhadores e fecharam acima de 350 agências nos últimos dois anos. 

Segundo o Banco de Portugal (BdP), em 2021 havia um total de 58 859 trabalhadores nos bancos que operam em Portugal (considerando a actividade interna e externa), menos 3027 do que em 2020 e o número mais baixo desde o início da série, em 1990.

Em Portugal trabalhavam 43 726 pessoas em 2021, menos 2163 do que os 45 889 de 2020 e também o número mais baixo desde o início da série. O valor mais alto foi atingido em 1995, com 61 885 trabalhadores. À actividade externa dos bancos estavam afectos 15 133 trabalhadores no ano passado, contra 15 997 no ano anterior. É o valor mais baixo desde 2005.

Em termos de agências no nosso país, os bancos tinham 3530 em 2021, menos 297 do que as 3827 que existiam em 2020 e o valor mais baixo desde 1993 (ano em que havia 3129 agências). O maior número de balcões em Portugal foi atingido em 2010, com 6453 balcões.

Segundo o BdP, os dados hoje publicados revelam «um reforço das alterações ocorridas nas últimas duas décadas», destacando o recurso aos meios electrónicos para a realização de transacções bancárias.

Certo é que tanto os despedimentos como o encerramento de agências, que nalguns casos deixaram a população sem serviços bancários no raio de alguns quilómetros, impulsionaram os lucros registados pela banca nos últimos dois anos. A receita completa-se com a precariedade, como se denunciou no Santander Totta, em 2021, acusado de recorrer a trabalho temporário para substituir trabalhadores despedidos, e foram 1175 os que saíram do banco, m 2021. Esta quinta-feira, o Santander Totta anunciou lucros de 241,3 milhões de euros no primeiro semestre do ano, uma subida de 196,5% face a igual período de 2021. Ontem, foi a vez de o BCP anunciar lucros de 74,5 milhões de euros no primeiro semestre, multiplicando por mais de seis o resultado obtido no período homólogo.

AbrilAbril | Lusa

Ler em AbrilAbril:

Lucros do BPI disparam 180% com despedimentos e fecho de balcões

Portugal | LIVRAI-NOS DO MAL

Miguel Guedes* | Jornal de Notícias | opinião

O silêncio sepulcral que a Igreja portuguesa mantém sobre os abusos sexuais cometidos dentro da organização, décadas a fio de um terço-ponta-do-icebergue, terça parte de um rosário de crimes e pecados que nem 50 ave-marias levam ou lavam, é perturbador. O sentimento de impunidade é uma malha tecida pela protecção que a suposta virtude lhe confere. É esta, também, a felicidade de vivermos no tempo do Papa Francisco. Esta, a de podermos acreditar em redenção. Foi pela sua iniciativa, na cimeira de 2019 em Roma, que se determinou que todas as dioceses do Mundo teriam que criar uma comissão de protecção de menores, sendo escrito um manual sobre os procedimentos a tomar no caso de os bispos terem conhecimento de quaisquer denúncias que envolvessem abusos sexuais de menores por qualquer membro da Igreja. Os números são aterradores. Assistimos a como o episcopado francês pediu "perdão" às 300 mil vítimas de pedofilia da Igreja francesa entre 1950 e 2020, pelas 216 mil crianças e menores, 80% das quais do sexo masculino, que foram abusados ou agredidos sexualmente às mãos de clérigos católicos ou religiosos.

As palavras ditas e as que ficam por dizer. É preocupante a reacção da Igreja Católica portuguesa, pela voz de D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa, à abertura de dez inquéritos pelo Ministério Público na sequência das 17 denúncias anónimas remetidas à Procuradoria-Geral da República pela "Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica", criada em Janeiro e liderada por Pedro Strecht. Não só porque é uma altiva oração pela omissão, mas também pelas notícias que dão conta de que, à semelhança do seu predecessor D. José Policarpo, nada fez relativamente às denúncias recebidas relativamente a um padre que tinha a seu cargo duas paróquias a norte do distrito de Lisboa, nos anos 90. Inacção, apesar das sucessivas acusações e de um encontro com a vítima, promovido pela mãe, em 2019. Afastado em 2002 para uma capelania de hospital, o alegado agressor ainda foi a tempo de fundar uma associação privada, não canónica, com o objectivo de acolher crianças, jovens e idosos num grupo cristão. Todo um rosário.

Desde Janeiro, a Comissão Independente já validou mais de 350 denúncias e está, naturalmente, atenta aos casos já prescritos pela possibilidade de prossecução da actividade criminosa. Porque são crimes, o que está em causa. Actividade criminosa, sucessiva e reiterada, oculta pela crença no suposto antagonismo de valores. É, como tal, tão incompreensível a particular protomudez de D. Manuel Clemente, como são inaceitáveis as declarações do presidente da República (PR). Marcelo não pode falar "pessoalmente" perante o assomo de uma realidade tão hedionda, como se possuísse elementos para acreditar que a Igreja Católica portuguesa nunca varreria para baixo do seu manto os casos que agora se conhecem, somam e agravam. O acto de fé do PR não nos livra do mal. Pelo contrário. Não encontra, sequer, respaldo na realidade comparada dos crimes cometidos pela Igreja em França, Irlanda ou na Alemanha, onde a fé nos homens não foi objecto de apreciação pelo poder político. Prudência, neste caso, é pisar no acelerador do terço ou do completo rosário, assumir os pecados e pagar pelos crimes. E pedir desculpa.

O AUTOR ESCREVE SEGUNDO A ANTIGA ORTOGRAFIA

​​​​​​​*Músico e jurista

AEROPORTO E RESTO DO PAÍS ADIADO. VAMOS DE FÉRIAS... 'PRO BONO'

O Curto do Expresso vai estar a seguir, é só clicar. Assim tão fácil fosse a solução e construção de um aeroporto para Lisboa que nada tivesse que ver com o atual da Portela e a ameaça constante para os lisboetas de cair um airbus dos batajolas no prato da sopa de pacatos cidadãos. Enfim, conta-se com os milagres da Fátima que até sabemos desde o milagre da dita terrinha que anda pelos ares e caiu do céu para os pastorinhos. Adiante.

O Curto, pelo teclar do diretor-adjunto Martim Silva, vem repleto de matéria. Não podíamos recusar divulgar. Deixamos o convite e avançamos para uma notícia exclusiva: VAMOS DE FÉRIAS...

Sim, senhores e senhoras, leram bem. Repetimos: VAMOS DE FÉRIAS. Pormenorizamos: a partir de amanhã, sábado. 30 de julho fechamos a loja. Melhor dito: amanhã, o tal sábado, 30, será o último dia em que publicaremos algo no PG. Domingo, 31, já estaremos com a barriga ao sol até 10 de agosto. Só a partir de 11 de agosto, quarta-feira, inclusive, é que voltaremos aqui às lides do mau feitio e mau dizer. Resumindo: FECHAMOS PARA FÉRIAS DE 31 DE JULHO A 10 DE AGOSTO, inclusive. Não deixamos aqui o desenho porque consideramos que compreenderam.

Então 'inté' lá e obrigado por terem a paciência de nos visitar.

Dito isto vamos avançar. Deixamos a seguir o Curto anunciado. Com abraços, beijinhos e um grande ATÉ DAQUI POR UMA SEMANA (mais que menos). Saúde e muita revolta incontida neste país à beira da fossa plantado. Sorriam e usem uma forte mola do estendal a apertar os buracos do nariz. Pois. O fedor é demais. (PG)

Marrocos: UMA CARTILHA PARA MASCARAR A CRESCENTE REPRESSÃO

Vigilância, campanhas de difamação, intimidação, prisão após julgamento injusto

(Nova York) – As autoridades marroquinas estão usando táticas indiretas e encobertas para silenciar ativistas e jornalistas críticos ao regime, disse a Human Rights Watch em um relatório divulgado hoje. O objetivo dessas estratégias é preservar a imagem cobiçada de Marrocos como um país “moderado” e respeitador de direitos, quando na realidade está se tornando cada vez mais repressivo.

No relatório de 129 páginas, intitulado “ Eles vão te pegar não importa o quê: cartilha do Marrocos para esmagar a dissidência” (“Eles vão te pegar não importa o quê: cartilha do Marrocos para suprimir a dissidência”), a Human Rights Watch documenta uma série de táticas que, quando usadas em conjunto, formam um ecossistema de repressão, visando não apenas silenciar vozes dissidentes, mas também afastar todas as críticas possíveis. As estratégias incluem julgamentos injustos e longas penas de prisão por acusações criminais não relacionadas à expressão, assédio e campanhas de difamação em meios de comunicação pró-Estado e perseguição de familiares de dissidentes. As vozes críticas ao Estado também foram submetidas à vigilância por vídeo e digital e, em alguns casos, à intimidação e ataques físicos que a polícia não conseguiu investigar adequadamente.

“As autoridades usam uma cartilha de táticas dissimuladas para reprimir a dissidência enquanto se esforçam para manter intacta a imagem de Marrocos como um país respeitador dos direitos”, disse Lama Fakih , diretor do Oriente Médio e Norte da África da Human Rights Watch. “A comunidade internacional deve abrir os olhos, reconhecer a repressão pelo que é e exigir que pare imediatamente.”

A Human Rights Watch documentou 8 casos de repressão multifacetada, envolvendo 12 julgamentos e vários alvos associados. Para isso, entrevistou 89 pessoas dentro e fora de Marrocos, incluindo pessoas sujeitas a assédio policial ou judicial, seus familiares e amigos próximos, defensores dos direitos humanos, ativistas sociais e políticos, advogados, jornalistas e testemunhas de julgamento. A Human Rights Watch também participou de 19 sessões de julgamento de vários dissidentes em Casablanca e Rabat, revisou centenas de páginas de arquivos judiciais e outros documentos oficiais e monitorou de perto a mídia pró-Estado por mais de dois anos.

Desde que o rei Mohamed VI subiu ao trono do Marrocos em 1999, a Human Rights Watch documentou dezenas de condenações de jornalistas e ativistas por acusações relacionadas à liberdade de expressão, em violação de seu direito a ela. Esses testes continuam. Paralelamente, as autoridades aperfeiçoaram uma abordagem diferente para os críticos mais proeminentes, processando-os por crimes não relacionados à expressão, como lavagem de dinheiro, espionagem, estupro, agressão sexual e até tráfico de pessoas.

MACRON NA GUINÉ-BISSAU: DIREITOS HUMANOS NA AGENDA DO PR FRANCÊS?

Presidente da França está em Bissau para um encontro com o seu homólogo guineense. Mas a visita só fará sentido se "resultar em acordos com vista à melhoria da qualidade de vida dos cidadãos", afirma ativista social.

O Presidente da França, Emmanuel Macron, chegou na noite passada à Guiné-Bissau, onde está previsto na manhã desta quinta-feira (28.07) um encontro de trabalho com o seu homólogo guineense, no âmbito de uma visita inédita de um chefe de Estado francês ao país.

Macron foi recebido no aeroporto pelo Presidente Umaro Sissoco Embaló, que o acompanhou até ao hotel. Num trajeto de cerca de oito quilómetros entre o aeroporto internacional Osvaldo Vieira e o centro de Bissau, Macron e Sissoco, que seguiram em viaturas separadas, foram saudados por milhares de pessoas ao som de música e "vivas ao presidente da França".

Esta é a última etapa da deslocação do Presidente francês ao continente africano, depois de ter estado nos Camarões e no Benim.

Em entrevista à DW África, o vice-presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH), Bubacar Turé, considera que "a visita é importante". Mas "só faz sentido se resultar em acordos com vista à melhoria da qualidade de vida dos cidadãos".

DW África: Que temas é que a Liga Guineense dos Direitos Humanos gostava que fossem discutidos durante a visita?

Bubacar Turé (BT): Nós pensamos que é uma oportunidade única para o Presidente Macron interpelar o seu homólogo guineense sobre os compromissos internacionais assumidos pelo Estado da Guiné-Bissau no concernente à promoção e proteção dos direitos humanos, sobretudo nos domínios de exercício livre das liberdades fundamentais, porque o poder político atual tem enormes dificuldades de lidar com o exercício dessas liberdades.

Nos últimos dois ou três anos assistimos a retrocessos em todos os níveis no domínio dos direitos humanos, nomeadamente detenções arbitrárias, raptos e espancamentos dos cidadãos e intimidação de jornalistas. Além de ataques contra estações radiofónicas, incumprimento de decisões judiciais.

DW África: E que temas é que a Liga dos Direitos Humanos acredita que serão, de facto, discutidos?

BT: Sendo uma visita com uma enorme carga geopolítica, na minha opinião, creio que a situação securitária e diplomática da subregião, ou seja, ao nível da CEDEAO [Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental], tais como da Mali, Burkina Faso e Guiné Conacri, serão objeto de discussões.

DW África: Pode haver uma maior participação de França na vigilância dos direitos humanos na Guiné-Bissau?

BT: Deve haver porque os direitos humanos são os valores fundadores da França. Nesta perspetiva, a França tem a dupla responsabilidade de, no quadro da sua cooperação bilateral com a Guiné-Bissau, colocar estas questões na sua agenda prioritária e condicionar até apoios financeiros com o respeito pelos direitos humanos e os princípios de Estado de Direito.

DW África: Na sua opinião, a que se deve esta visita? Serve de instrumento de propaganda do atual regime?

BT: A visita em si é importante para o país, na medida em que é a primeira de um chefe de Estado francês à Guiné-Bissau. Esta visita e demais outras que o atual regime tem promovido nos últimos tempos só fazem sentido se resultarem na assinatura e implementação de acordos com vista à melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Ou seja, a redução da extrema pobreza, que é muito alta no país, a melhoria da capacidade de resposta no nosso sistema de saúde quase inexistente. O nosso sistema de ensino, as nossas infraestruturas, etc.

DW África: A Guiné-Bissau assumiu recentemente a presidência rotativa da CEDEAO. O que é que França pode alcançar com esta visita?

BT: A França está numa clara rota de colisão com vários países da subregião, que são as suas ex-colónias, e por conseguinte está a perder influência nestes países, o que permite os seus rivais da geopolítica, tais como a Rússia e a China, aumentarem as suas influências nesses países. É o que está a acontecer no Mali, por exemplo. Por isso, esta visita não deixa de ser uma oportunidade para a França tentar procurar apoios do Presidente Sissoco Embaló, na sua qualidade do presidente em exercício da CEDEAO.

Inês Cardoso | Deutsche Welle

Extradição | MOÇAMBIQUE VAI APRESENTAR NOVO RECURSO NO CASO CHANG

Moçambique anunciou que pretende recorrer da decisão da Justiça sul-africana de negar a Maputo o direito ao recurso contra a extradição do ex-ministro Manuel Chang. Analista fala em "manobra dilatória".

A Procuradoria-Geral da República (PGR) moçambicana deverá apresentar um novo recurso, depois do Tribunal Superior da África do Sul ter recusado um pedido para recorrer da decisão sobre a extradição do ex-ministro das Finanças Manuel Chang para os Estados Unidos da América.

"Confirmo que a República de Moçambique irá interpor uma petição ao Supremo Tribunal de Apelação nesta matéria", disse o advogado Busani Mabunda numa nota enviada à agência de notícias Lusa.

De acordo com o advogado sul-africano, que representa a PGR de Moçambique na África do Sul, "o caso está longe do fim do litígio. Pode acabar no Tribunal Constitucional, pois esse tribunal nunca considerou o seu mérito".

Em curtas declarações à DW África após este anúncio, Adriano Nuvunga, coordenador do Fórum de Monitoria do Orçamento (FMO), disse que o recurso pode ser uma "manobra dilatória" com "custos elevadíssimos" para o Estado moçambicano.

"Há custos não só com os advogados, mas também com o processo", referiu. Para Nuvunga, o novo recurso é mais uma forma de adiar o "inevitável" - a extradição de Manuel Chang para os EUA.

O Tribunal Superior da África do Sul, divisão de Gauteng, indeferiu na quarta-feira (27.07) um pedido de recurso de Moçambique na Justiça sul-africana, abrindo caminho à extradição de Chang para os EUA, onde é acusado de lavagem de dinheiro e fraude financeira.

Deutsche Welle | Lusa

Moçambique | EX-MINISTRA HELENA TIAGO CONDENADA A 16 ANOS DE PRISÃO

Ex-ministra do Trabalho de Moçambique, Helena Taipo, foi condenada a 16 anos de prisão num processo de desvio de dinheiro de mineiros moçambicanos que trabalham na África do Sul.

A antiga ministra do trabalho, Maria Helena Taipo, foi condenada a 16 anos de prisão por crimes de peculato e participação económica em negócios num caso envolvendo o desvio do equivalente a mais de 1,6 milhões de euros da Direção Nacional do Trabalho Migratório.

Taipo, 60 anos, foi acusada igualmente de ter recebido 1,4 milhões de euros em subornos que correspondiam a contrapartidas pelo favorecimento de empresas de construção civil e de uma gráfica em contratos com o Instituto Nacional de Segurança Social.

Ao longo do julgamento, a ex-ministra negou sempre o seu envolvimento no caso, remetendo explicações à Direção do Trabalho Migratório (DTM), entidade gestora do dinheiro resultante da parcela diferida dos salários dos mineiros moçambicanos que trabalham na África do Sul. 

A antiga embaixadora de Moçambique em Angola e ex-governadora da província de Sofala foi condenada também ao pagamento de um ano de multa à taxa diária de 2% do salário mínimo. Outros oito réus foram condenados a penas entre 12 e 16 anos de prisão. Dois arguidos foram absolvidos.

Angola | TRATAMENTO DESIGUAL E PREJUDICIAL – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Os vazios de infirmação fazem mal à sociedade. E ainda pior ao regime democrático. Por isso os Media são tão importantes. E é garantida a liberdade de expressão. Esta parte é mais complicada, porque as formas modernas de censura passam despercebidas aos cidadãos comuns e são armas terríveis nas mãos de poderes ilegítimos, que não se submetem a eleições. Nas autoestradas da comunicação circulam milhares de milhões de fragmentos de informação. É o bombardeamento informativo. Para distinguir informação de propaganda ou falsas notícias é preciso fazer um doutoramento.

A censura do antigamente consistia em cortar, esconder, manipular, arrasar a mensagem informativa na sua essência. Hoje é o contrário. Os consumidores são inundados com milhões de mensagens que nada valem. E no meio do lixo vem o que interessa. É assim como uma onda gigante que se despedaça contra os rochedos e depois é preciso procurar nos destroços o que é mesmo informação. Só as “mãos autorizadas” pelos poderes ilegítimos podem soltar a onda. Depois cada qual procura o que lhe interessa. Para não encontrarem nada, os consumidores levam com doses maciças de entretenimento e lá se vai tudo na corrente e nas marés de lixo.

 Os jornalistas deixaram de fazer o seu papel de mediadores entre o acontecimento e os consumidores. Aderiram também à censura moderna, comem nas mãos dos donos e vestem os trajes luminosos do entretenimento. Por isso, a democracia está cada vez mais débil e são os poderes ilegítimos que definem os seus valores e sobretudo os seus limites. Agora o golpe de teatro.

Angola é uma espécie de oásis neste deserto informativo. As “mãos autorizadas” não existem. O bombardeament6o informativo ainda é uma espécie de tiro de canhangulo e o que sai de cada descarga são meia dúzia de fragmentos inócuos, não fazem sangue. São facilmente legíveis. Directamente assimilados pelos consumidores. A propaganda também existe, mas em menor quantidade e sobretudo mal feita. Ninguém se deixa levar pelos quadros desenhados por propagandistas sem ofício nem oficina.

Agora o xeque-mate. Neste quadro, o Executivo sai altamente prejudicado. Porque paga milhões e nada recebe em troca. Fica com a fama de controlar os Media públicos e daí não tira qualquer benefício. Pelo contrário, fica mal visto. Se só conseguem fazer arremedos de propaganda, ficam mais baratos se fecharem ou estiverem quietos. 

Para tudo correr bem, a TPA passa enlatados, a RNA emite aqueles milhares de horas da música popular recolhida em todas as regiões do país, desde os anos 60, ou música clássica fornecida gratuitamente no espírito do intercâmbio entre estações. Em 1975, deixei na cave mais de mil horas de música sinfónica, interpretada pelas melhores orquestras do mundo. E ficou tudo organizado pela fabulosa Minah Jardim.

O Jornal de Angola faz falta porque a Imprensa, segundo Agostinho Neto, “é o rascunho da História”. Mas é urgente enviar a maioria de quem colabora na página de Opinião para a escola primária. Se conseguirem aprender a fazer redacções e não derem erros nos ditados, depois das eleições voltam. As províncias produzem excelente material. Mas nos rochedos que são todas as páginas, as notícias batem, desfazem-se e ninguém consegue ler. Tragédia! 

Pelo que tenho visto na TPA, ouvido na RNA e lido no Jornal de Angola o MPLA está a ser altamente prejudicado. Gravemente prejudicado! Vou dar um exemplo muito simples. 

O cabeça de lista do MPLA, João Lourenço, presidiu a um comício no Sumbe. Escolheu um tom coloquial e no meio lançava mensagens políticas importantíssimas. É uma técnica muito eficaz. A TPA, num dos seus noticiários, passou quatro minutos (uma eternidade em televisão) de conversa amena com os eleitores e nem uma mensagem política! Só no noticiário seguinte emitiu duas mensagens importantes! Mas não as retirou do colóquio. Deixou os pedregulhos onde a informação bateu e se desfez. 

A UNITA realiza actividades de massas. O cabeça de lista do partido, Adalberto da Costa Júnior, opta pelo discurso “concentrado”. A TPA quando faz a cobertura das acções de campanha do Galo Negro apresenta constantemente planos fechados. O que dá a sensação visual de que ele está a falar para milhões! Um truque antigo muito eficaz. Se eu fosse responsável da campanha eleitoral do MPLA já tinha emitido um comunicado protestando contra a forma desigual como os dois partidos estão a ser tratados, com graves prejuízos para o MPLA.

Em plena campanha eleitoral, a UNITA, o Bloco Democrático (que não tem condições para concorrer a eleições) e o partido de Abel Chivukuvu que cabe no bolso da sua camisa, anunciaram uma manifestação de protesto contra a desigualdade de tratamento nos Media públicos! É preciso lata. Os grandes beneficiados sentem-se prejudicados!

Nunca se viu, em plena campanha eleitoral, partidos concorrentes convocarem manifestações de protesto contra os Media. Querem intimidar os jornalistas. Querem descredibilizar o espaço mediático. Querem lançar a confusão. Mas sabem que ao convocarem manifestações de rua, estão a soltar os terroristas do Nélito e do Abel Chivukuvuku. Não são necessárias sondagens para concluirmos que a frente esquinada da UNITA está derrotada logo ao terceiro dia de campanha eleitoral. Feita em pedaços!

Hoje o líder da CASA-CE quis mostrar que a sua organização ainda é a UNITA B e disse no Bengo que a terra é do povo, não é do Estado. Atenção, muita atenção! Eles estão a preparar movimentos de ocupação de terras. Para não deixarem pedra sobre pedra.

*Jornalista

Angola | João Lourenço critica oposição por recusar homenagem a ex-PR

O candidato do MPLA às eleições de 24 de agosto criticou os partidos da oposição por não prestarem homenagem ao ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos: "Não foram prestar homenagem ao salvador deles"

João Lourenço, que discursava esta quarta-feira (27.07) na cidade do Sumbe, capital da província do Cuanza Sul, no âmbito da campanha eleitoral, realçou a presença na Praça da República, em Luanda, e em toda as províncias, nos sete dias de óbito, dos "angolanos de uma forma geral, dos partidos políticos, da sociedade civil, até estrangeiros, os diplomatas", que "de forma ordeira" foram prestar homenagem a José Eduardo dos Santos.

"Vocês viram alguns desses que foi salvo por José Eduardo do Santos a ir prestar homenagem a quem lhes salvou? Eu não vi ninguém. Então, que tipo de gente é essa? Não foram prestar homenagem ao salvador deles", referiu João Lourenço, que concorre a um segundo mandato.

O ex-Presidente angolano faleceu a 08 de julho, em Barcelona, tendo o Governo angolano decretado óbito de sete dias, período em que várias pessoas prestaram homenagem ao presidente emérito do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) recusou-se a prestar homenagem a José Eduardo dos Santos na ausência dos restos mortais de José Eduardo dos Santos, que estão a ser disputados em Espanha entre duas alas da família do ex-Presidente e o Estado angolano.

Deutsche Welle | Lusa

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