sexta-feira, 29 de julho de 2022

Angola | TRATAMENTO DESIGUAL E PREJUDICIAL – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Os vazios de infirmação fazem mal à sociedade. E ainda pior ao regime democrático. Por isso os Media são tão importantes. E é garantida a liberdade de expressão. Esta parte é mais complicada, porque as formas modernas de censura passam despercebidas aos cidadãos comuns e são armas terríveis nas mãos de poderes ilegítimos, que não se submetem a eleições. Nas autoestradas da comunicação circulam milhares de milhões de fragmentos de informação. É o bombardeamento informativo. Para distinguir informação de propaganda ou falsas notícias é preciso fazer um doutoramento.

A censura do antigamente consistia em cortar, esconder, manipular, arrasar a mensagem informativa na sua essência. Hoje é o contrário. Os consumidores são inundados com milhões de mensagens que nada valem. E no meio do lixo vem o que interessa. É assim como uma onda gigante que se despedaça contra os rochedos e depois é preciso procurar nos destroços o que é mesmo informação. Só as “mãos autorizadas” pelos poderes ilegítimos podem soltar a onda. Depois cada qual procura o que lhe interessa. Para não encontrarem nada, os consumidores levam com doses maciças de entretenimento e lá se vai tudo na corrente e nas marés de lixo.

 Os jornalistas deixaram de fazer o seu papel de mediadores entre o acontecimento e os consumidores. Aderiram também à censura moderna, comem nas mãos dos donos e vestem os trajes luminosos do entretenimento. Por isso, a democracia está cada vez mais débil e são os poderes ilegítimos que definem os seus valores e sobretudo os seus limites. Agora o golpe de teatro.

Angola é uma espécie de oásis neste deserto informativo. As “mãos autorizadas” não existem. O bombardeament6o informativo ainda é uma espécie de tiro de canhangulo e o que sai de cada descarga são meia dúzia de fragmentos inócuos, não fazem sangue. São facilmente legíveis. Directamente assimilados pelos consumidores. A propaganda também existe, mas em menor quantidade e sobretudo mal feita. Ninguém se deixa levar pelos quadros desenhados por propagandistas sem ofício nem oficina.

Agora o xeque-mate. Neste quadro, o Executivo sai altamente prejudicado. Porque paga milhões e nada recebe em troca. Fica com a fama de controlar os Media públicos e daí não tira qualquer benefício. Pelo contrário, fica mal visto. Se só conseguem fazer arremedos de propaganda, ficam mais baratos se fecharem ou estiverem quietos. 

Para tudo correr bem, a TPA passa enlatados, a RNA emite aqueles milhares de horas da música popular recolhida em todas as regiões do país, desde os anos 60, ou música clássica fornecida gratuitamente no espírito do intercâmbio entre estações. Em 1975, deixei na cave mais de mil horas de música sinfónica, interpretada pelas melhores orquestras do mundo. E ficou tudo organizado pela fabulosa Minah Jardim.

O Jornal de Angola faz falta porque a Imprensa, segundo Agostinho Neto, “é o rascunho da História”. Mas é urgente enviar a maioria de quem colabora na página de Opinião para a escola primária. Se conseguirem aprender a fazer redacções e não derem erros nos ditados, depois das eleições voltam. As províncias produzem excelente material. Mas nos rochedos que são todas as páginas, as notícias batem, desfazem-se e ninguém consegue ler. Tragédia! 

Pelo que tenho visto na TPA, ouvido na RNA e lido no Jornal de Angola o MPLA está a ser altamente prejudicado. Gravemente prejudicado! Vou dar um exemplo muito simples. 

O cabeça de lista do MPLA, João Lourenço, presidiu a um comício no Sumbe. Escolheu um tom coloquial e no meio lançava mensagens políticas importantíssimas. É uma técnica muito eficaz. A TPA, num dos seus noticiários, passou quatro minutos (uma eternidade em televisão) de conversa amena com os eleitores e nem uma mensagem política! Só no noticiário seguinte emitiu duas mensagens importantes! Mas não as retirou do colóquio. Deixou os pedregulhos onde a informação bateu e se desfez. 

A UNITA realiza actividades de massas. O cabeça de lista do partido, Adalberto da Costa Júnior, opta pelo discurso “concentrado”. A TPA quando faz a cobertura das acções de campanha do Galo Negro apresenta constantemente planos fechados. O que dá a sensação visual de que ele está a falar para milhões! Um truque antigo muito eficaz. Se eu fosse responsável da campanha eleitoral do MPLA já tinha emitido um comunicado protestando contra a forma desigual como os dois partidos estão a ser tratados, com graves prejuízos para o MPLA.

Em plena campanha eleitoral, a UNITA, o Bloco Democrático (que não tem condições para concorrer a eleições) e o partido de Abel Chivukuvu que cabe no bolso da sua camisa, anunciaram uma manifestação de protesto contra a desigualdade de tratamento nos Media públicos! É preciso lata. Os grandes beneficiados sentem-se prejudicados!

Nunca se viu, em plena campanha eleitoral, partidos concorrentes convocarem manifestações de protesto contra os Media. Querem intimidar os jornalistas. Querem descredibilizar o espaço mediático. Querem lançar a confusão. Mas sabem que ao convocarem manifestações de rua, estão a soltar os terroristas do Nélito e do Abel Chivukuvuku. Não são necessárias sondagens para concluirmos que a frente esquinada da UNITA está derrotada logo ao terceiro dia de campanha eleitoral. Feita em pedaços!

Hoje o líder da CASA-CE quis mostrar que a sua organização ainda é a UNITA B e disse no Bengo que a terra é do povo, não é do Estado. Atenção, muita atenção! Eles estão a preparar movimentos de ocupação de terras. Para não deixarem pedra sobre pedra.

*Jornalista

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