sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Portugal | O POVO SAI À RUA PARA COMEMORAR O 25 DE NOVEMBRO?

Av. da Liberdade. Praça dos Restauradores, Lisboa

Pedro Tadeu* | Diário de Notícias | opinião

Se há alguns anos para cá, sempre que passa a data 25 de novembro, um conjunto de personagens de direita aparece a tentar fazer equivaler o golpe desse mesmo dia, ocorrido em 1975, com a Revolução iniciada no dia 25 de Abril de 1974 pelo Movimento das Forças Armadas. Há mesmo quem reivindique que se declare a data como feriado nacional.

É curioso reparar que esta tentativa de fazer ascender o valor político, social e cívico do 25 de novembro ao nível do 25 de abril começou a criar tração simultaneamente com a ascensão de duas novas forças políticas de direita: a Iniciativa Liberal e o Chega.

Antes disso, do ponto de vista partidário, é verdade que PS, PSD e CDS sempre defenderam a importância do 25 de novembro para a construção da democracia portuguesa, mas nem o CDS, então o partido mais à direita com representação parlamentar, se atrevia a fazer declarações públicas significativas que nivelassem o 25 de novembro à mesma altura de importância para o país que tem o 25 de abril.

Esta alteração qualitativa corresponde, portanto, a duas estratégias políticas: do lado da Iniciativa Liberal serve para tentar valorizar o seu papel como líder na direita "civilizada" na denúncia do "comunismo" ou do "socialismo", tentando assim tirar esse papel ao PSD; do lado do Chega serve para desqualificar o processo da construção democrática do país, bem como da classe política dali saída, para alegria dos seus militantes mais caceteiros ou mais salazaristas.

Portugal | O grito de revolta dos estudantes por um ensino público "de qualidade"

Semana foi de luta estudantil por todo o país, com concentrações e manifestações de alunos do Ensino Secundário público. Pedem mais professores, funcionários, psicólogos e obras nas escolas degradadas. E temem pelas desigualdades no acesso ao Ensino Superior.

“Sabemos que é possível termos uma escola com os professores, funcionários e psicólogos suficientes, em que somos avaliados de uma forma justa, onde a comida é de qualidade, onde não temos de passar frio no inverno." O desejo, em tom de desabafo crente de quem recusa abdicar de uma causa, é dos alunos do Movimento Voz aos Estudantes, que esta semana organizaram várias ações de protesto de norte a sul do país, com "apitões" e concentrações, bem como "fotoprotestos" (fotografias em que os estudantes expõem as condições degradadas de algumas escolas) em defesa da escola pública no Secundário.

Ao Diário de Notícias, Marta Vasco, aluna da Escola Secundária Sebastião e Silva, Oeiras, explica que o movimento nasceu no ano passado e deu "frutos". "O movimento surgiu da necessidade de lutar pelos nossos direitos e de sabermos que tínhamos de fazer algo. Este movimento é uma forma de chegarmos a mais estudantes. No ano passado conseguimos, por exemplo, o fim da semestralidade em algumas escolas e também que fossem feitas algumas obras", explica. A aluna acredita que estas "vitórias" têm levado a que cada vez mais alunos se juntem ao movimento e destaca as ações da passada segunda-feira, em Oeiras e Cascais, que juntaram mais de duas centenas de jovens.

"Estamos todos a lutar por uma escola pública de qualidade e para resolver questões que diferem de escola para escola. Em algumas são necessárias obras, noutras são professores, funcionários ou psicólogos", sublinha.
Marta Vasco lamenta a falta de professores em disciplinas sujeitas a exame nacional e entende que este problema causa injustiças no acesso ao Ensino Superior. "Na minha escola não há essa questão, mas ainda há alunos que não têm professores para certas disciplinas e isso mostra a necessidade que há de contratação de mais professores. Estamos preocupados porque os estudantes que não têm professor vão fazer o mesmo exame dos colegas que não tiveram essa dificuldade. Há um sentido de urgência ainda maior para resolver este problema. É injusto irem a exame sem terem tido iguais condições."

A aluna conta ainda que o Movimento Voz aos Estudantes pretende uma maior aposta na Educação Sexual, que vá para além dos alertas sobre doenças sexualmente transmissíveis e se centre também "em temas mais abrangentes, como a violência no namoro, a educação emocional e as problemáticas da adolescência". "É essa Educação Sexual que não nos é dada e que reivindicamos."

A "falta de psicólogos nas escolas" é outra das principais preocupações dos alunos do Ensino Secundário. Marta Vasco entende que "a escola não está lá para os estudantes, quando há estabelecimentos com uma psicóloga para mil alunos". "Não é possível oferecer apoio a quem precisa com tão poucos psicólogos", conclui.
A estudante acredita que as ações de protesto do Movimento Voz aos Estudantes mobilizam "milhares de alunos a nível nacional". As ações de protesto terminam hoje com uma concentração na Escola Secundária Pedro Alexandrino, na Póvoa de Santo Adrião (às 10.10) e um Fotoprotesto, na Escola Secundária de Casquilhos, no Barreiro.

TRÊS TRISTES CRISES NUMA SÓ... FORA O RESTO!

A crise em 3 ângulos: os que são obrigados a fugir das cidades; os que não têm aumentos em ano de inflação; o preço recorde dos alimentos

Martim Silva, diretor-adjunto | Expresso (curto)

Bom dia,

É sexta-feira e já tem disponível a edição semanal do Expresso, em versão papel e digital. Na primeira página do jornal desta semana temos vários ângulos e abordagens relacionados com a crise; temos uma reportagem na Roménia, país que se prepara para ultrapassar Portugal em termos de riqueza; temos também uma edição já muito virada para a quadra natalícia, com mais de uma centena de sugestão de prendas.

Venha daí comigo


PRIMEIRO CADERNO

Roménia. Onde viver bem “é possível, mas muito limitado”
Os números mostram um crescimento consistente, mas que não é sentido por todos. A corrupção é um problema, apesar das melhorias sentidas. Que tem, afinal, este país que está a apanhar Portugal na economia (mas ainda fica muito atrás nos índices de desenvolvimento)?
Governo: Estabilidade? Costa mexeu em 18% da equipa em cinco meses
Remodelação. Costa fez questão de recrutar o adjunto dentro do Governo. Ministro da Economia sai reforçado, mas sem margem de erro

Eutanásia. Quando a morte entra no consultório
Médicos contam como receberam e recusaram pedidos de eutanásia de doentes

Quase 60 mil pessoas forçadas a deixar Lisboa (e Porto) em três anos
Preço das casas afasta jovens e classe média e baixa. Perfil dos moradores está a mudar. Um quarto dos novos residentes veio do estrangeiro. Porto vive fenómeno semelhante

Cabaz de alimentos atinge novo recorde
Para comprar o mesmo conjunto de 63 produtos essenciais é preciso gastar mais 35 euros do que há nove meses.

Rede de tráfico humano teria informador na Autoridade para as Condições do Trabalho
Organização criminosa tinha uma cúpula e grupos familiares organizados que dividiam tarefas, lucros e vítimas. Portugueses davam apoio jurídico e logístico

Ambiente. Portugal perdeu 13 km2 de costa em 62 anos
Entre a praia de Cortegaça e a do Furadouro (Ovar) houve pontos de recuo máximo de 160 metros; entre as praias de Ofir e Pedrinhas/Cedovém (Esposende) o recuo máximo chegou aos 40 metros, e entre a praia da Cova-Gala e a Costa de Lavos (Figueira da Foz) chegou aos 90 metros em 20 anos

Bem-estar animal na Constituição está em risco
PSD não garante aprovação de revisão constitucional.

Guerra na Ucrânia, uma reportagem exclusiva do Expresso.
Para que a sopilka não deixe de soar nas trincheiras
Resistência NATO promete não abandonar um país que a Rússia quer condenar a um inverno às escuras e ao frio

Investigação. Mercenários de Putin roubam diamantes em África
O Wagner Group rouba e exporta diamantes da República Centro-Africana. Uma investigação EIC, com o All Eyes on Wagner e com o Dossier Center

Mundial 2022. O adepto vai para a cama com a desordem
Por fora, são contentores autênticos. Por dentro, quem lá pernoita não se queixa das condições, mas sim da desorganização que envolve as zonas oficiais da FIFA para alojar adeptos no Catar
A reportagem do nosso enviado, Hugo Tavares da Silva

O ‘FASCISMO DE PANTUFAS’ PROPAGA-SE A LESTE, NA UE, E JÁ MORA NA NATO*

STEVEN FORTI: “A EXTREMA-DIREITA QUER ESVAZIAR A DEMOCRACIA RADICALIZANDO A DIREITA TRADICIONAL E A OPINIÃO PÚBLICA”

O historiador italiano considera contraproducente chamar fascista a Giorgia Meloni, mas assume que o objetivo da nova presidente do Conselho de Ministros italiano é criar uma aliança estável entre a direita tradicional e a extrema-direita, radicalizar a opinião pública e fragilizar a separação de poderes.

João Biscaia* | Setenta e Quatro | entrevista

Depois de Varsóvia e Budapeste, Roma. Passados 99 anos e 11 meses da marcha de Benito Mussolini e dos seus camisas negras sobre a capital italiana, a extrema-direita garantiu o seu regresso ao poder pela via eleitoral. A coligação, que juntou Giorgia Meloni, Matteo Salvini e Silvio Berlusconi, venceu as eleições para o Parlamento Italiano com 44% dos votos. Meloni, da escola pós-fascista do Movimento Social Italiano (MSI), tornou-se a primeira mulher presidente do Conselho de Ministros italiano.

Desta vez, por enquanto, não há “fasci di combattimento” para reprimir piquetes de greves. Para Steven Forti, historiador natural de Trento, no extremo norte da península italiana que já foi austríaco, as batalhas serão culturais e travadas “no campo legislativo”, para “reforçar até onde for possível os poderes executivos”  e “debilitar a separação dos poderes”. O objetivo é a consolidação do poder sem oposição, esvaziando a democracia pelo caminho. 

Forti considera que o desgaste político e mediático de Salvini e Berlusconi foram centrais para a ascensão de Meloni, cuja inteira participação política havia sido feita até aqui nas bancadas da oposição. Entre outros fatores, como a radicalização da direita tradicional e a normalização dos discursos de extrema-direita na opinião pública, o historiador nota uma tendência: “nunca houve tantas mulheres líderes de extrema-direita”.

Mais que uma limpeza de imagem, Forti considera esse fenómeno um “parasitismo ideológico”, a apropriação tática de uma bandeira progressista para reforçar posturas islamofóbicas e anti-imigração. Esta e outras abordagens populistas espalharam-se pela Europa, construindo um manual de ação política comum às ultradireitas do velho continente. “O Vox e o Chega podem beneficiar desta onda criada pela vitória de Meloni”, avisa Forti em entrevista ao Setenta e Quatro, lembrando que a esquerda tem sido “incapaz de criar um projeto que se ligue às populações”.

United King | Como os cortes de saúde mental de Jeremy Hunt alimentaram o terrorismo

Phil Miller* | Declassified uk - 22 de novembro de 2022

A guerra do governo conservador na Líbia e seus cortes nos serviços de saúde mental em casa se combinaram para colocar o público britânico em maior risco de terrorismo, disseram os organizadores da comunidade em Manchester ao Declassified.

#Traduzido em português do Brasil

- Cada vez mais evidências ligam problemas de saúde mental ao terrorismo

- O assassino do parque de Reading, Khairi Saadallah, foi "decepcionado" pelos sistemas de asilo, assistência social e justiça criminal

- A polícia britânica permitiu que adolescentes lutassem na guerra da Líbia, mas as autoridades não lhes deram nenhum cuidado psicológico no retorno

Os organizadores comunitários em Manchester dizem que a política externa agressiva de David Cameron expôs uma geração jovem de líbios na Grã-Bretanha à violência extrema. E sua agenda de austeridade – zelosamente implementada por Jeremy Hunt como Secretário de Saúde – os deixou sem apoio psicológico para tratar de seus traumas.

O alerta ocorre em meio ao retorno de Hunt à linha de frente da política como chanceler, com uma nova rodada de cortes de gastos anunciada na semana passada.

Declassified falou com Abdul-Basit Haroun, que costumava presidir um grupo da comunidade líbia em Manchester. Ele participou do levante contra o coronel Muammar Gaddafi em 2011, que o governo de Cameron apoiou com ataques aéreos e botas no chão. 

Haroun nos disse que a polícia britânica permitiu que os pais levassem seus filhos adolescentes para lutar na Líbia – criando problemas em seu retorno.

“As crianças combatentes sofriam de doenças mentais causadas pela guerra”, afirmou Haroun, falando por meio de um intérprete. “Vou dar-vos um caso real: três jovens que vieram do Reino Unido para a Líbia no início da revolução, com idades compreendidas entre os 14 e os 17 anos. 

“Quando entramos no complexo de Gaddafi, os encontramos algemados a cadáveres [de combatentes] deitados em cima deles. Um dos meninos parou de falar por semanas depois disso. E quando esses meninos voltaram para o Reino Unido, ninguém lhes deu tratamento. Ninguém se importava com eles.”

EUA PARALISADOS PELA GUINADA ESTRATÉGICA DO IRÃO

Pepe Escobar [*]

O parlamento do Irão acaba de aprovar a adesão da República Islâmica à Organização de Cooperação de Xangai (SCO), anteriormente consagrada na cimeira de Samarcanda em Setembro último, marcando o culminar de um processo que durou nada menos do que 15 anos.

O Irão já se candidatou a membro do BRICS+ em expansão, que antes de 2025 estará inevitavelmente configurado como a alternativa que realmente importa ao G20 Global Sul.

O Irão já faz parte do Quad que realmente importa – juntamente com membros dos BRICS, Rússia, China e Índia. O Irão está a aprofundar a sua parceria estratégica tanto com a China como com a Rússia e a aumentar a cooperação bilateral com a Índia.

O Irão é um parceiro-chave chinês nas Novas Rotas da Seda, ou Iniciativa Cinturão e Estradas (BRI). Está decidido a concluir um acordo de comércio livre com a União Económica da Eurásia (EAEU) e é um nó chave do Corredor Internacional de Transportes Norte-Sul (INSTC), juntamente com a Rússia e a Índia.

Tudo isto configura o emergir da República Islâmica do Irão à velocidade de relâmpago como grande potência da Ásia Ocidental e da Eurásia, com vasto alcance por todo o Sul Global.

Isto deixou na poeira todo o conjunto de "políticas" imperiais em relação a Teerão.

Por isso, não é de admirar que as vertentes anteriormente acumuladas da iranofobia – alimentadas pelo Império ao longo de quatro décadas – se tenham recentemente metastaseado em mais uma ofensiva de revolução colorida, totalmente apoiada e divulgada pelos media anglo-americanos.

A cartilha é sempre a mesma. O líder da Revolução Islâmica, Ayatollah Seyyed Ali Khamenei, chegou de facto a uma definição concisa. O problema não são os bandos de amotinados inconscientes e/ou mercenários: "a principal confrontação", disse ele, é com a "hegemonia global".

O Ayatollah Khamenei estava de certa forma a refletir o intelectual e autor americano Noam Chomsky, o qual observou como uma série de sanções dos EUA ao longo de quatro décadas prejudicaram gravemente a economia iraniana e "causou enorme sofrimento".

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